terça-feira, 21 de julho de 2009

Colecionar insetos aguça interesse pela ciência

01/05/09 - 07h30 - Atualizado em 01/05/09 - 07h30

Colecionar insetos aguça interesse pela ciência, dizem pesquisadores
Especialistas questionam leis rígidas que proíbem a prática no Brasil.
Coleta de insetos é permitida apenas para fins científicos.

Capturar e colecionar insetos em casa pode ser uma boa iniciação para futuros cientistas.
Essa é a opinião do renomado entomólogo (especialista em insetos) Ângelo Machado. Médico, ambientalista e escritor de livros infantis, ele já descreveu dezenas de novas espécies, e começou a carreira acumulando os pequenos bichos. “Na Europa toda é uma tradição das crianças ir para o mato [para coletar insetos]. Lá há sociedades amadoras de entomologia”, afirma.

Na última quarta-feira (29), o Globo Amazônia mostrou que vários sites internacionais vendem insetos brasileiros na internet. Os comerciantes virtuais afirmaram que seus bichos são criados em fazendas, mas um deles confirmou que parte dos insetos era coletada na natureza, o que é proibido por lei no Brasil, e pode levar à prisão.




Cientistas defendem que captura e venda de insetos para colecionadores deveria ser uma atividade permitida e regulamentada. (Foto: Iberê Thenório/Globo Amazônia)
Para muitos especialistas, a legislação é rígida demais, e não condiz com outras regras ambientais. “Ninguém precisa ser acadêmico para solicitar a permissão para fazer uma derrubada ou um incêndio controlado, mas essa mesma pessoa não pode fazer uma coleta de insetos em uma área que irá desaparecer legalmente em breve”, afirma o pesquisador Fernando Vaz-de-Mello, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em besouros.

Ele também defende a importância das coleções particulares de insetos. “Crianças são
colecionistas por excelência. Se são proibidas de fazer isso como brincadeira, terão muito menos estímulo para observar o meio natural”, argumenta.

Venda controlada
Para ambos os pesquisadores, a venda de insetos é uma atividade que, regulamentada, poderia trazer bons frutos à ciência e a comunidades locais. “Se não é bicho originado em unidade de conservação [parque ou reserva], que conste em lista de espécie ameaçada, poderia vender, sim. Inclusive isso poderia ser institucionalizado, credenciando gente séria para fazer”, diz Ângelo Machado.

Segundo o entomólogo, a captura de insetos oferece pouco perigo para as espécies. “Não se pode coletar os que estão ameaçados. O resto pode”, defende o cientista, que ajudou a formular a lista brasileira dos animais ameaçados de extinção. Vaz-de-Mello, que também participou da criação da lista, vai mais longe: “Regulamentada a atividade [de captura de insetos], poderia se tornar uma fonte de renda alternativa para as comunidades do entorno de áreas de conservação e de outras zonas bem conservadas, e uma forte aliada na luta contra o desmatamento e a degradação ambiental.”

Coleções científicas
Para os pesquisadores, as coleções particulares não são úteis apenas para crianças. “As maiores coleções entomológicas do Brasil são de amadores”, diz Machado, que afirma possuir a segunda maior coleção de libélulas do país, com 25 mil bichos. Segundo Vaz-de-Mello, os acervos amadores também podem contribuir para o estudo das espécies. “Coleções particulares constituem um acervo científico que dificilmente, e a elevados custos, seria obtido por instituições oficiais.
Frequentemente, seus donos são pesquisadores ‘de fim de semana’, produzindo importantes publicações sobre os insetos de sua especialidade. Ciência básica, sem custos para outras instituições”, defende.

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