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domingo, 28 de julho de 2019

Estrela que orbita gigantesco buraco negro apoia teoria de Albert Einstein

Estrela que orbita gigantesco buraco negro apoia teoria de Albert Einstein

Modelo visual da estrela S0-2, a mais próxima de um gigantesco buraco 
negro no centro da Via Láctea — Foto: Divulgação/National Science Foundation

Astro S0-2, com dez vezes a massa do sol está à beira do negro Sagittarius A*, no centro da Via Láctea, a 26 mil anos-luz da Terra.

sábado, 8 de junho de 2019

Nasa abrirá Estação Espacial Internacional para turistas a partir de 2020

Nasa abrirá Estação Espacial Internacional para turistas a partir de 2020

Estação Espacial Internacional — Foto: NASA/Arquivo


A Nasa informou nesta sexta-feira (07/06/2019) que permitirá a hospedagem de cidadãos na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) pelo período de um mês.

sábado, 27 de maio de 2017

Lixão a céu aberto - Espaço


Lixão a céu aberto - Espaço


Acabamos de saber que um satélite explodiu, colocando em risco a Estação Espacial Mir. Desculpe, só posso responder às suas perguntas mais tarde." Com esta declaração dramática, o cientista-chefe do Programa de Detritos Orbitais da Nasa, Nicholas Johnson, interrompeu uma entrevista, pela Internet, em setembro. Felizmente, o alarme era falso: o artefato que explodiu era mesmo russo, mas a Mir estava fora de perigo.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Personagens da Marvel estampam uniforme da NASA


Personagens da Marvel estampam uniforme da NASA


Dois personagens da Marvel farão parte do emblema da Estação Espacial Internacional.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Confirmação histórica - há um novo planeta no sistema solar


Confirmação histórica - há um novo planeta no sistema solar 


O anúncio foi feito por um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (o Caltech, na sigla original): trata-se do “Planeta Nove”, um gigante de gelo que orbita o mesmo Sol que a Terra e está para além de Plutão.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Turistas no Espaço


TURISTAS NO ESPAÇO



A 320 quilômetros de altitude, o astronauta James Adamson fotografa a Terra através da janela do ônibus espacial Atlantis. Munidos de equipamentos profissionais, os astronautas têm como tarefa da missão captar imagens do planeta, que depois são distribuídas a cientistas de todo o mundo. Com elas, os cartógrafos podem ver detalhes de regiões já mapeadas, mas nunca esquadrilhadas. Embora amadores, os astronautas têm competência de profissional para fotografar pontos predeterminados, em condições de luz que mudam rapidamente, a bordo de uma nave que viaja 28.000 quilômetros por hora

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Diario de um Cosmonauta - Espaço


DIÁRIO DE UM COSMONAUTA - Espaço



A vida cotidiana, com suas alegria e desconfortos, a bordo de uma estação espacial, nas palavras do cosmonauta russo Valentin Lebedev. Ele permaneceu 211 dias em órbita.

Ao contrário dos americanos que mandam seus astronautas ao espaço em missões que duram não mais de três a quatro dias, os soviéticos apostam há vários anos nas longas permanências, acreditando que isso lhes será útil em futuras viagens a planetas distantes. Atualmente, a estação orbital Mir abriga dois cosmonautas desde setembro do ano passado. Em 1988 Vladimir Titov e Musa Manarov bateram o recorde de 366 dias de permanência no espaço. Antes deles, Valentin Lebedev e Anatoli Berezovoi viveram em órbita da Terra durante 211 dias, a bordo da estação espacial Saliut 7. A missão durou de 13 de maio a 10 de dezembro de 1982. Todos os dias Lebedev anotava suas impressões num diário que seguramente é o mais rico relato pessoal já elaborado sobre a aventura humana além das fronteiras terrestres. O resumo a seguir, traduzido do russo por Serguei Ignatiev, em Moscou, especialmente para SUPERINTERESSANTE, proporciona uma atmosfera completa e divertida do cotidiano de um cosmonauta em serviço.

SETEMBRO 11

É dia de tomar banho. Uma limpeza da cabeça aos pés. Liussia (diminutivo de Liudmila, mulher de Lebedev) e Vitalik (Vital, seu filho) vieram para a sessão de comunicação e parecem bem. Meu filho mostrou pela televisão seu boletim escolar. Só notas altas. Perguntei-lhe se eram valores do trimestre. Disse que não, que são da semana. Parabéns! Que alegria ver e ouvir meu filho. Quem dera tivéssemos uma filha também! Em seguida, fui me lavar. Durante o banho, a velha e calosa pele das plantas dos pés rebentou e despreendeu-se por completo, como a casca de uma batata. Isso porque aqui não andamos apoiados nos pés. Agora eles estão parecidos com os de um recém-nascido: rosados, revestidos de uma fina pele enrugada. Ainda que seja trabalhoso tomar um rápido banho em pleno Cosmo - porque, antes de começar, você deve montar o box, abastecê-lo de água e, depois de se lavar, desmontar, jogar fora a água suja e limpar o invólucro - acho que vale a pena, tamanho é o prazer que dá! Terminado o banho, ponho roupas limpas: camisa, ceroulas e meias. Vestido assim, preparo uma comida quente, saborosa.

SETEMBRO 14

Dia de revisão do "contrato de trabalho": devemos decidir se prolongamos o prazo de permanência no Cosmo. Hoje também estamos realizando experiências geofísicas. Fotografamos os territórios da União Soviética, de Cuba e dos países africanos com os quais temos acordos na prospecção de recursos naturais. Também registramos com a câmera de vídeo o que Iúri Gagárin viu ao dar uma volta ao redor do planeta (em 1961). Tudo como se fosse com os olhos dele, os do primeiro homem que viu nossa Terra do Cosmo. Às 2 da tarde nos fizeram a proposta de continuar o vôo, ou seja, prolongá-lo quarenta dias além do prazo inicialmente previsto. Respondemos que sim, desde que voar mais de duzentos dias não fosse um objetivo em si, quer dizer, desde que o novo prazo se justificasse com trabalho suplementar. Pedimos que nos fossem dadas melhores condições para o cumprimento das experiências e mais autonomia na organização da jornada de trabalho. E que fosse considerada a possibilidade de mais uma saída ao espaço exterior. Argumentamos que isso ajudaria a motivar o corpo para o novo trabalho e melhorar nossa disposição emocional. Responderam que discutiriam com os especialistas. Agora, temos pela frente mais três meses de vôo, perspectiva que, para ser franco, parece dura.

SETEMBRO 18

Hoje o dia é de descanso. Cada um se ocupa de suas próprias coisas. Peguei a câmera para fotografar a estrutura do horizonte da Terra com o visor ótico Puma, que tem um poder de ampliação de quinze vezes. Quero registrar ainda a aurora boreal com um filme em cores, bem como o nascer-do-sol, que é um belo espetáculo. Ao passar por trás da atmosfera, o Sol não tem aquela forma redonda a que estamos tão habituados na Terra. Daqui, parece achatado e, à medida que se levanta no horizonte, vai adquirindo uma forma arredondada, como uma bola sendo inflada. Um fenômeno interessante e empolgante. O horizonte é um arco-íris vivo, com faixas coloridas sendo substituídas por outras, variando em largura, brilho, número de camadas e densidade das cores, fazendo com que a atmosfera pareça um prisma manipulando os componentes do espectro solar para formar uma faixa branca cada vez mais intensa.
A filmagem do Sol comporta um sério problema: com um aumento de quinze vezes, o ângulo de visão é muito pequeno. Sem contar que se é obrigado a usar um filtro de luz que reduz a luminosidade mil vezes, o que dificulta a operação de apontar a câmera para o lugar em que o astro vai nascer. É preciso olhar durante muito tempo pela vigia da nave para mirar bem. Para isso, tive de colocar a camisa sobre a cabeça e nela abrir dois orifícios, como se fosse uma máscara, protegendo assim o rosto e os olhos. Uma vez cheguei a queimar os olhos, que ficaram com a esclerótica coberta por uma película amarela - um horror! - e tive de me tratar com um ungüento especial da farmácia de bordo.

SETEMBRO 20

Acordamos às 5 e 30. Temos a acoplagem com o transportador Progress-15. O encontro com o veículo de carga é sempre um acontecimento emocionante. Nele vêm novos aparelhos, para novos e interessantes trabalhos. Chegam também outras coisas bastante agradáveis: presentes dos companheiros de solo, correspondência de casa, edições recentes de jornais e revistas. Esse veículo em particular é importante porque é o último da nossa missão e é dele que depende a prorrogação da permanência em vôo, pois traz combustível, alimentação e água. Depois da acoplagem, tivemos uma sensação de alívio. O vôo vai continuar. Para nós é habitual dizer "chegou o transportador espacial". Mas como a nave Progress nos localiza no espaço? Como se acopla com a estação? Vou tentar explicar.

Uma vez lançado, o transportador espacial é orientado para a órbita de encontro por manobras comandadas da Terra. A fim de garantir a precisão no momento do encontro, um sistema de radionavegação chamado Igla é ligado quando o transportador chega a 20 quilômetros da estação espacial. Estabelecido o contato de rádio entre a nave e a estação, os dois veículos ficam se falando continuamente, trocando informações sobre velocidade, distância e posição angular. Nós permanecemos como simples espectadores. Quando os propulsores de orientação são ligados, ouvem-se pancadas surdas no casco, como se fosse um tambor. Durante o movimento de rotação para acertar a posição de acoplagem, sente-se uma pequena aceleração, momento em que os objetos que não estão presos começam a voar pela estação. À tarde, recebemos o sinal positivo para abrir a escotilha do veículo de carga. Entramos nele. Ainda bem que não há guardas alfandegários no espaço.

SETEMBRO 21 

Dia de descarga do Progress. Dormi mal. É muito bom estar habituado a esse tipo de trabalho, sabendo por onde começar. É uma operação semelhante ao ato de trinchar um peixe, que você ou pode simplesmente cortar de qualquer jeito e a muito custo, ou dividi-lo da forma certa, rápida e elegante. É o que fizemos com nosso transportador: concluímos o trabalho em apenas um dia, dois antes do prazo programado. E, quando nos disseram que ainda havia cartas numa caixa no fundo do veículo, justamente no local em que existe uma escotilha por onde o lixo é expelido, pus-me a cavar como uma toupeira, afastando as cargas que encontrava no caminho, até alcançar a presa. Fiz esse trabalho sem os óculos de proteção. Torci para que nenhuma farpa metálica caísse nos olhos. Saí do transportador com as cartas, o rosto brilhando de suor e com algumas farpas coladas nele.

Encontramos no pacote de guloseimas mostarda, mel, amêndoas, damasco; nossas mulheres haviam acrescentado ainda caranguejos, caviar, cebola e alho. Mas o melhor é o pão de Tula, enviado por Liudmila. É pena que não temos leite gelado. Ao fim do dia, abrimos um grande e grosso envelope ricamente decorado. Dentro encontramos algumas cartas, uma série de desenhos e propostas relativas a futuras experiências no Cosmo - todas feitas por crianças que participaram de um concurso. Algumas das idéias são bastante curiosas, como a de cortar uma minhoca e verificar se, em órbita, sua pele se regenera. Ou saber se as formigas são capazes de construir um formigueiro no estado de imponderabilidade. Ou então descobrir qual seria a forma de uma pérola feita por um molusco a bordo da estação. Quando acabamos de ler essas cartas, percebemos que as crianças conseguiram realizar seu propósito: nos deixaram desconcertados.

SETEMBRO 23 

Dia reservado a trabalhos de reparação, estando também previsto continuar a mexer no transportador espacial. Substituímos o conjunto de aparelhagens médicas e trocamos a água do reservatório. Não estou com vontade de fazer observações visuais. Sinto cansaço. Meu corpo parece uma mola sem nenhum milímetro de folga e muito tensa.
Vem uma certa apatia. Tudo parece aborrecido. O apetite, entretanto, continua bom, graças a Deus. Lavamos o rosto com lenços úmidos. Escovamos os dentes com uma espécie de dedal coberto por um antisséptico. Você põe no dedo e esfrega os dentes e as gengivas. Uma coisa agradável e cômoda. Também se pode utilizar a escova comum com pasta de dentes, mas aí existe o problema de como enxaguar depois a boca. Temos de aplicar obrigatoriamente um creme no rosto para evitar a secura e irritação da pele.

Limpamos o corpo todo com toalhas úmidas e depois o secamos com toalhas secas. Uma sensação prazerosa. Depois de terminada a descarga do Progress, nossa estação está uma verdadeira bagunça. Estão flutuando entre nós sacos cheios de equipamentos. Pelo tom das vozes vindas da Terra, percebemos que o pessoal está tomando o cuidado de nos tratar de maneira especial. Eles falam conosco como quem lida com doentes, preocupados com a duração prolongada do vôo. Não compreendem que isso é muito pior porque estraga nossa disposição. À noite, li algumas revistas acomodado em meu lugar preferido, no compartimento onde as naves engatam. Agora, vou dormir.

SETEMBRO 27

Dormi muito bem, um sono de quase onze horas. Ao me levantar, sentia uma pequena dor de cabeça. Mas, pouco depois, passou. À noite, senti o estômago. Acho que foi uma leve gastrite. Tivemos de nos preparar para as experiências durante toda a manhã. Quase não falamos. Quando comecei a experiência com o fotômetro eletrônico, vi Tolia (Anatoli, companheiro de vôo de Lebedev) chegar perto e dizer: "Vamos fazer juntos". Fizemos um bom trabalho. Registramos três estrelas: Beta de Cisne, Vega e Altair. Lembro-me de ter lido em vários artigos que, em órbita, alguns cosmonautas enxergaram casas esparsas, um navio no mar e até um ônibus correndo pela estrada.
Será que isso é possível? Vamos ver. A capacidade de resolução do olho humano com boa visão permite distinguir, de uma altura de 350 quilômetros, objetos com dimensões da ordem de 100 metros, ou seja, navios e os maiores edifícios. Em certas condições atmosféricas, com uma iluminação solar favorável e a presença de sombras, é possível discernir coisas menores. Distinguir um veículo e ainda por cima afirmar que é um ônibus é impossível a olho nu. Isso porque é difícil isolar pequenos objetos entre uma infinidade de coisas semelhantes e sobre um fundo muito retalhado. Não digo que, com uma rara combinação de condições atmosféricas sobre determinadas regiões, a camada aérea não possa funcionar como uma lente, possibilitando uma melhora súbita da visibilidade. Eu, porém, nunca vi.

NOVEMBRO 06

Pela manhã, executamos uma nova experiência científica. Depois começamos os preparativos para o banho. Me distraí e não fechei direito o recipiente onde colhemos a urina, por isso a tampa pulou fora com a pressão, brotando também água suja misturada com a urina. Uma grande gota amarela ficou pendurada no extremo da mangueira. Grande coisa! Fiz a limpeza. A propósito, não sentimos aqui nojo por tais coisas, compreendendo que tudo isso é nosso, só dos dois. Tomei uma ducha. Tenho sentido ultimamente dor na coluna. Sei, por experiência terrestre, que isso acontece quando pratico pouco esporte. Os músculos se enfraquecem. Por isso fica difícil para a coluna sustentar o peso do corpo, originando uma compressão das vértebras. Aqui, em órbita, acontece o contrário: elas se dilatam. Como voamos há muito tempo, perdemos o sentido do tempo. Sabemos que muito já se passou, mas não podemos perceber exatamente quanto, como fazemos quando estamos em terra. Lá se vive a primavera, o verão, o outono, o inverno e as férias. Aqui, tudo está envolto por um tempo anônimo, uma sucessão de luz e escuridão, quinze vezes por dia.

NOVEMBRO 11

Dia da morte de Leonid Brejnev (chefe do governo soviético desde 1964). Lançamento do ônibus espacial americano Columbia. Acordei por volta das 5 da madrugada. Levantei mais cedo para filmar o Extremo Oriente em videoteipe. Vejo a cama de Tolia vazia. Olho para o compartimento de trabalho e o descubro deitado e encolhido no aparelho de esteira rolante. Perguntei o que tinha acontecido. Ele disse que não estava se sentindo bem, parecendo intoxicação, uma dor no lado esquerdo do abdômen. Ao cabo de uma hora, vejo o homem ainda sofrendo. Fui até a farmácia e peguei dois remédios e um comprimido de carvão ativado. Sobrevoamos o território soviético. Digo a Tolia que não temos o direito de esconder sua dor e sugiro entrar em contato com a Terra e informá-los. Ele concorda. Estamos passando sobre o litoral do Extremo Oriente, não estando programada nessa volta uma sessão de comunicação. Faço a chamada: "Aqui Elbrus-2, responda-me". Entra o operador de plantão do posto terrestre em Ussuriisk. Peço ligação para o Centro de Controle de Vôos. Atende Viktor. Solicito um médico, vem correndo Valera, médico de turno. Expliquei-lhe tudo e aí saímos da zona de radiovisibilidade. Somente na comunicação seguinte, às 8 da manhã, tive nova conversa com Valera e ele recomendou aplicar uma injeção de atropina. Peguei na farmácia uma seringa e disse: "Vamos, Tolia, mostre o seu traseiro porque vou te dar uma agulhada". Segurei metade da agulha com os dedos para que não entrasse toda na carne. Ele disse que nem sequer percebeu quando apliquei. Uma hora depois se sentia aliviado. Na sessão de comunicação seguinte, já haviam reunido uma junta médica para decidir se devíamos ou não aterrissar. Coisa absurda: passar nove anos se preparando para o vôo, voar meio ano e ter de aterrissar uma semana antes do recorde de permanência no espaço. Como se isso fosse pouco, entra Riumin (cosmonauta que à época trabalhava no Centro de Controle dos Vôos): "Rapazes, estamos preparados para trazê-los de volta". Bolas! Depois do almoço, o pessoal de terra pediu que, pelo sim, pelo não, nos preparássemos para a descida. Ao meio-dia, Tolia já não parecia tão aborrecido. Digo-lhe: "Vamos então comunicar que aterrissamos".

DEZEMBRO 13

(Depois do regresso) Dia de repouso. Sinto-me muito mais aliviado, já sem aquele cansaço no corpo. Levanto os objetos com mais facilidade, me mexo na cama sem esforço. Participamos de uma entrevista coletiva. Fiquei contente porque parece ter sido uma boa conversa. De dia, fiz um treino na piscina, uma caminhada, exercícios fáceis para as pernas e os braços. Fica-se cansado rapidamente. Estou com bom apetite. Já recuperei o peso de 72 quilos. No primeiro dia em terra estava com 70,5 quilos. Os médicos estão contentes. O restabelecimento é normal. Só alterações no sangue. Isso porque o organismo se adaptou à imponderabilidade. Agora se inicia o processo contrário. De manhã, fiz uma brincadeira: pus a máscara de fantasia trazida a bordo da estação por Jean-Loup Chrétien (cosmonauta francês que esteve na Saliut). É uma máscara feia. Depois de colocá-la na cabeça deitei na cama e fiquei imóvel. Alguém foi correndo aos médicos assustado com o que viu. Quando Ivan Skiba, chefe da seção médica, Slava Bogdachevski e o psicólogo entraram no meu quarto, virei o rosto para eles e lancei um grito feroz. Ficaram apavorados. Aconteceu uma cena muda, com minha máscara refletindo-se nas suas fisionomias desfiguradas pelo susto. Quando voltaram a si, desataram a rir. O psicólogo diagnosticou: "Se o paciente está brincando, é sinal de que tudo vai bem".

A vocação de voar

Recentemente, o cosmonauta Valentin Lebedev falou de sua vida a Serguei Ignatiev, em Moscou, com exclusividade para nós. Excertos:

Nasci a 14 de abril de 1942, em Moscou. Russo. Nossa família é "terrestre", isto é, nenhum dos seus membros foi ligado à aviação. Minha mãe era dona-de-casa. Meu pai, oficial das Forças Blindadas. Eu, entretanto, sempre tive grande vontade de voar. Talvez por ter devorado muita literatura sobre pilotos. Em 1959, ao terminar o curso secundário, com 17 anos, ingressei na Escola de Aviação de Oremburgo, às margens do Ural, rio que representa a fronteira natural entre a Europa e a Ásia - por sinal, daquela escola saiu também Iúri Gagárin, o primeiro homem a ir ao espaço. Estudei um ano e em 1960 enfrentei novamente a opção: onde continuar os estudos? Decidi permanecer ligado à aviação. Ainda no mesmo ano, ingressei no Instituto Superior de Aviação em Moscou. Essa escola forma especialistas em veículos espaciais. Contudo, não perdi a esperança de voar. Era no clube de aviação que realizava meus sonhos. De início, aprendi a pilotar um planador. Depois, o aparelho a hélice Iak-18. Finalmente, o jato L-29. Em 1966, terminado o curso no instituto, fui enviado para trabalhar no Centro de Projetos Serguei Koroliov. Naquela época, o centro desenvolvia um projeto de pouso na Lua.
Como queria continuar os estudos, ingressei no curso de pós-graduação por correspondência do instituto. Ao enfrentar os exames médicos para ser admitido no Grupo de Cosmonautas, só fui aprovado depois de sete tentativas. A razão foram os muitos traumatismos resultantes da prática de esportes. Treinei, trabalhei e voei muito, até que finalmente, em 1972, fui admitido no Grupo. Logo em 1973 fiz companhia a Piotr Klimuk na missão Soiuz-13. Passamos oito dias no espaço, estudando estrelas através do telescópio Orion-2. Em 1974, defendi tese de pré-doutoramento sobre aparelhos de treinamento para vôos espaciais. Depois, voltei ao trabalho no centro de projetos, fazendo preparativos para um novo lançamento. Em 1982, fiquei 211 dias em órbita da Terra a bordo da estação Saliut-7, com Anatoli Berezovoi. Em 1985, três anos depois do vôo com Berezovoi defendi tese de doutoramento sobre "Métodos para aumentar a eficácia das pesquisas científicas a bordo de estações espaciais". Ainda estou na ativa como cosmonauta, trabalhando como vice-diretor científico do Instituto de Geografia da Academia de Ciências da URSS.
Liudmila, minha mulher, fez um curso no Instituto Tecnológico para a Indústria Alimentar, de Moscou. Trabalhou uma temporada comigo, realizando uma pesquisa tecnológica sobre alimentação de cosmonautas. Nosso filho Vitali nasceu em 1972. Agora, é estudante do Instituto de Direito de Moscou. Gosta de esportes e não se interessa por aviação, certamente por causa das minhas intermináveis e enfadonhas conversas. É obstinado, mas muito compassivo. Na ausência de uma filha, resta-me a esperança de uma neta. Os meus passatempos são caça, natação e esqui. Durante as férias, prefiro ir com a família a lugares novos, fazer viagens improvisadas. O que é fácil, já que vivemos num país gigantesco, impossível de conhecer durante uma vida.

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ISS pode ter que fazer manobra para desviar de lixo espacial


26/09/2012 14h18 - Atualizado em 26/09/2012 14h18
ISS pode ter que fazer manobra para desviar de lixo espacial

Satélite aposentado russo pode entrar na rota da estação espacial.
Em 2011, astronautas buscaram refúgio em nave por situação semelhante.


Mapa mostra lixo espacial na órbita terrestre
(Foto: Nasa / AP Photo)

A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) pode ser obrigada a manobrar para se esquivar dos restos de um satélite de espionagem militar russo abandonado, informou nesta quarta-feira (26) um porta-voz do Centro de Controle de Voos Espaciais (CCVE) da Rússia.
"Dois pedaços do aparelho espacial Kosmos-2251 podem ameaçar a segurança da estação. Para evitar o lixo espacial, pode ser necessária uma manobra da ISS", afirmou a fonte à agência "Interfax".
Em caso de necessidade, a plataforma orbital poderia corrigir sua órbita já nesta quinta-feira, com ajuda do cargueiro europeu ATV. Em janeiro, a estação corrigiu sua órbita para evitar a colisão com um fragmento de satélite americano Iridium-33.

Os restos deste satélite se espalharam pela órbita terrestre em 10 de fevereiro de 2009, depois que ele se chocou com o Kosmos-2251, o que fez com que ambos se partissem em mais de mil fragmentos.
Em junho de 2011, a perigosa proximidade do lixo, que passou a apenas 250 metros da estação, obrigou os seis tripulantes a evacuar a plataforma e buscar refúgio nas naves Soyuz que nela estavam acopladas.
A corporação aeroespacial russa Energuia constrói uma nave tripulada para recolher lixo espacial, principal ameaça para a ISS. Os pesquisadores das principais agências espaciais acreditam que mais de 700 mil fragmentos de lixo espacial vaguem na órbita terrestre.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Kepler: Os Caminhos dos Planetas



KEPLER: OS CAMINHOS DOS PLANETAS



Em pleno século XVII, ele estabeleceu as três leis gerais que descrevem as órbitas planetárias e promoveu uma revolução na Astronomia.

Johannes Kepler foi concebido às 4h37 da madrugada do dia 16 de maio de 1571 na aldeia de Weill região da Suábia, Sudoeste da Alemanha - e nasceu às 15h30 de 27 de dezembro, exatamente 224 dias, 9 horas e 33 minutos mais tarde. Esses são, pelo menos, os cálculos inscritos numa espécie de horóscopo que Kepler fez para si mesmo e sua família. Segundo o documento, seus parentes formavam uma formidável constelação de indivíduos degenerados, neuróticos ou francamente malucos. O que não impediria Kepler de revolucionar a Astronomia, estabelecendo as três leis gerais das órbitas planetárias, base sobre a qual o físico inglês Isaac Newton construiria, em 1665, a grande síntese da gravitação universal.
Kepler era uma criança enfermiça, de membros delicados, e sofria de miopia e poliocopia anocular (visão múltipla). Mas, graças à inteligência brilhante, foi aceito aos 13 anos no seminário teológico de Adelberg. Ganhara uma bolsa de estudo concedida pelo duque de Wurttemberg. Neurótico, como era de esperar, Kepler abominou o seminário em geral e seus colegas em particular. Atormentado por problemas de relacionamento, refugiou-se nos estudos. Tornou-se muito bem-visto pelos professores, alguns dos quais permaneceram seus amigos ao longo de toda a sua existência.
Há várias indicações de que no final da adolescência seu temperamento tornou-se mais fácil. Diplomou-se pela Faculdade de Artes da Universidade de Tubingen aos 20 anos e ingressou então na Faculdade Teológica, onde estudou mais quatro anos. Antes que pudesse prestar os exames finais, recebeu um proposta para ocupar o posto de professor de Matemática e Astronomia de Graz, capital da Estíria, província austríaca. Além das aulas, Kepler devia preparar todos os anos um calendário de previsões astrológicas, tarefa que ele classificava de "diversão simiesca e sacrílega", mas lhe rendia vinte florins extras. "O espírito habituado à dedução matemática, quando se vê frente a frente com os falsos alicerces da Astrologia", lamentava-se ele, "resiste longamente como um burro teimoso até que, compelido pelas pancadas e pragas, mergulha o pé no imundo lamaçal".
O acontecimento capital de sua estada em Graz, no entanto, foi uma espécie de lampejo que lhe atravessou o espírito em 9 de julho de 1595, no instante em que desenhava figuras geométricas no quadro-negro. Note-se que essa famosa descoberta era inteiramente equivocada e hoje parece estapafúrdia. Kepler estava ensinando a seus alunos o sistema heliocêntrico - os planetas girando em torno do Sol, grande novidade exposta havia apenas doze anos pelo astrônomo polonês Nicolau Copérnico (SUPERINTERESSANTE número 1, ano 3). Subitamente, pareceu-lhe muito significativo o fato de existirem apenas seis planetas (Urano, Netuno e Plutão ainda não haviam sido descobertos) e cinco sólidos perfeitos: tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro.
Ocorreu-lhe inscrever e circunscrever esses cinco sólidos em seis esferas. E verificou que a distância entre as diferentes esferas era proporcional à distância real existente entre as órbitas dos diferentes planetas. Ou melhor, mais ou menos proporcional. Porque, se os números concordavam aproximadamente no caso de Marte, da Terra e de Vênus, tornavam-se totalmente discrepantes para Júpiter e Mercúrio. Kepler "quebrou o galho" alegando que a discrepância em relação a Júpiter não espantaria ninguém, já que o planeta ficava "longe demais". Quanto a Mercúrio, recorreu provisoriamente à fraude, alterando o número segundo suas conveniências.
Mas era honesto demais para se contentar com esses subterfúgios e, na tentativa de provar sua teoria maluca, mergulhou em pesquisas persistentes e detalhadas sobre o sistema solar. Em 1596, aos 24 anos, Kepler publicou um resumo de suas primeira tentativas na obra intitulada Mysterium cosmographicum. No ano seguinte, casou-se. O horóscopo do dia do casamento, 27 de abril de 1597, que apresentava um "céu calamitoso" cumpriu-se integralmente. 
Após atormentar a paciência do marido durante catorze anos, Barbara Kepler morreu louca. A vida do casal foi agitada. Mal tinham se casado, quando o jovem arquiduque Fernando de Hamburgo (mais tarde imperador Fernando II) achou que era hora de varrer as províncias austríacas da heresia luterana. No verão de 1598, a escola de Kepler fechou as portas e em setembro todos os professores luteranos receberam ordem de abandonar as províncias. Kepler, que tinha amigos entre os jesuítas, conseguiu evitar o exílio forçado, mas perdeu o emprego. A prudência recomendava que fosse procurar novos ares.
Há algum tempo ele desejava visitar o famoso astrônomo dinamarquês Ticho Brahe no observatório de Uraniborg, na ilha de Hven entre Copenhague, na Dinamarca, e Helsingborg, na Suécia. Ticho, obcecado pela idéia de precisão nas observações que fazia, dedicara-se a construir instrumentos científicos cada vez mais perfeitos e a comparar uns com os outros, para conhecer o erro inerente a cada um. Com eles produziu, ao longo de 35 anos, grossos volumes de anotações, espantosamente precisas para os padrões da época, que pretendia utilizar para reentronizar a Terra como o centro do Universo - posição da qual começava a ser afastada desde a publicação dos trabalhos de Nicolau Copérnico.
O notável observador tinha, no entanto, escassos dotes para a Matemática - daí alegrar-se com a perspectiva de ter Kepler a seu lado, a fim de fornecer-lhe os cálculos necessários para dar sustentação à sua idéia. Kepler, ao contrário, esperava ter acesso aos volumes de Ticho para desenvolver suas próprias teorias a respeito sobretudo da movimentação dos planetas. A hora era boa à execução do projeto, tanto mais que, por coincidência, Ticho se desentendera com o rei Cristiano IV e acabara de se mudar da longínqua Uraniborg para a cidade de Praga, capital da atual Tchecoslováquia, onde recebera o posto de Matemático Imperial das mãos do imperador Rodolfo II.
Os dois homens já se correspondiam há algum tempo e, sabendo que Kepler se encontrava em situação precária, Ticho convidou-o a mudar-se para Praga, onde poderia viver e trabalhar como seu hóspede no castelo de Benatek. A convivência diária entre eles foi, no entanto, um pesadelo. Kepler pretendia trabalhar em paz. Encontrou o castelo em reformas para a instalação do observatório e cheio de visitantes e membros da corte pessoal de Ticho Brahe. O pior é que não conseguia obter os dados que tanto desejava.
Queixou-se numa carta: "Ticho não permite que eu participe de suas experiências. Só durante as refeições, entre outros assuntos, ele menciona, de passagem, hoje o número do apogeu de um planeta, amanhã outro dado qualquer". Sabe-se lá qual seria o fim da relação entre os dois astrônomos se a morte não tivesse chegado para separá-lo dezoito meses depois do primeiro encontro. Ticho Brahe morreu inesperadamente e foi enterrado em Praga em 4 de novembro de 1601. Dois dias mais tarde, Kepler foi nomeado para sucedê-lo no posto de Matemático Imperial. Em Praga, Kepler ficou os onze anos seguintes, boa parte dos quais dedicou a cuidadosas observações da trajetória do planeta Marte.
Foi o período mais fértil de sua vida, sobretudo porque, confrontado com o fato de que Marte não se comportava nem como desejava Ticho Brahe nem como descrito no trabalho de Copérnico, pôs-se a elaborar sua própria teoria para dar seqüência às observações. Em 1601, publicou sua obra-prima, Astronomia Nova, que trazia duas de suas três leis planetárias fundamentais. A primeira delas afirma que os planetas descrevem órbitas em forma de elipses com o Sol em um dos seus focos. A segunda lei afirma que a velocidade dos planetas varia de tal forma que percorrem áreas iguais em tempos iguais.
São as primeiras leis naturais no sentido moderno, na medida em que utilizam termos matemáticos para descrever relações universais governando fenômenos particulares. Com ela, a Astronomia separou-se da Teologia para unir-se à Física. Não foi um divórcio fácil. Desde os gregos, filósofos afirmavam que os astros percorriam trajetórias circulares em velocidade uniforme. A tarefa dos astrônomos consistia, sobretudo, em construir sistemas cada vez mais complicados para conciliar essa "verdade decretada" com as observações que iam fazendo com seus próprios olhos. 
Um dos sistemas em voga no tempo de Kepler distinguia dois centros para o sistema solar: um centro físico, que seria o próprio Sol, e um centro geométrico (não coincidente com o primeiro) eqüidistante de todos os pontos da órbita circular. Dava-se, igualmente, muita importância ao chamado punctum equans, ponto a partir do qual o planeta apresentava a velocidade angular constante. Kepler gastou cinco anos e cobriu novecentas páginas com cálculos em letra pequena na tentativa de determinar esses três pontos para o caso de Marte. Fracassou. Somente então, esgotadas todas as possibilidades, ousou examinar a hipótese de astros percorrendo órbitas não circulares em velocidades variáveis. Refez os cálculos e sem mais idéias preconcebidas e dentro de um ano encontrou as duas primeiras leis.
Nunca teria chegado a esse resultado se não tivesse herdado as observações acumuladas ao longo dos anos por Ticho Brahe. No último estágio de seus cálculos, empregou 180 medidas diferentes da distância entre o Sol e Marte. Mas de nada lhe adiantariam todos esses números se não possuísse também poderosa intuição sobre os mecanismos do Universo. Foi assim, por exemplo, que muito antes de Newton ele já descrevia a gravitação universal nos seguintes termos: "Se duas pedras fossem colocadas em qualquer lugar do espaço, uma perto da outra, e fora do alcance de um terceiro corpo material, unir-se-iam, à maneira dos corpos magnéticos, num ponto intermediário, aproximando-se cada uma em proporção à massa da outra".
E mais adiante: "Se a Terra cessasse de atrair as águas do mar, os mares se ergueriam e iriam ter à Lua (...)". "Se a força de atração da Lua chega até a Terra, segue-se que a força de atração da Terra, com maior razão, vai até a Lua e ainda mais longe." Caso Kepler tivesse se preocupado em conciliar a idéia da atração universal com suas próprias leis, poderia ter ido ainda mais longe. Mas parece ter recuado por uma espécie de repugnância filosófica partilhada por Galileu, Descartes - e o próprio Newton, de início -  diante dessa força fantasmagórica capaz de agir a distâncias astronômicas, sem agente intermediário e de maneira instantânea, um conceito aparentemente místico e não "científico", indigno de cientistas modernos como ele. 
Outros interesses e preocupações iriam ocupá-lo nos anos seguintes. Galileu publicou na Itália o Mensageiro das Estrelas, em que anunciava algumas descobertas feitas com o uso de um novo e revolucionário aparelho, o telescópio - e a que mais controvérsias causou foi a descoberta de quatro planetas (na verdade, satélites) girando ao redor de Júpiter. Kepler foi o primeiro nome de peso a apoiar o trabalho de Galileu, mas nem por isso conseguiu que estes lhe enviasse um telescópio para suas próprias observações. Quando conseguiu um, emprestado pelo duque de Colônia, escreveu Dioptrice, um tratado no qual lança as bases da Ótica, novo ramo da Física.
Com 141 definições, axiomas e proposições precisas e austeras, o tratado é uma exceção na sua obra cheia de digressões filosóficas. O ano de 1611 trouxe-lhe uma série de desgraças. Rodolfo II, seu protetor, foi obrigado a abdicar do trono, a vida em Praga tornou-se insuportável pelos efeitos acumulados da guerra civil e das epidemias. Morreram-lhe a mulher e um filho. Conseguiu conservar o posto de Matemático Imperial, mas foi transferido para a cidade de Linz, na Áustria, onde viveria catorze anos, até a idade de 55. Ali também não lhe faltaram peripécias. Casou-se novamente e dessa vez parece ter sido mais feliz. Susanna deu-lhe sete filhos. Em compensação, enfrentou horas dramáticas durante o processo de sua própria mãe, acusada de feitiçaria. Ainda assim continuou produzindo e, em 1618, terminou Harmonice Mundi (Harmonia do Mundo), uma espécie de síntese geral englobando Geometria, Música, Astrologia e Astronomia.
O fracasso dessa ambição desmedida só não foi absoluto porque, no meio de toda a barafunda que é o livro, aparece anunciada com toda a clareza a sua terceira lei sobre as órbitas planetárias: "Os quadrados dos períodos de revolução de dois planetas quaisquer estão entre si como os cubos de suas distâncias médias do Sol". Nos onze últimos anos que ainda lhe restariam de vida, Kepler publicou mais duas obras importantes: a Epitome astronomiae copernicanae e as Tabulae rudolphinae. Na Epitome ele demonstra que as leis planetárias originalmente deduzidas para o caso de Marte também são válidas para todos os outros planetas conhecidos, também para a Lua e para os satélites de Júpiter.
As Tabulae rudolphinae - assim batizadas em honra do imperador Rodolfo II - são as observações de Ticho Brahe, organizadas e ampliadas pelo próprio Kepler. Além de tabelas e regras para a localização dos planetas, o livro traz um catálogo de pouco mais de mil estrelas. Com a Europa convulsionada  pela Guerra dos Trinta Anos, a vida particular de Kepler tornou-se cada vez mais problemática. Parte de Linz foi destruída por um incêndio durante a revolução camponesa de 1626 e ele deixou a cidade sem planos definitivos. Viveu um ano em Ulm, visitou Praga e acabou se instalando no condado de Sagan, na Silésia. Estava na miséria. O salário de Matemático Imperial, teoricamente muito bom, raramente chegava a ser pago. Em outubro de 1629, tomou o rumo de Viena, nova sede da corte, com a idéia de cobrar pelo menos parte do que lhe era devido. Morreu no caminho, poucos dias depois de chegar à cidade de Ratisbona - ou a Regensburg, segundo outra versão -, em 15 de novembro de 1630. Sua sepultura acabou destruída.

As três leis, em resumo

1 - A órbita de um planeta P tem a forma de elipse com o Sol S em um dos seus focos. T é a Terra.
2 - Os planetas percorrem áreas iguais em tempos iguais, como para ir de B a A, de D a C, de F a E. As áreas BSA, DSC e FSE são iguais.
3- Os quadrados dos períodos de revolução de dois planetas quaisquer estão entre si da mesma forma que os cubos de suas distâncias médias do Sol. Isso se aplica também a Urano, Netuno e Plutão, que Kepler não chegou a conhecer.

Por analogia entre a idéia e a observação.

Por Albert Einstein

Em nossos tempos, justamente os momentos de grandes preocupações e de grandes tumultos, os homens e suas políticas não nos fazem muito felizes. Por isso estamos particularmente comovidos e confortados ao refletirmos sobre um homem tão notável e tão impávido quanto Kepler. No seu tempo, a existência de leis gerais para os fenômenos da natureza não gozava de nenhuma certeza. Por conseguinte, ele devia ter uma singular convicção sobre essas leis para lhes consagrar, dezenas de anos a fio, todas as suas forças, num trabalho obstinado e imensamente complicado.
Com efeito, ele procura compreender empiricamente o movimento dos planetas e as leis matemáticas que o expressam. Está sozinho. Ninguém o apoia nem o compreende. Copérnico fizera notar, antes dele, que o melhor meio de compreender e de explicitar os movimentos aparentes dos planetas consiste em considerar esses movimentos como revoluções ao redor de um suposto ponto fixo, o Sol. Portanto, se o movimento de um planeta ao redor do Sol como centro fosse uniforme e circular, seria singularmente fácil descobrir, a partir da Terra, o aspecto desses movimentos. Mas, na realidade, os fenômenos são mais complexos e o trabalho do observador muito mais delicado. Foi preciso primeiro determinar tais movimentos empiricamente, utilizando as tabelas de observação de Ticho Brahe,. Somente  depois desse enfadonho trabalho, tornou-se possível encarar ou sonhar com as leis gerais a que se moldariam esses movimentos.
Mas o trabalho de observação dos movimentos reais de revolução é muito árduo e, para tomar consciência deles, é preciso meditar na evidência:  jamais se observa em momento determinado o lugar real de um planeta. Sabe-se somente em que direção ele é observado da Terra, que, por seu lado, perfaz ao redor do Sol um movimento cujas leis ainda não são conhecidas. As dificuldades pareciam praticamente insuperáveis.
Kepler viu-se forçado a encontrar o meio para organizar o caos. A princípio, ele descobre que é preciso tentar determinar o movimento da própria Terra. Ora, esse problema seria simplesmente insolúvel se só existisse o Sol, a Terra, as estrelas fixas, com a exclusão dos outros planetas. Porque se poderia, empiricamente, determinar a variação anual da direção da linha reta Sol-Terra (movimento aparente do Sol em relação às estrelas fixas). Mas seria só isso. Poder-se-ia também descobrir  que todas essas direções se situariam num plano fixo em relação às estrelas, na medida em que a precisão das observações recolhidas na época permitira formulá-lo. Porque ainda não existia o telescópio!
Ora, era preciso determinar como a linha Sol-Terra evolui ao redor do Sol. Kepler notou então que, a cada ano, regularmente, a velocidade angular desse movimento se modificava. Mas essa verificação não ajudou muito, porque não se conhecia ainda a razão por que a distância da Terra ao Sol variava. Se apenas se conhecessem as modificações anuais dessa distância, ter-se-ia podido determinar a verdadeira forma da órbita da Terra e a maneira como se realiza.
Kepler encontrou um processo admirável para resolver o dilema. Em primeiro lugar, de acordo com os resultados das observações solares, ele viu que a velocidade do percurso aparente do Sol contra o último horizonte das estrelas fixas é diferente nas diversas épocas do ano. Mas viu também que a velocidade angular desse movimento permanece sempre a mesma na mesma época do ano astronômico. Portanto, a velocidade de rotação da linha Terra-Sol é sempre a mesma, se está dirigida para a mesma região das estrelas fixas. Pode-se, então, supor que a órbita da Terra se fecha sobre si mesma e que ela a realiza todos os anos da mesma maneira.
Essa descoberta já significou um progresso. Mas como determinar a verdadeira forma da  órbita da Terra? Imaginemos uma lanterna M, colocada em algum  lugar no plano da órbita, que lança viva luz e conserva uma posição fixa, conforme já verificamos. Ela constituirá então, para a determinação da órbita terrestre, uma espécie de ponto fixo de triangulação ao qual os habitantes da Terra poderiam se referir em qualquer época do ano. Precisemos ainda que essa lanterna está mais afastada do Sol do que da Terra. Graças a ela, pode-se avaliar a órbita terrestre.
 Ora, a cada ano, existe um momento em que a Terra T se situa exatamente sobre a linha que liga o Sol S à lanterna M. Se, nesse momento,  se observar da Terra T a lanterna M, essa direção será também a direção SM (Sol-lanterna). Imaginemos essa última direção traçada no céu. Imaginemos agora uma outra posição da Terra, em outro momento. Já que, da Terra, se pode ver tão bem o Sol S quanto a lanterna M, o ângulo em T do triângulo STM se torna conhecido. Mas conhece-se também pela observação direta do Sol a direção ST em relação às estrelas fixas, ao passo que anteriormente a direção da linha SM em relação às estrelas fixas fora determinada de uma vez por todas.  Conhece-se igualmente no triângulo STM o ângulo em S. Portanto, escolhendo-se à vontade uma base SM, pode-se traçar no papel, graças ao conhecimento dos dois ângulos em T e em S, o triângulo STM. Será então possível operar assim várias vezes durante o ano e, de cada vez, se desenhar no papel um localização para a Terra T, com a data correspondente e sua posição em relação à base SM, fixa de uma vez por todas. Kepler determinou assim, empiricamente, a órbita terrestre.
Porém, objetarão, onde é que Kepler encontrou a lanterna M? Seu gênio, sustentado pela inesgotável e benéfica natureza, ajudou-o a encontrar. Podia, por exemplo, utilizar o planeta Marte. Sua revolução anual, isto é, o tempo que Marte leva para realizar uma volta ao redor do Sol, era conhecida. Pode acontecer o caso em que Sol, Terra, Marte se encontrem exatamente na mesma linha. Ora, essa posição de Marte repete-se a cada vez depois de um, dois etc. anos marcianos, porque Marte realiza uma trajetória fechada. Nesses momentos conhecidos, SM apresenta sempre a mesma base, ao passo que a Terra se situa sempre em um ponto diferente de sua órbita. Portanto, nesses momentos, as observações sobre o Sol e Marte oferecem um meio para se conhecer a verdadeira órbita da Terra, pois o planeta Marte reproduz nessa situação a função de lanterna imaginada e descrita acima.
Kepler descobriu assim a forma justa da órbita terrestre, bem como a maneira pela qual a Terra a realiza. Temos de admirar e glorificar Kepler por sua intuição e sua fecundidade. A órbita terrestre estava então empiricamente determinada; conhece-se a qualquer momento a linha SA em sua posição e grandeza verdadeiras. Portanto, em princípio, não devia ser  muito mais difícil para Kepler calcular, pelo mesmo processo e por observações, as órbitas e os movimentos dos  outros planetas. Mas na realidade isso apresentava enorme dificuldades, porque as matemáticas de seu tempo ainda não eram primárias.
Contudo, Kepler ocupou sua vida com uma segunda questão, igualmente complexa. As órbitas, ele as conhecia empiricamente, mas seria preciso deduzir suas leis desses resultados empíricos. Ele estabeleceu uma suposição sobre a natureza matemática da curva da órbita e foi verificá-la depois por meio de enormes cálculos numéricos. E, se os resultados não coincidiam com a suposição, ele imaginava outra hipótese e verificava de novo. Executou prodigiosas pesquisas e obteve um resultado conforme a hipótese ao imaginar o seguinte: a órbita é uma elipse da qual o Sol ocupa um dos focos. Encontrou então a lei pela qual a velocidade varia durante uma revolução, no ponto em que a linha Sol-planeta realiza, em tempos idênticos, superfícies idênticas. Enfim, Kepler descobriu que os quadrados de durações de revolução são proporcionais às terceiras potências dos grandes eixos de elipses.
Nós admiramos esse homem maravilhoso. Porém, para além desse sentimento de admiração e veneração, temos a impressão de nos comunicar não mais com um ser humano mas com a natureza e o mistério de que estamos cercados desde nosso nascimento. A razão humana, eu o creio muito profundamente, parece obrigada a elaborar antes e espontaneamente  formas cuja existência na natureza se aplicará a demonstrar em seguida. A obra genial de Kepler prova essa intuição de maneira particularmente convincente. Ele dá testemunho de que o conhecimento não se inspira unicamente na simples experiência, mas fundamentalmente na analogia entre a concepção do homem e a observação que faz. 

O veemente advogado de Katherine

Entre 1615 e 1629, 38 mulheres acusadas de feitiçaria foram queimadas vivas na praça principal de Weill, a aldeia onde nasceu Kepler. Em Leomberg, a localidade vizinha, outras seis tiveram a mesma sorte, apenas na primavera de 1615. Katherine, a mãe de Kepler, que estava vivendo em Leomberg e era especialmente malquista, logo se viu cercada por suspeitas. Segundo se comentava, ela teria oferecido bebidas à mulher de um certo Bastian Meyer e ao mestre-escola Beutelspacher. O mestre-escola ficou paralítico e a senhora Meyer morreu de mal súbito. Também morreram os dois filhos do alfaiate Daniel Schmidt, supostas vítimas de seu mau-olhado. Diziam todos na aldeia, enfim, que ela era capaz de entrar nas casas através das portas fechadas e que mandara o coveiro desenterrar o crânio de seu próprio pai para fazer uma taça.
Mas o que parece ter desencadeado a abertura do processo foi uma briga com a mulher do vidraceiro Jacob Reinho, cujo irmão tinha certa influência por ser barbeiro da corte do duque de Wurttemberg. Nos seis anos seguintes, deixando de lado antigos desentendimentos, Kepler dedicou-se à tarefa de salvar sua mão da fogueira. Sua conhecida veemência parece ter impressionado desfavoravelmente o escrivão que deixou anotado: "A acusada apareceu neste tribunal acompanhada, infelizmente, pelo filho Johannes Kepler, matemático". A fase final do processo demorou um ano. O ato de acusação continha 49 itens e o da defesa, redigido em sua maior parte pelo próprio Kepler, se estendia por 128 páginas. Katherine foi finalmente libertada, mas não pôde voltar a Leomberg. A população local estava decidida a linchá-la.

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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Uma Casa em Órbita - Espaço


UMA CASA EM ÓRBITA - Espaço



Daqui a seis anos começará a surgir a Freedom, a maior estação espacial já planejada pelo homem. Ela será o lar de oito astronautas e servirá para experiências em microorganismos.

Após um dia de intenso trabalho, um bom jantar, uma conversa com a família, uma partida de xadrez e o sono merecido. No dia seguinte, exercícios para manter a forma, uma ducha revigorante, café da manhã reforçado e tudo recomeça. A rotina, típica dos nossos dias, não teria nada de excepcional se não fosse vivida por uma equipe de oito astronautas afastados do cotidiano terrestre durante bons seis meses. Para esses homens e mulheres, atividades corriqueiras, como tomar banho ou se alimentar, não serão o que se pode chamar tarefas banais. O capítulo banho, por exemplo, pode se arrastar por mais de uma hora, enquanto a acomodação confortável no vaso sanitário, entre cintos de segurança e prendedores de pé, não será algo instantâneo como na velha Terra - e lá se irão outros preciosos minutos.
Problemas aparentemente menores como esses fazem parte da infindável pauta dos engenheiros da agência espacial americana NASA, que há algum tempo estudam maneiras de tornar a vida no espaço um pouco mais parecida com a que segue por aqui, apesar da quase total ausência de gravidade. Ultimamente, tais estudos se tornaram ainda mais urgentes porque os Estados Unidos, os países da Comunidade Econômica Européia
(menos a Inglaterra), além do Japão e do Canadá, concentram esforços no que é considerado hoje um dos mais ousados e por isso mesmo polêmicos projetos da conquista espacial: a estação orbital Freedom (liberdade, em inglês), a última grande incursão tripulada ao espaço deste século. Trata-se de um hotel-laboratório permanente de 110 metros de comprimento, ou um campo de futebol, que aqueles países pretendem montar a cerca de 400 mil metros da Terra. 
Se o projeto levantar vôo financeiramente - o que depende sobretudo do Congresso americano, do qual se espera o sinal verde para 15 dos 23 bilhões de dólares que se supõe necessários ao empreendimento -, no final de 1995 um ônibus espacial sairá de Cábo Canaveral, na Flórida, carregado com 18 toneladas de material de construção. A carga será abandonada durante algumas semanas em órbita até que outra nave leve os astronautas ao serviço. Presos apenas por cabos, começarão em pleno espaço a montar a estação. Esse processo se repetirá ao longo de dois anos. Se o calendário for cumprido conforme os planos atuais, em 1998, vinte vôos depois, a Freedom estará pronta para receber os primeiros inquilinos.
A experiência não é inédita. A começar de 1973, a União Soviética lançou sete estações Salyut (saudação, em russo), precursoras da atual Mir (paz), que com seus 40 metros de comprimento fica bem atrás em termos de tamanho e capacidade de acomodação do custoso projeto ocidental.    Embora pequena, a Mir abrigou até três cosmonautas em missões de longa duração. No ano passado, os cosmonautas Vladimir Titov e Musa Manarov permaneceram a bordo o tempo recorde de 366 dias, 19 horas e 30 minutos. Os americanos também já tiveram uma experiência com estação orbital: o laboratório Skylab, onde, em 1973, três astronautas passaram 84 dias. Em 1979, seis anos e quatro versões depois, uma pane no sistema de correção de órbita fez com que o último Skylab se espatifasse na atmosfera. Anunciada em 1984 pelo então presidente Ronald Reagan, a Freedom deve continuar com mais recursos o trabalho de sua antecessora. Para os defensores do projeto nos Estados Unidos, ela é a base em que se assenta o futuro do programa espacial americano.
Para os críticos, não passa de uma extravagância: experiências a bordo dos ônibus espaciais - cujos lançamentos custam cerca de 50 milhões de dólares - ou mesmo numa estação mais modesta, segundo esses críticos, produziriam resultados iguais. Pode ser. Mas a diferença é que em nenhuma dessas naves oito astronautas poderiam viver quase normalmente. "A Freedom é uma excelente oportunidade para preparar o homem para longas viagens espaciais", justifica o físico John Bartoe, coordenador científico do projeto, ouvido por SI.
A estação é uma grande arcabouço horizontal de tubos ultraleves de fibra de carbono e epóxi. Nas duas pontas serão instalados painéis solares contendo cada um 250 mil células fotovoltaicas. Calcula-se que a estação levará 91 minutos para dar uma volta completa em torno da Terra. Durante os 54 minutos em que estiver voltada para o Sol em cada giro, poderá captar 75 mil watts de energia, suficientes para abastecer com folga os quatro módulos pressurizados - um de habitação e três laboratórios - no centro dessa torre espacial. A parte habitável terá paredes duplas de alumínio para amenizar o possível impacto do lixo à solta no espaço - restos de foguetes e satélites deixados em órbita.
Além de construir todo o arcabouço de estação, a NASA está encarregada de projetar o módulo habitacional e um dos laboratórios, de forma cilíndrica e medindo 13 metros de comprimento. De seu lado, a Agência Espacial Européia (ESA) pretende fazer um laboratório acoplado, além de um terceiro, que nem sequer precisará da estação para funcionar. Será uma nave solitária, mantida a cerca de 50 quilômetros da Freedom e usada para experiências científicas, que não poderiam ser realizadas a bordo por causa das interferências no ambiente produzidas pela presença dos astronautas. A cada seis meses, a tripulação de plantão da Freedom trará o módulo-laboratório para a estação, trocará seus experimentos por outros para em seguida liberá-lo por mais seis meses de vôo orbital independente.
Já a contribuição japonesa ao projeto será mais modesta: um laboratório de 10 metros, um pouco menor do que as versões americana e européia. Todo o conjunto será servido por um braço mecânico - contribuição do Canadá para a estação -, quase um  robô móvel capaz de operar equipamentos, manipular ferramentas e consertar instrumentos. É com esse braço - e com mais outro a ser construído pelos americanos para tarefas mais delicadas - que os astronautas pretendem montar a estação no espaço.
Imaginada com tanta antecedência, essa configuração por certo não é definitiva. "Pelo menos mais cinco módulos poderão ser acrescentados no futuro", anuncia Bartoe, da NASA. Europeus, japoneses e americanos também querem construir mais cinco satélites. Estes, ao contrário da Freedom - em órbita equatorial -, devem girar em volta dos pólos. O módulo habitacional com cerca de 13 metros de comprimento será o coração da Freedom. Parecido com o carro-leito de um trem, terá um corredor comprido cercado por todos os lados - literalmente, porque na ausência de gravidade não existe chão nem teto - por armários, cabines, bancadas de trabalho, painéis de controle e pelo menos uma grande janela com direito a uma paisagem para ninguém botar defeito: o planeta Terra. Os astronautas da Skylab que passaram 84 dias no Cosmo eram ex-pilotos de testes acostumados com espaços apertados e imunes à claustrofobia. Mesmo assim, houve ocasiões em que eles se sentiram "como se estivéssemos enterrados vivos num caixão", nas palavras do astronauta Gerald Carr. 
A fim de contornar esse problema. a NASA pretende fazer tudo para transformar a estação num lugar bom para viver e trabalhar - e nesse sentido ela proporcionará lições valiosas para futuras viagens a outros planetas. "A Freedom não deve refletir apenas a habilidade da tripulação em sobreviver em condições adversas", lembra a psicóloga da NASA Ivonne Clearwater. Mesmo porque, refletindo os novos tempos que se anunciam para a conquista espacial, ela não só terá uma população heterogênea, em termos das aptidões de cada um, o que já acontece nos ônibus espaciais, mas também de várias nacionalidades, moda que começou nas estações soviéticas. "A Freedom terá provavelmente astronautas da Europa e do Japão", disse a SI em Paris o engenheiro francês Patrick Eymar, da empresa Aerospatiale, encarregada da construção da parte  européia da Freedom.
Mantido o esquema atual, cada astronauta terá seu próprio quarto - se é que assim se pode chamar a área um pouco maior que uma cabine telefônica. Mas, como chão, paredes e teto poderão ser usados indistintamente, segundo os engenheiros, ninguém terá a sensação de sardinha em lata tão conhecida das gerações anteriores de viajantes espaciais. Cada quarto terá um saco de dormir preso à parede, pois a ausência de gravidade dispensa cama tradicional. Gavetas e armários estarão ao alcance da mão, bem como o terminal de vídeo, mediante o qual os astronautas poderão se comunicar com a Terra e programar suas atividades diárias. "Não se descarta a possibilidade de enviar mulheres ou mesmo casais para a estação". informa o americano Bartoe. Neste último caso, as paredes entre dois quartos individuais seriam retiradas. Mas cada astronauta terá o seu saco de dormir individual. Para ajudar a tripulação a reproduzir a sensação de pés na Terra, os módulos terão o que supostamente seria o chão pintado de uma cor mais escura do que o suposto teto.
A rotina diária dos oito astronautas deverá ser igual à do cotidiano terrestre: oito horas de trabalho, oito de lazer e oito de sono. Durante as horas reservadas à pesquisa, os cientistas poderão estudar temas tão díspares como a formação de cristais de proteína, dinâmica de materiais e a fisiologia de plantas, animais e deles próprios em condições extraterrestres. "Programar o lazer dos astronautas também é importante", frisa o engenheiro Max Grimard, chefe do chamado Programa de Infra-estrutura Orbital da Aerospatiale. A tripulação poderá ouvir música, assistir a um vídeo ou conversar com a família no centro de controle da NASA em Houston, Texas.
Como os cosmonautas soviéticos na Mir (SI n.º 11, ano 2), os futuros moradores da Freedom terão de  adaptar o organismo às condições do Cosmo. Viver na ausência de gravidade pode trazer conseqüências desagradáveis para a saúde. Os músculos, por exemplo, quase não são utilizados e acabam perdendo a rigidez - daí a preocupação com a ginástica corretiva. Além de usar roupas especiais com elásticos que exercem pressão sobre os músculos, os astronautas poderão recorrer a aparelhos clássicos para quem quer, ou precisa, manter a forma: uma esteira rolante, obviamente com cintos que prendem os pés ao tapete, e a bicicleta ergonométrica, também munida de presilhas. Os astronautas também serão submetidos a eletrocardiogramas diários, pois, devido à microgravidade, a atividade cardíaca é menor.
A cada três meses, a tripulação receberá a visita de um ônibus espacial encarregado de levar alimentos, água, roupas e cartas de casa. "Uma das nossas maiores preocupações é diminuir ao máximo a carga transportável", diz o francês Grimard. Por isso, os técnicos estudam maneiras de purificar cada gota de água e cada molécula de oxigênio a bordo. O dióxido de carbono (CO2 ) eliminado na respiração será recuperado para a obtenção de oxigênio. A água - inclusive da urina - será reaproveitada na higiene das roupas, pratos e nos banhos. Ela só não servirá para beber. "Do ponto de vista psicológico não se pode exigir de um astronauta que passe seis meses bebendo urina reciclada", brinca Patrick Eymar.
Já a comida não deverá ser produzida a bordo. Cardápios completos serão enviados na forma desidratada ou congelada. A cozinha de bordo terá dois fornos de microondas e um freezer-geladeira, além de uma máquina de lavar pratos, naturalmente. Esses eletrodomésticos são um luxo para astronautas acostumados à comida padrão dos ônibus espaciais. Mesmo assim, preparar um delicioso filé com fritas a bordo da Freedom não será uma tarefa fácil: como sempre, qualquer alimento deve estar bem encaixado no prato para não flutuar pela nave, obrigando o faminto astronauta a uma indesejável brincadeira de pega-pega.
"Tomar banho na estação também será uma operação complicada e desagradável", reconhece o francês Eymar. A água flutuando livremente é um aborrecimento, além de prejudicar os experimentos de bordo. Assim, cada astronauta deverá sugar com uma espécie de aspirador até a última gota que sobrou dentro do boxe, antes de abri-lo. Da mesma forma, o que os engenheiros chamam polidamente waste management system (sistema de administração de dejetos), ou, em bom português, privada, será dotado de um aspirador para evitar que os tais dejetos flutuem livremente pela estação. A propósito, o cosmonauta soviético Georgy Grechko conta que em 1985, quando esteve na Salyut 7, viu, flutuando no espaço, sacos de fezes jogados da nave.
Nos próximos anos - se for efetivamente dada a largada para a construção da Freedom -, cientistas de  universidades e grandes empresas estarão começando a planejar a utilização da estação. Segundo o físico Bartoe, da NASA, o tempo a bordo será controlado da mesma forma como os institutos astronômicos dividem o tempo de uso de seus telescópios. Só que, nesse caso, não para ver estrelas, mas para conseguir remédios, plantas e materiais melhores. Mas o grande sonho dos participantes do programa é fazer da Freedom um local para reabastecer e prestar serviços a satélites, além de trampolim para foguetes que se dirijam a lugares ainda mais distantes - a Lua ou o planeta Marte.

Liberdade e Paz

As diferenças entre a estação americana e a soviética      
FREEDOM    
Comprimento     110 metros                  
espaço interno    448 metros cúbicos            
área útil             166 metros quadrados            
peso                 320 toneladas                        
consumo de 
energia               75 quilowatts                        

 MIR    
Comprimento   40 metros    
espaço interno  125 metros cúbicos 
área útil            52 metros quadrados
peso                  50 toneladas 
consumo de 
energia            16 quilowatts


Dos pólos ao espaço

A experiência de passar seis meses no espaço dentro de uma estação parecida com um vagão de trem faz parte do original tema de estudo de uma pesquisadora brasileira, a socióloga Lúcia Regina Marcondes D´Elia, há oito meses em Paris a convite do Centro de Estudos Árticos, para analisar o comportamento dos ocupantes das bases francesas na região polar norte. Suas conclusões e mais o relato da duas viagens que fez à Antártida, em 1984 e 1985, serão levadas à NASA para ajudar a agência a elaborar métodos de treinamento dos astronautas da Freedom.
"Astronautas, pesquisadores polares, tripulações de submarinos e operários de plataformas marítimas de petróleo têm muita coisa em comum", identifica a socióloga. "Todos estão confinados em espaços limitados que, por serem inóspitos, podem oferecer perigo. Por isso, eles são obrigados a aprender um conceito de vida em comunidade, onde de cada um depende a sobrevivência de todos." Ela explica que em geral tais profissionais são extremamente individualistas, o que complica a adaptação.
Além de observar o comportamento alheio, Lúcia Regina aplicou na Antártida e no Ártico testes cronobiológicos para avaliar a influência do ambiente sobre os períodos de vigília e sono, além de testes de níveis de percepção, afetados ali pela falta de estímulo, como cores e formas. Mas, para ela, um dos melhores materiais de pesquisa está no reaproveitamento do espaço pelos seus habitantes. "Por mais que se queira projetar um quarto racional e esteticamente perfeito, ele sempre será rearrumado por seu ocupante", comenta. "Um objeto pessoal aqui, uma foto acolá dão ao lugar mais insólito uma aparência de casa normal."


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Pesquisadores encontram microlua

04/03/09 - 10h37 - Atualizado em 04/03/09 - 10h37

Pesquisadores encontram microlua em meio aos anéis de Saturno
Objeto mede apenas cerca de 500 m e está no chamado anel G do planeta.
Pequeno satélite teria relação com surgimento dos arcos em torno do astro.

Cientistas encontraram uma nova lua oculta em um dos anéis de Saturno. A nave não-tripulada Cassini detectou o objeto, que mede cerca de 500 m. A descoberta foi anunciada numa nota da União Astronômica Internacional.




Microlua aparece como pontinho mais escuro nesta sequência de imagens (Foto: Nasa/JPL/Space Science Institute)
Os pesquisadores sempre tiveram dúvidas sobre a formação do anel G, um dos mais misteriosos anéis de Saturno. Uma das hipóteses atuais é que ele surgiu a partir de fragmentos de gelo espalhados quando meteoritos se chocaram com a lua recém-descoberta. O planeta gigante já tem cerca de 60 luas registradas.


PUBLICADOS BRASIL NO ORKUT

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