terça-feira, 20 de janeiro de 2015

2015, três odisseias no espaço


2015, três odisseias no espaço


Ano será marcado pela expansão das fronteiras humanas, em missões a Plutão e asteroides

Este será, definitivamente, um ano emocionante para os amantes da astronomia. Diferentes sondas chegarão, pela primeira vez, aos arredores de Plutão, retornarão de jornadas de estudos em asteroides e aportarão novos dados sobre a formação dos cometas. São odisseias no espaço que, além de ampliar as fronteiras da presença humana, têm por objetivo agregar mais peças ao ainda fragmentado mosaico de conhecimentos sobre a origem do universo.

Quando lançada, há exatos nove anos, em 19 de janeiro de 2006, a sonda New Horizons pretendia chegar mais perto do que nunca do último planeta do Sistema Solar. Desde então, muita coisa aconteceu na Terra — e na nossa maneira de classificar os vizinhos. Plutão foi “rebaixado” a planeta anão. Mas a mudança de categoria não altera os planos da equipe da Nasa liderada pela pesquisadora Cathy Olkin.

— A New Horizons vai revolucionar nossa compreensão do Sistema Solar e proporcionar um olhar de perto de Plutão e suas luas. A região que será estudada nunca foi vista assim tão próxima. A mudança de status não alterou nada. Temos os mesmos objetivos científicos e os mesmos planos para investigar a geologia, a composição e a atmosfera de lá. Plutão ainda não ganhou uma investigação científica.

VIAGEM AO CINTURÃO DE KUIPER

Ao estudar o misterioso Plutão, descoberto há 85 anos, os cientistas esperam entender também peculiaridades de outros planetas anões e objetos rochosos do nosso sistema. Como os do Cinturão de Kuiper, um conjunto de milhares de corpos celestes localizado para além de Netuno (a mais de 30 UAs, ou unidades astronômicas; cada UA equivale à distância média do Sol à Terra). Espera-se que a New Horizons chegue ao cinturão por volta de 2020. Pelo menos um dos objetos catalogados ali, Éris, tem diâmetro maior que o de Plutão.

No final da semana passada, a mais de 170 dias da aproximação máxima da New Horizons, prevista para 14 de julho, a Nasa anunciou que já começou a analisar a poeira e o plasma nas proximidades de Plutão. As primeiras imagens devem ser divulgadas nas próximas semanas.

— Não sabemos bem o que vamos encontrar, pois as nossas melhores observações telescópicas não revelam muito além de uma imagem difusa — afirmou a pesquisadora americana.

Para o professor Rundsthen Vasques de Nader, astrônomo do Observatório do Valongo, da UFRJ, a missão é uma importante lacuna a ser preenchida:

— O nosso sistema é um enorme quebra-cabeças. A ideia dessas expedições é preencher as principais lacunas a fim de compreendermos como a vida surgiu. Plutão é uma peça importante e sobre a qual temos pouca informação. As imagens que temos são do (telescópio) Hubble, sem boa definição.

Mais perto de trazer novas informações, a sonda Rosetta, que, em 2014, chegou a se ligar a um cometa para estudá-lo após uma década de viagem, verá seu módulo Philae, em hibernação por ter estacionado numa área sombreada, voltar à ativa. Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), entre fevereiro e março a luz solar voltará a carregar as baterias do módulo, propiciando o envio de preciosas informações sobre o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko.

— As primeiras imagens que tivemos de Rosetta mudaram completamente nossa visão sobre cometas. A definição era de que eram bolas de gelo e que, por isso, seriam os principais responsáveis pela água em outros corpos. Mudou tudo. A superfície não é como esperávamos. Mas temos que investigar mais. Quem garante que esse não é um cometa excepcional? — questiona Nader.

Outra missão que busca compreender a estrutura interna de um corpo celeste é a Dawn. Lançada em 2007, pela Nasa, a iniciativa terá sua última etapa este ano, quando deverá se ligar a um segundo asteroide, o Ceres — o primeiro analisado foi o Vesta, em outubro de 2011. Ao estudar a composição e a massa desses corpos, os pesquisadores poderão compreender melhor sua formação e sua relação com outros encontrados na Terra. A acoplagem de Dawn em Ceres está prevista para o próximo mês, e a “visita” deve durar até julho. A sonda continuará na órbita do asteroide.

‘POUSO’ DA CHINA NA LUA

Além das “três mais”, outras missões já em andamento, como a da sonda Voyager 1, da Nasa, que ultrapassou os limites do Sistema Solar no ano passado, podem surpreender enviando dados sobre corpos celestes e fenômenos pouco compreendidos. E a China, superpotência na Terra que espera ampliar seu quinhão também no espaço, já anunciou plano de investir mais no seu programa de exploração da Lua, com a sonda Chang’e 4, que deve pousar no nosso satélite em meados deste ano.

Os custos dessas missões são igualmente cósmicos. Só a sonda Dawn custou US$ 446 milhões, cerca de R$ 1,16 bilhão. Já a Rosetta saiu por € 220 milhões, aproximadamente R$ 670 milhões. O mais alto dos três é o New Horizons: US$ 700 milhões (R$ 1,8 bilhão). Mas o retorno para a sociedade, segundo os cientistas, vai muito além das descobertas espaciais.

— Cada missão dessas é um novo passo e precisa de uma nova tecnologia. Esses equipamentos são usados e adaptados para a nossa realidade e mudam o nosso cotidiano. É um retorno que não se limita ao fim da missão — afirma Nader.

Para o professor, a expansão de fronteiras é inerente à civilização humana:

— A Humanidade nunca fica acomodada no seu canto. O que motivou as grandes navegações? O que propiciou as enormes descobertas científicas no Iluminismo? É a angústia do homem de querer saber sempre mais. Nesse sentido, 2015 é um ano importante porque finalizará e verá o início de novas etapas de projetos exploratórios de longo prazo.



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