quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Venenosas sedutoras - Botânica

VENENOSAS SEDUTORAS - Botânica


Há milênios, as frutas silvestres servem de alimento, conservantes, poções afrodisíacas e ornamentos. Mas muitas delas, apesar da aparência convidativa, são venenos letais.


Natural das regiões quentes da Europa e da Ásia, a briô-nia lembra uma de suas parentas comuns no Brasil, a melancia. Ambas pertencem à família das cucurbitáceas e têm forma parecida, espalhando-se como trepadeira pelas árvores ou pelo chão. Embora pareça comestível - até mais apetitosa que a melancia -, a briônia é uma das muitas frutas silvestres perigosas. Entre as folhas largas e as pequenas flores alvas, seus frutos vermelhos e brilhantes, não maiores que 5 centímetros, têm forte gosto amargo, causado por substâncias que os químicos classificam como resinas e saponinas. Além disso, contêm toxinas que, se não são mortais na maior parte dos casos, atacam a flora intestinal com violência. A diarréia resultante pode se tornar letal pela forte desidratação que acarreta. 
Nem todas as plantas silvestres são perigosas. Como não precisam de cultivo, crescem e se reproduzem onde quer que existam condições adequadas, e desde tempo imemorial têm servido ao homem. Algumas, por serem bonitas, são usadas como ornamento. Outras têm utilidade como conservantes para alimentos, e existem as que se transformam em tintas, inseticidas, poções afrodisíacas e psicotrópicas ou até mágicas, como querem crer algumas pessoas. 
As plantas comestíveis são as que despertam maior interesse, e por isso exige cuidado escolher a planta certa. Há vegetais com dupla personalidade, que são maléficos, apesar de servirem como alimento ou ornamentação, por exemplo. Do ponto de vista biológico e botânico, frutas danosas geralmente são bagas. Ou seja, são carnosas e, ao contrário de outras classes de frutos, não se abrem ao amadurecer - característica que se denomina indeiscência. Um caso típico é o to-mate, que não é venenoso. Outro traço marcante é a casca muito lisa, mas que engrossa e se colore com tonalidades vi-vas ao amadurecer. Ingerir um pedaço de tais plantas pode levar à morte. 
A briônia está entre as mais agressivas - além de diarréia, ela causa vômito, dilatação das pupilas, palpitações, sufocação, dor de cabeça e fraqueza. Ao lado dela, porém, pode-se listar mais de 100 espécies, que se encontram facilmente, num passeio pelo campo. O azevinho é um exemplo conhecido, pois é comum vê-lo na porta das casas, no final do ano, pois é um dos mais tradicionais enfeites natalinos. E de tão procurado, hoje se encontra em risco de extinção. Também o medronho, um arbusto europeu, ganhou fama como ornamento: ao lado do urso, é o símbolo da capital espanhola, Madri. 
Mas não só por isso: seus frutos, que lembram um pouco o morango e são comestíveis, de excelente sabor, podem levar a uma bebedeira inesquecível, se ingeridos em excesso. A família que abriga, talvez, maior quantidade de plantas venenosas é a das solanáceas. Esta inclui a inofensiva batata, ou o tomate, mas também o tóxico tabaco e a terrível dulcamara, que ataca o coração e danifica o sangue. 
Outra planta que ataca o coração - e desta vez de modo fulminante - é o teixo. Tanto que pode ser usado para fazer flechas envenenadas. Raro no Brasil, ele era usado com esse fim, desde épocas remotas, pelos guerreiros da etnia basca, estabelecida em grande parte na Espanha. Muito antes disso, o teixo entrara para a mitologia como a própria arma das Fúrias - ou Erínias, as deusas da vingança entre os gregos. Naturalmente, a melhor política é manter-se afastado de qualquer acepipe silvestre, por mais que pareça tentador. Como sempre nesses casos, só quem conhece, sabe se há ou não risco. Havendo intoxicação, a única providência segura é procurar um médico, embora existam medidas de emergência que podem ser úteis em algumas circunstâncias. O envenenamento pela dulcamara, por exemplo, requer lavagem estomacal urgente, acompanhada de reidratação. Mais ou menos o mesmo vale para a briônia: os primeiros socorros consistem em provocar o vômito e fazer lavagem estomacal. 

Azevinho

Ilex aquifolium 

Natural do hemisfério norte, é um arbusto da família da erva-mate. Contém ilicina, um veneno, capaz de provocar a morte com a ingestão de apenas vinte frutas. Sonolência, vômitos e diarréia aparecem duas horas depois

Briônia
Bryonia dioica
Chamada popularmente de "uva da serpente", é uma trepadeira cujos frutos e raízes contêm venenos fortes. Supõe-se que o óleo das sementes seja psicotrópico. Parente da abóbora e do melão

Zimbro-anão
Juniperus nanum
Ligeiramente tóxico por conter alcalóides. Da estrutura suculenta que envolve as sementes destila-se a genebra, um tipo europeu de aguardente. No Brasil, põem-se grãos de zimbro nas garrafas de aguardente. Também é usado para evitar queda de cabelo. Da família do pinheiro-do-paraná 

Espinheiro-branco
Crataegus monogyna 
Dá frutos de agradável sabor, seja em consumo direto, em conserva ou misturados com outras espécies. Tem venenos fracos na casca. As folhas são comestíveis, e os espinhos, segundo a crença popular, afastam os raios se colocados entre os dentes durante uma tempestade

Madressilva-vermelha 
Lonicera caprifolium
Todas as madressilvas são tóxicas em maior ou menor grau. Recentemente se descobriu que, além da saponina, elas contêm nicotina, ambas perigosas para a saúde. Já se supôs que seus frutos deixavam impotentes os adúlteros. Perfumada, pertence à família da dama-da-noite

Viburno
Viburnum tinus
Uma das plantas silvestres mais comuns, no mundo inteiro. Os frutos desse arbusto contêm viburnina, um tóxico violento. As folhas, convertidas em uma espécie de tabaco, são usadas como psicotrópico 

Trovisco-macho
Daphne laureola
Abundante em matas de montanha, como a Mata Atlântica e os Pireneus, na Europa. Conta-se que os árabes usavam-no como afrodisíaco. Mas ninguém sabe como o ingeriam com esse fim, pois toda a planta é venenosa

Teixo
Taxus baccata
Árvore robusta e tosca, possui substâncias muito venenosas em todas as suas partes, e seu princípio ativo, a efedrina, fulmina o coração. Natural das regiões de clima temperado, dá bagas outonais em que uma semente de tom castanho-escuro é recoberta de uma capa carnosa de cor escarlate

Medronho
Arbustus unedo 
Abundante nas matas da Europa meridional, cobre-se de flores e frutos ao mesmo tempo, em dezembro e janeiro. A embriaguez que provoca é uma forma de intoxicação causada apenas por frutas muito maduras, cheias de açúcares que, fermentados, se transformam em álcool

Ameixeira-silvestre
Prunus spinosa 
De porte rasteiro, da mesma espécie das ameixas, suas toxinas se encontram nas folhas. Com os frutos, comestíveis e muito ricos em vitamina C, se faz o pacharán, um licor de origem espanhola

Dulcamara
Solanum dulcamara
"Uvas traidoras" foi como o grego Teofrasto (372 a.C. - 287 a.C.) chamou suas frutas. O motivo são substâncias como a solanina, que destroem glóbulos vermelhos do sangue, e atuam como depressivos e excitantes do coração

Rusco
Ruscus aculeatus 
Arbusto de até 1 metro de altura, caule muito ramificado e frutos de 1 centímetro e meio, possui curiosos tecidos parecidos com folhas, que na verdade são caules modificados. Não é certo que seja tóxico. Age como vasoconstritor e ativador da circulação em tratamento de celulit.


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