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sábado, 20 de janeiro de 2018

5 fatos surpreendentes sobre a Bíblia que você certamente não sabia



5 fatos surpreendentes sobre a Bíblia que você certamente não sabia


A Bíblia, um dos livros mais populares na história da literatura universal, foi traduzida para mais de 2.500 idiomas e reúne vários livros sagrados da tradição judeu-cristã. Embora, provavelmente, ninguém ignore sua existência, é verdade que existem alguns fatos curiosos que poucas pessoas conhecem: 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Estudo mostra que chimpanzés também podem acreditar em Deus


Estudo mostra que chimpanzés também podem acreditar em Deus


Aqui vai uma pergunta que pode soar um tanto quanto estranha para você: macacos acreditam em Deus?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Você sabe qual é a diferença entre espírito e alma?


Você sabe qual é a diferença entre espírito e alma?


Você já parou para pensar sobre se existe alguma diferença entre espírito e alma? É comum vermos essas palavras sendo usadas em expressões como “paz de espírito”, “alma caridosa”, “espírito maligno”, “alma penada” etc., bem como quando nos referimos àquela parte de nosso ser que não é palpável, mas que mesmo assim faz parte de nós.

Na verdade, as definições de alma e espírito são um tanto confusas, conforme explica Debra Kelly do site Knowledge Nuts, especialmente sob o ponto de vista religioso. Contudo, apesar de até mesmo na bíblia as duas palavrinhas serem embaralhadas em algumas passagens, de modo geral, a alma é aquela que reside em nossos corpos enquanto estamos vivos, e o espírito é eterno — dependendo das nossas crenças!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Alcatrazes - Laboratório da Natureza - Teologia

ALCATRAZES - Laboratório da Natureza - Teologia


Para quem olha do litoral, Alcatrazes é apenas uma manchinha escura no horizonte, a 33 quilômetros da costa de São Paulo. Difícil acreditar que  já foi possível chegar lá a pé, antes que acabasse a última glaciação, uns 8 500 anos atrás. Hoje, as doze ilhas, ilhotas e lajes se mantêm praticamente intocadas. O gelo derreteu, a água do mar subiu e o isolamento transformou o arquipélago num lugar inóspito para o homem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Esse homem chamado Jesus.

ESSE HOMEM CHAMADO JESUS.



O que se conhece de Jesus é praticamente apenas o que contam os evangelhos. Mas novas interpretações dos textos bíblicos permitem entender com muito mais riqueza sua figura histórica e o conteúdo de sua ação no tempo em que viveu. Tudo o que é humano está nele presente: alegria e ira, bondade e dureza.

Quem foi afinal Jesus? A resposta é difícil - principalmente porque os únicos relatos sobre sua vida são os evangelhos, escritos e reescritos décadas depois de sua morte. A Igreja aceita como válidos apenas quatro desses textos, os chamados evangelhos canônicos, atribuídos pela tradição a Mateus, Marcos, Lucas e João. Outros evangelhos, denominados apócrifos, apresentam narrativas que, às vezes, se chocam fortemente com a dos canônicos. Refletem concepções religiosas e políticas que se desenvolveram nos primeiros séculos do cristianismo e chegaram a ser acusadas de heresia. Estudos bíblicos contemporâneos vêm submetendo tanto os textos canônicos quanto os apócrifos a uma cuidadosa releitura crítica.
Para começar, Jesus nasceu antes de Cristo. Um erro cometido séculos depois no cálculo do calendário é responsável por esse paradoxo. O fato histórico usado como referência para a datação do nascimento é o primeiro recenseamento da população da Palestina, ordenado pelas autoridades romanas com o objetivo de regularizar a cobrança de impostos. Lucas diz em seu evangelho que Jesus nasceu na época do censo. Estudos mais recentes situam esse acontecimento entre os anos 8 e 6 a.C.
Maria e José, os pais de Jesus, teriam se deslocado de Nazaré, na Galiléia, onde viviam, para Belém, na Judéia - cidade de origem de José e onde ele deveria se alistar para o censo. Mas a definição de Belém como a cidade natal de Jesus também é motivo de polêmica entre os estudiosos. Belém era a cidade de Davi, que reinou em Israel por volta do ano 1000 a.C. Na época em que Jesus nasceu, os judeus esperavam por um líder, que os livrasse do jugo romano e restabelecesse a realeza.
Segundo profecias do Antigo Testamento, esse libertador - o messias, que significa o "ungido", como os antigos reis de Israel - seria descendente de Davi. Para os evangelhos, especialmente o de Mateus, Jesus é o messias esperado: por isso seu nascimento ocorre em Belém; por isso também ele é saudado pela aparição de uma estrela, símbolo de Davi.
Conforme o relato de Mateus, Jesus descende de Davi por meio de José. O autor procura conciliar essa origem com a virgindade de Maria, referida no mesmo texto. O que se quer mostrar, evidentemente, é que o nascimento de Jesus ocorre a partir de uma intervenção direta de Deus. É uma idéia que aparece com freqüência no pensamento antigo. Não só heróis mitológicos, mas também grandes personagens históricos têm seu nascimento associado a uma divindade. Os faraós do Egito eram considerados filhos de Amon-Ra, o deus Sol. E a mãe de Alexandre, o Grande (356 a.C.-323 a.C.), estava convencida e convenceu o filho de que ele era descendente de Zeus, o deus supremo da mitologia grega.
Para a Igreja Católica, Maria permaneceu virgem mesmo depois do nascimento de Jesus. A expressão irmãos e irmãs, empregada por Mateus e Marcos, designaria parentes mais distantes de Jesus, como seus primos. Essa opinião é contestada pelos protestantes, que acreditam que os irmãos que aparecem nos evangelhos eram irmãos mesmo. Eles são citados pelos nomes: Tiago, José, Simão e Judas. Tiago, conhecido como Tiago, o Maior, fez parte do círculo dos discípulos mais íntimos; após a morte de Jesus e a saída do apóstolo Pedro de Jerusalém, assumiria a chefia da Igreja.
A ação de Jesus transcorreu principalmente entre os pobres e marginalizados de seu tempo. A fértil região da Galiléia, onde presumivelmente passou a maior parte de sua vida, abrigava uma população miserável, vista até com desconfiança pelos judeus conservadores, pela presença em seu interior de elementos pagãos originários da Síria. Como lembra o estudioso Paulo Lockmann, bispo da Igreja Metodista no Rio de Janeiro, quando Jesus disse "bem-aventurados os pobres em espírito", era dessa população rústica que ele falava.
A própria família de Jesus, porém, puramente judaica, como se pode verificar pelos nomes de seus membros, não era assim tão pobre. Como carpinteiro, José era um artesão pequeno proprietário. Num meio em que os ofícios passavam de pai para filho e eram patrimônio de família, é quase certo que Jesus tenha herdado e exercido a carpintaria.
A lacuna de quase trinta anos na narrativa dos evangelhos - do nascimento de Jesus ao início de sua pregação - deu margem a todo tipo de fantasia. Autores imaginosos fizeram-no viajar a lugares tão longínquos quanto a Índia e o Tibete, em busca dos fundamentos de sua doutrina. Para o estudioso católico Euclides Balancin, do corpo de tradutores para o português da Bíblia de Jerusalém, essas suposições não têm nenhum fundamento. "É muito improvável que Jesus tenha se afastado da Palestina", diz. "O único ensinamento religioso com que ele teve contato era aquele acessível a qualquer judeu da época - as Escrituras. O aspecto revolucionário de sua ação é que ele procurou levar as idéias do Antigo Testamento à prática."
A espetacular descoberta das ruínas e dos manuscritos da comunidade dos essênios, ocorrida em 1947 na localidade de Qumran, às margens do mar Morto, no atual território de Israel, alimentou durante bom tempo a suposição de que Jesus pudesse ter pertencido a essa irmandade religiosa. Mas a crítica mais recente vem desmentindo também essa hipótese.
A comunidade dos essênios era formada principalmente por sacerdotes que haviam rompido com o alto clero de Jerusalém, constituído por grandes proprietários de terras que aceitavam a dominação romana. Abandonando a Cidade Santa, os sacerdotes dissidentes se fixaram nas grutas da região desértica à margem do mar Morto, onde os bens eram divididos entre todos, cada um devia trabalhar com as próprias mãos e o comércio era proibido.
Esses judeus puritanos esperavam a chegada iminente do messias, que viria organizar a guerra santa para eliminar os ímpios e estabelecer o reino eterno dos justos. Os que aspiravam pertencer à comunidade deviam passar por um complexo e prolongado período de iniciação, que incluía o batismo com água. O significado simbólico desse rito era o da morte e ressurreição do indivíduo: ao ser mergulhado na piscina batismal, este morria e renascia para uma nova vida.
É provável que a ideologia dos essênios tenha influenciado o pensamento e a prática de Jesus, assim como da comunidade cristã primitiva. Mas as diferenças também são muito grandes. Como ressalta o padre Ivo Storniolo, coordenador da tradução da Bíblia de Jerusalém, enquanto os essênios se afastavam do mundo injusto e corrompido para viver um ideal de pureza à espera do messias, Jesus mergulhava nesse mundo para transformá-lo.
Além disso, a comunidade dos essênios era rigidamente organizada e hierarquizada, ao passo que a prática de Jesus era informal. "As expressões pregação ou ministério de Jesus podem induzir a um erro de avaliação", comenta Storniolo. "É preciso ter claro que Jesus não era um sacerdote. Raramente pregava nas sinagogas. Seus ensinamentos e sua ação se davam no meio do povo, nos locais de moradia e de trabalho."
De seu lado, o protestante Paulo Lockmann acrescenta: "Nunca um essênio se sentaria à mesa de um publicano (cobrador de impostos) ou pecador como Jesus fez. Ele foi além disso e afirmou que os publicanos e as prostitutas estão vos precedendo no Reino de Deus, querendo mostrar que, quanto mais um homem é pecador, mais ele está em revolta contra o mundo em que vive e mais aberto à transformação".
Próximo dos essênios, sem dúvida, estava João, o Batista. Ele era um asceta rigoroso, que pregava no deserto próximo à comunidade de Qumran, batizava com a água e anunciava a vinda do messias. O tipo de relacionamento que pode ter havido entre Jesus e João Batista intriga os estudiosos. Como Jesus, João tinha um círculo de discípulos, dois dos quais, atendendo à sua indicação, teriam se passado para o grupo de Jesus, integrando o conjunto dos doze apóstolos. Um desses discípulos era André, irmão de Pedro.
Para João, Jesus era o messias esperado. Nele, João via a intervenção iminente de Deus na história. Mas, depois de ser preso pelas autoridades e como Jesus não desse início à guerra santa, João enviou dois discípulos para interrogá-lo se ele era realmente "aquele que há de vir ou devemos esperar outro". Se a resposta indireta de Jesus, citada por Lucas, convenceu João não se sabe. Sabe-se que não convenceu uma parte de seus seguidores. Estes, após a execução do líder, passaram a acreditar que João era o messias e fora traído por Jesus. A partir daí fundaram uma religião, o mandeísmo de que há tênues vestígios ainda, no Irã e na Turquia.
Batizado por João, Jesus meditou e jejuou por quarenta dias no deserto. Essa passagem tem um claro significado. Não só na biografia de fundadores de religiões, como Buda ou Maomé, mas também na trajetória de homens comuns entre os povos primitivos, a preparação para a etapa mais importante da vida é precedida por um período de solidão junto à natureza, quando a pessoa se confronta consigo mesma. O demônio que tentou Jesus durante esse período pode ser interpretado como seu demônio interior - o lado sombrio que todo homem tem dentro de si.
Segundo Mateus, quando Jesus teve fome, o diabo lhe disse: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". Depois, levando-o ao alto do templo de Jerusalém, o desafiou: "Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos..." Finalmente, conduzindo-o a um monte muito alto, "mostrou-lhe todos os reinos do mundo com seu esplendor e disse-lhe: Tudo isso te darei, se, prostrado, me adorares". Para Ivo Storniolo, "as tentações no deserto são um resumo das tentações que Jesus sofreu ao longo da vida. Três tentações que a sociedade propõe: riqueza, prestígio e poder. Sociologicamente, há nos evangelhos uma crítica à sociedade baseada nesses valores, por serem privilégio de uma minoria".
Mesmo a estruturação dos ensinamentos de Jesus nos grandes sermões que aparecem nos evangelhos canônicos é posterior à sua morte e se deu pela reunião, em discursos extensos, de frases ditas em ocasiões e contextos diversos. O núcleo de sua mensagem está no Sermão da Montanha, de conteúdo marcadamente social.
Nesse aspecto, a versão do Evangelho de Lucas é ainda mais vigorosa que a de Mateus: "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-venturados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem, insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque no céu será grande a vossa recompensa; pois do mesmo modo seus pais tratavam os profetas..."
O ponto culminante da trajetória de Jesus, para o qual convergem as narrativas evangélicas, foi sua estada em Jerusalém, onde se confrontou diretamente com o centro do poder, foi preso, condenado e crucificado. Sua entrada na cidade foi triunfal, sendo recebido pela multidão que estendia as vestes sobre o caminho para que ele passasse e o saudava como o messias libertador. Suas palavras e ações, entretanto, logo deixaram claro que ele não vinha liderar uma rebelião militar contra o domínio romano, mas propor uma transformação de outro tipo na estrutura da sociedade e na mentalidade dos homens.
Um de seus primeiros gestos, cheio de significado e conseqüências, foi expulsar os comerciantes do Templo. Este não era apenas o núcleo religioso do país, mas também uma importante unidade econômica, envolvida na cobrança de impostos e num intenso comércio, que visava tanto atender às necessidades dos numerosos peregrinos como manter o sistema de vendas de animais, ofertados pelos fiéis em sacrifício. Essa economia do templo era uma das bases do poder da elite sacerdotal, que Jesus afrontava diretamente com seu ato.
Por outro lado, as palavras de Jesus se voltam contra o que ele considerava uma religião minuciosa e formalista, que se afastava do conteúdo profundo e da mensagem social das Escrituras: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas. Condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo!"
O famoso episódio em que Jesus é interrogado pelos fariseus e partidários da dinastia de Herodes sobre se se devia ou não pagar tributos a Roma é explicitamente descrito, em Mateus, Marcos e Lucas, como uma trama visando arrancar dele alguma declaração que pudesse incriminá-lo perante as autoridades romanas. A resposta de Jesus - "Devolvei o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus" - certamente decepcionou os que esperavam dele a liderança de uma insurreição nacionalista. Quando, de acordo com o costume de se libertar um prisioneiro durante a festa da Páscoa, o procurador romano Pôncio Pilatos consultou o povo se devia anistiar Jesus ou Barrabás, acusado de morte, os evangelhos dizem que a cúpula sacerdotal procurou tirar partido dessa decepção, incitando a multidão a escolher Barrabás.
Os modernos estudos críticos dos evangelhos vêm permitindo tratar da dimensão existencial de Jesus, antes encarada como tabu. Como mostra Leonardo Boff, em seu livro Jesus Cristo libertador, tudo que é autenticamente humano aparece em Jesus: alegria e ira, bondade e dureza, tristeza e tentação. No entanto, suposições como a de um eventual relacionamento amoroso com Maria Madalena não encontram nenhum apoio nos textos evangélicos.
A própria Maria Madalena, aliás, já foi erroneamente confundida com a "pecadora", mencionada por Lucas, que teria lavado, enxugado com os cabelos, beijado e perfumado os pés de Jesus na casa de um fariseu. Não há evidência de que sejam a mesma pessoa. O que se diz de Maria Madalena em diversas passagens é que dela Jesus expulsou "sete demônios", que estava presente entre as mulheres que acompanharam Jesus ao monte Calvário, onde foi executado, e que Jesus lhe apareceu e falou depois da ressurreição.
Um dos pontos mais delicados na tentativa de reconstituir a dimensão histórica de Jesus são os milagres a ele atribuídos. É preciso ter claro que a separação que se faz hoje entre natural e sobrenatural praticamente não existia naqueles tempos. Os evangelhos dão numerosos testemunhos das curas operadas por Jesus. Em meio a um povo miserável e inculto, Jesus vai libertando as pessoas de seus males: a cegueira, a mudez, a surdez, a paralisia, a loucura.
Padre Storniolo sublinha o caráter alegórico de muitos relatos de milagres. Seria o caso, por exemplo, de Jesus caminhando sobre as águas: "O mar no Antigo Testamento era o símbolo das nações que podiam invadir a Palestina e dominar o povo. Os discípulos na barca agitada pelas ondas simbolizam a comunidade cristã primitiva com medo de se afogar no mar da História. Jesus vem então caminhando sobre as águas, como prova de que, pela fé, aquela comunidade podia ser vitoriosa. Pedro também caminha, até o instante em que duvida. Nesse momento divide suas energias, perde seu poder e começa a afundar, sendo salvo por Jesus".
Um dos milagres de Jesus, citado com mais detalhes por Lucas, é o da cura da mulher que sofria de hemorragia ininterrupta. Aproximando-se por trás de Jesus, que caminhava entre o povo, ela tocou a extremidade de sua veste. Jesus perguntou então: "Quem me tocou?" Como todos negassem, Pedro disse: "Mestre, a multidão te comprime e te esmaga". Mas Jesus insistiu: "Alguém me tocou; eu senti uma força que saía de mim". Então a mulher se apresentou e Jesus lhe disse: "Minha filha, tua fé te curou; vai em paz". O que chama a atenção, no caso, é Jesus ter sentido "uma força que saía" dele - algo que, em linguagem moderna, talvez pudesse ser chamado poderes paranormais.

Política e religião no tempo de Jesus

A ansiosa espera pelo messias libertador reflete a opressão a que o povo judeu estava submetido, sob o domínio romano. Depois da morte de Herodes I (73 a.C.-4 a.C.), rei vassalo de Roma que não gozava de legitimidade junto à população, a Palestina foi dividida entre três de seus filhos: Arquelau, Filipe e Herodes Antipas. A Galiléia, onde Jesus vivia, coube ao último, responsável pela decapitação de João Batista.
Arquelau, rei da Judéia e Samaria, foi substituído pelo procurador romano Pôncio Pilatos, sob cujo mandato Jesus Cristo foi crucificado. Mas o sumo sacerdote do templo de Jerusalém, Caifás, tinha grande influência no governo. Apoiava-se no Sinédrio, conselho de 71 membros formado por altos sacerdotes, anciãos das famílias judias mais ilustres e doutores da Lei.
Vários grupos moviam-se na cena política. No alto da pirâmide social estavam os saduceus - a elite sacerdotal e os grandes proprietários de terras. Eram judeus conservadores que se alinham ao texto da Lei, tal como aparece nas Escrituras, e colaboravam com o dominador romano.
Logo abaixo, vinham os fariseus - elementos do baixo clero, pequenos comerciantes e artesãos. Eram hostis à presença romana, mas sua oposição era apenas passiva. Em todas as questões da vida cotidiana, cumpriam zelosamente a Lei e as tradições orais acumuladas ao longo dos séculos. Em confronto com o templo de Jerusalém, o centro de sua expressão eram as sinagogas, presentes nos menores lugarejos.
Saído dos fariseus, o grupo dos zelotas era formado por camponeses e outros membros das camadas mais pobres, esmagadas pelos impostos. Muito religiosos, eram nacionalistas radicais. Queriam expulsar pelas armas os romanos e instituir um Estado onde Deus fosse o único rei, representado pelo messias, descendente de Davi. Considerado agitador e assassino pela tradição cristã, Barrabás foi um líder zelota.
Entre os apóstolos de Jesus, dois devem ter sido zelotas: Simão e Judas Iscariotes. Também Pedro parece ter simpatizado com eles. O nome Iscariotes pode significar que Judas fosse da cidade de Kariot, foco da ação zelota, ou viria da expressão aramaica Ish Kariot, que quer dizer "o homem que leva o punhal". Sua traição a Jesus pode ser interpretada como um ato resultante de divergência política: enquanto a ação dos zelotas se voltava contra o dominador estrangeiro, a pregação de Jesus visava a própria estrutura social da Palestina.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

São Pedro - O primeiro Papa

SÃO PEDRO - O PRIMEIRO PAPA



No dia em que João Paulo II morreu, foi retirado de sua mão esquerda um dos símbolos mais tradicionais do poder papal: o Anel do Pescador. Trata-se de uma peça forjada em ouro puro, que traz inscrito em alto-relevo o nome do papa - além da gravura de um homem lançando redes de pesca. Um anel idêntico (com o mesmo desenho, mas outro nome) foi entregue para Joseph Ratzinger durante a cerimônia da consagração - junto, é claro, com o poder supremo sobre a Igreja Católica.

A insígnia no anel faz referência ao primeiro homem que, segundo a tradição, teve esse poder - um humilde pescador que iniciou sua vida no litoral da Galiléia. O mais antigo precursor de Bento XVI foi um judeu, nascido na região que hoje forma o Estado de Israel, e se chamava Simão Ben Jonas - mas tornou-se famoso com o nome que, segundo o relato dos Evangelhos, foi-lhe dado por Jesus Cristo em pessoa: Pedro, a "Rocha".

Na verdade, o anel é mais do que apenas uma homenagem. É sobre a figura de Pedro que reside, em última análise, o poder do Vaticano e o do papa. Não fosse ele, o bispo de Roma poderia ser apenas mais um dentre vários líderes católicos. A origem e a justificativa do papado dependem desse pescador da Galiléia. E, para entender o porquê, é preciso conhecer a história dele.



Pedro, o líder da Igreja Católica?

Simão entrou para a história do cristianismo - e do mundo - por volta do ano 28 ou 29. Na época, ele vivia na cidade de Cafarnaum, na costa noroeste da Galiléia. Certo dia, enquanto apanhava peixes, a vida simples e pacata de Simão mudou para sempre. De acordo com o Evangelho de Marcos, um desconhecido aproximou-se pelas margens e o convidou a se tornar seu discípulo. Pedro aceitou a proposta, deixou de lado seu barco e suas redes e seguiu aquele pregador misterioso, que vinha da cidade de Nazaré e dizia ser o Messias enviado por Deus. Seu nome era Jesus.

Foi ao longo das andanças pela Galiléia que Jesus pregou sua doutrina e, de acordo com os Evangelhos, realizou grande parte de seus milagres. E o pescador Simão o acompanhou o tempo inteiro. Dentre os doze principais discípulos, ele era certamente o favorito: Pedro é o apóstolo mais citado nos Evangelhos e aparece ao lado de Cristo em vários momentos cruciais de sua pregação. Também é o mais dedicado, ardoroso e o primeiro a reconhecer Jesus como o "Filho de Deus".

Sua proeminência fica bem clara em uma passagem que, nos séculos seguintes, daria muito o que falar a historiadores e teólogos. De acordo com as Escrituras, Jesus conferiu a Simão um novo nome, Kepa - palavra hebraica que significa "rocha" ou "pedra". No futuro, o termo seria traduzido para o grego petros e para o latim petrus, até chegar ao português "Pedro". Para muitos, esse apelido é uma investidura de poder. A narrativa mais completa do fato encontra-se no capítulo 16 do Evangelho de Mateus. Quando passavam pela região conhecida como "Cesaréia de Felipe", Jesus disse a Simão, diante de todos os apóstolos: "Tu és Kepa (ou Pedro) e sobre essa pedra edificarei minha igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino do céu, e o que ligares na Terra será ligado nos céus". Para muitos teólogos, esse trecho é a prova de que Pedro foi escolhido como o maior representante de Cristo sobre a Terra. Ele não seria apenas o líder do cristianismo, mas o porta-voz da vontade divina. Em Um Judeu Marginal, o historiador americano John Meier resume a opinião católica sobre o assunto: "As decisões de Pedro, autorizadas aqui na Terra, são ratificadas no reino do céu. Pedro fica no lugar de Jesus. A autoridade que ele recebe diretamente de Cristo se estende a toda a Igreja, sem restrição".

Ou seja: Pedro teria sido apontado como primeiro e supremo chefe do cristianismo - e suas decisões deveriam ser consideradas infalíveis, já que têm o aval de Cristo. De acordo com a doutrina católica, as prerrogativas de Kepa foram herdadas por seus sucessores, os bispos de Roma - ou seja, os papas. Mas para entender por que o Vaticano se considera o herdeiro legítimo de Pedro, é preciso dar uma olhada no que ele andou fazendo em suas últimas décadas de vida.



Pedro, o primeiro bispo de Roma?

Logo após a crucificação de Cristo, no ano 30, o pescador da Galiléia passou a chefiar a Igreja recém-nascida. Além de organizar os fiéis em Jerusalém - o primeiro centro da nova religião - , Pedro pregou em cidades distantes como Corinto (na Grécia) e Antióquia (na atual Turquia).

Sua importância como líder do cristianismo primitivo foi gigantesca. Entretanto, pouco se sabe sobre a vida de Pedro - em especial, sobre suas andanças finais. A maior parte das informações a seu respeito vem dos evangelhos, dos Atos dos Apóstolos e das epístolas (ou cartas) escritas pelos primeiros discípulos de Cristo. Outras pistas podem ser encontradas em textos de alguns historiadores antigos, que escreveram nos primórdios do cristianismo, ou pelas lendas que se formaram ao seu redor. E só. Uma antiqüíssima tradição católica garante que o apóstolo viajou para Roma, em meados do século 1, fundando a primeira comunidade cristã da cidade. Essa hipótese é fortemente sustentada por historiadores como Eusébio de Cesaréia - que, embora tenha vivido cerca de dois séculos depois de Pedro, fundamentou sua obra na opinião de autores mais antigos.

Verdade ou não, o fato é que, já no século 2, Pedro era tido pelos líderes católicos como o primeiro bispo de Roma. E mais: de acordo com a Ata dos Mártires - documento composto pelos primeiros cristãos -, foi no território da moderna capital italiana que o maior dos apóstolos encontrou a morte, provavelmente na época do imperador Nero. Segundo Orígenes, um erudito do século 3, Pedro foi preso pelos romanos e condenado à crucificação. Julgando-se indigno de morrer da mesma maneira que Jesus, ele pediu que o crucificassem de cabeça para baixo - e seu desejo foi atendido.

Durante o século 20, investigações arqueológicas feitas a pedido do papa Pio XII descobriram um grande cemitério cristão nos subsolos do Vaticano, sob a atual Basílica de São Pedro. Os arqueólogos concordaram que a necrópole datava do século 1 - e que provavelmente um grande mártir ali fora enterrado. Ninguém sabe quem, mas muita gente jura de pés juntos que era ninguém menos que Simão da Galiléia.

A presença e o martírio de Pedro na cidade foram usados para comprovar o "primado de Roma" - a idéia de que o Vaticano e seu bispo herdaram a liderança cristã, em linhagem direta, do escolhido de Jesus Cristo. Mas não faltou quem questionasse tanto sua posição como "porta-voz" de Cristo, quanto o direito dos bispos romanos de se declararem seus herdeiros.



Papas, herdeiros de Pedro?

A relação entre Jesus e seu discípulo favorito nem sempre foi um mar de rosas. Embora tenha sido escolhido para "guiar o rebanho" de Cristo, Pedro também recebeu críticas violentas do mestre. O Evangelho de Marcos conta que, quando Jesus anunciou que sua missão divina era ser preso, torturado e crucificado, Pedro "tomou-o à parte e começou a repreendê-lo". Jesus então disse: "Afasta-te de mim, Satanás, pois teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens". Há também o famoso episódio da noite em que Jesus foi preso. Conta a Bíblia que Cristo havia reunido seus apóstolos para uma ceia, a última que fariam juntos. Voltando-se para Pedro, disse: "Ainda hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes." E Pedro: "Mesmo que seja preciso morrer contigo, jamais te negarei!" Horas depois, Jesus foi preso e levado à casa do sumo-sacerdote Caifás, onde se reunia o conselho religioso judaico - que acusava Jesus de blasfêmia por se declarar o Filho de Deus. Pedro seguiu o mestre e se misturou à criadagem da casa, para espiar o interrogatório. Alguns servos o reconheceram como um dos seguidores do "nazareno" e Pedro, com medo de ser preso, repetiu três vezes que não conhecia Jesus. Nesse momento, o galo cantou - e, de acordo com o Evangelho de João, Jesus o olhou diretamente. Percebendo o que fizera, o apóstolo foi para a rua "e chorou amargamente".

Mais tarde, a liderança de Pedro seria criticada por seus próprios aliados. A polêmica mais contundente foi levantada por Paulo de Tarso - outro discípulo ardoroso, responsável por grande parte da disseminação do evangelho em terras "pagãs". Em sua Epístola aos Gálatas, Paulo acusa Pedro de certa relutância em entregar-se à conversão dos gentios - ou seja, os povos não-judeus. Para Paulo, certos costumes judaicos, como a circuncisão e as restrições alimentares, não deviam ser impostas aos estrangeiros interessados em abraçar o cristianismo.

Esses episódios da vida de Pedro inspiraram nada menos do que os grandes cismas do catolicismo. Com base neles, no século 2, seguidores do gnosticismo - vertente cristã que não aceitava a hierarquia católica - empreenderam uma verdadeira campanha de difamação contra Pedro. E, em 1050, a polêmica se tornou tão grande que acabou rachando para sempre a cristandade: os líderes religiosos de Constantinopla (atual Istambul, Turquia) repudiaram a autoridade do Vaticano e formaram a Igreja Ortodoxa. No século 16, o monge alemão Martinho Lutero repetiu o gesto, dando origem ao protestantismo. Esses movimentos negavam, antes de mais nada, a autoridade suprema do papado sobre o cristianismo. Para questioná-lo, alguns foram direto à raiz e atacaram a noção de que Pedro fosse o escolhido para guiar os cristãos. Em várias épocas, ortodoxos e protestantes usaram argumentos idênticos: por causa de seus deslizes e contradições, Pedro não poderia ser considerado o porta-voz de Deus. Não duvidavam de sua importância histórica, apenas não atribuíam a ele a infalibilidade divina nem a autoridade absoluta sobre os cristãos. Outros aceitavam a posição de Pedro como embaixador de Jesus na Terra, mas negavam que esse poder tivesse sido transmitido para os bispos romanos. Sua autoridade, instituída por Cristo, teria acabado lá no século 1, quando o apóstolo foi crucificado de cabeça para baixo.
A divisão da cristandade entre aqueles que aceitam a autoridade papal e aqueles que a renegam permanece até hoje. Mas apesar de ter deixado uma herança ambígua e muitas vezes contestada, o papel histórico de Pedro é inquestionável. Para qualquer cristão, esse patriarca ardoroso e contraditório foi, de fato, o sustentáculo da Igreja em sua fase primitiva - o primeiro líder de uma revolução espiritual que, nos milênios seguintes, mudaria os rumos do mundo.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mitologia Viking - Religião

MITOLOGIA VIKING



Os mitos vikings têm uma geografia complexa. O universo, disposto em torno da árvore Yggdrasil, é dividido em Nove Mundos

Em cada um deles, vivem deuses e seres mitólogicos fascinantes, que já serviram de inspiração para gênios como J. R. R. Tolkien



Vanaheim

É a morada dos Vanir, uma família de deuses antigos, ex-inimigos dos habitantes de Asgard. Depois de muita guerra, os Vanir e os Aesir acabaram resolvendo suas diferenças e hoje vivem em paz. Alguns dos Vanir se uniram a Odin para governar o Universo



Njord

É o deus do mar. Nascido em Vanaheim, muda-se para Asgard com a filha



Freya

Filha de Njord, é a deusa da fertilidade. Costuma liderar as Valquírias nas batalhas



Valhala

É a morada dos guerreiros mortos em combate, levados até lá pelas Valquírias - donzelas que sobrevoam os campos de batalha com corcéis voadores



Thor

O deus dos trovões é inimigo dos gigantes. Sua principal arma é o martelo de guerra, Miöllnir



Odin

É o manda-chuva de Asgard. Assiste a tudo que acontece nos Nove Mundos



Alfheim

É habitado pelos elfos da luz, seres belos como a luz do sol. Às vezes visitam a terra dos mortais. Apesar da fama que ganharam nas páginas de Tolkien, os elfos aparecem pouco nas lendas vikings



Loki

O "mago das mentiras" é um grande trapaceiro que acabou sendo expulso de Asgard



Heimdall

Guardião da ponte que liga Asgard e Midgard. Sua trompa é ouvida nos Nove Mundos



Nidavellir

É o rei dos anões, descendentes dos vermes que devoraram o cadáver de Ymir, o mais antigo dos gigantes. São grandes ferreiros e forjam armas poderosas, como o martelo de Thor e a lança de Odin



Andvari

Rei dos anões, é dono de grandes tesouros. Entre eles, um anel de ouro amaldiçoado



Asgard

Morada dos Aesir, deuses que governam o Universo. É ligado ao mundo dos mortais por Bifrost, uma ponte em forma de arco-íris. Na fronteira de Asgard está Ifing, um rio mágico cujas águas nunca congelam



Svartalfheim

Mundo habitado pelos misteriosos elfos "mais escuros do que piche" . Às vezes são confundidos com os anões que vivem em Nidavellir



Jormungand

A "Serpente do Mundo" é filha de Loki e vive no oceano ao redor de Midgard



Sigurd

Tornou-se um grande herói ao matar o dragão Fafnir, guardião do tesouro de Andvari



Midgard

É onde vivem os humanos. Fica entre o mundo dos deuses e o dos mortos - daí seu nome, que significa "recinto do meio" - e foi inspiração para a Terra Média, da trilogia O Senhor dos Anéis



Fenris

Filho de Loki, esse lobo feroz foi aprisionado pelos deuses sob a terra



Jotunheim

É a morada dos jotuns, os gigantes do gelo. São grandes inimigos de deuses e mortais. Ymir, ancestral dos jotuns, foi uma das primeiras criaturas a surgir no Universo. Após sua morte, os deuses usaram restos do seu corpo para criar Midgard e Asgard



Muspell

Um dos mundos mais antigos, é um lugar repleto de chamas onde vivem os gigantes de fogo. Qualquer ser humano que chegue até lá será imediatamente incinerado



Surt

Guardião de Muspell, no dia do apocalipse, vai incendiar Yggdrasil e destruir as fortalezas dos deuses



Thrym

O rei dos gigantes do gelo roubou o martelo de Thor, que acabou matando-o



Hel

Filha de Loki, foi expulsa de Asgard por Odin e tornou-se a senhora dos mortos



Ragnarok

Nas profundezas de Niflheim, o dragão Nidhug rói a raiz de Yggdrasil. Quando ela se partir, começará Ragnarok, o apocalipse dos vikings. Loki vai invadir Asgard, acompanhado por Fenris, Jormungand e os gigantes.Os deuses serão exterminados e Midgard será destruída. Mas um novo mundo irá surgir das cinzas



Niflheim
É uma terra de escuridão e neblina, cercada por ventos e chuvas geladas. Quando um humano morre de doença ou velhice, seu fantasma vai habitar esse reino sinistro e sombrio, que fica no nível mais profundo do universo.



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O Papa e a História - Teologia

O PAPA E A HISTÓRIA - Teologia



No dia 4 de junho de 1989, houve eleições para o senado na Polônia. Não era uma eleição qualquer: pela primeira vez os poloneses tinham alguma chance de escolher depois de quase meio século de ditadura comunista. O resultado das urnas foi devastador. Das 262 cadeiras do senado, 261 ficaram para o partido de oposição, o Solidariedade.

O governo comunista cairia dois meses depois. Era o fim do comunismo na Polônia. E não só lá. Um a um os governos do Leste Europeu desmoronaram. No fim de 1989 o que fora um poderoso bloco tinha virado pó. A Polônia foi o primeiro dominó. E ninguém lá teve dúvidas sobre quem empurrou esse dominó. "A culpa é da Igreja", disse o ditador derrotado, general Wojciech Jaruzelski. O primeiro ato do vitorioso líder do Solidariedade, Lech Walesa, foi pegar um avião para Roma. Ele queria agradecer a João Paulo II. A Igreja Católica estava no centro do mundo. E o papa era "o pivô em torno do qual a história girou", nas palavras de Marco Politi e Carl Bernstein, autores de Sua Santidade, uma excelente biografia do papa.

João Paulo II fez história. Quem olha para seu corpo curvado, 15 anos depois, talvez tenha dificuldade para enxergar o homem forte, obstinado e astuto que ele foi. Não dá mais para negar que seu papado está perto do fim. É hora de olhar para trás para entender seu legado. E de olhar para frente para descobrir para onde a Igreja vai depois dele. Mas antes é preciso responder duas perguntas.

Quem é ele?

João Paulo II nasceu em 18 de maio de 1920 na cidadezinha polonesa de Vadovice - e recebeu o nome de Karol Wojtyla. Para entender o destino desse menino é preciso antes compreender que país era aquele no qual ele veio ao mundo.

A Polônia não teve um século 19 fácil. Encurralada entre três nações francamente imperialistas - Alemanha, Rússia e Áustria - esse país imenso, agrário e pobre estava sempre sob ameaça de ser varrido do mapa. Foi o que aconteceu em 1865. O Reino da Polônia foi abolido, engolido pelos vizinhos. Até a Primeira Guerra Mundial, a Polônia simplesmente não existiu. Falar polonês era punido como crime. Demonstrar orgulho nacional era proibido.

Mas a identidade polonesa sobreviveu na clandestinidade. Uma forma de preservá-la era ler a literatura épica de autores nacionalistas. Outro ato de amor à pátria era ser católico. A Polônia é um país majoritariamente católico há mil anos e está cercada por vizinhos protestantes e ortodoxos. Ser católico sempre foi sinônimo de ser patriota. Uma oração solitária dentro de casa era uma forma de resistir.

Com o fim da Primeira Guerra, a Polônia finalmente voltou a existir como nação. Mas continuou cercada de inimigos - Karol nasceu bem no meio de uma guerra contra os soviéticos. Desde criança, em Vadovice, Karol foi um católico fervoroso, capaz de entrar numa espécie de transe enquanto passava horas rezando. Mas, antes de ser católico, Karol era um nacionalista.

Em 1939, Hitler invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Naquela época, Karol queria ser ator e, segundo relatos, tinha muito talento para isso. Interpretava com paixão textos épicos de autores poloneses. O jovem de 19 anos era forte e atlético, mas nunca teve vocação para a violência. Ele queria ajudar a Polônia a vencer a guerra, mas estava decidido a fazer isso "ganhando os espíritos". O teatro nacionalista seria sua arma.

Foi uma surpresa para todos os seus amigos quando ele anunciou, em 1942, que queria virar padre. Karol mudava de carreira, mas não de objetivo. Sua intenção continuava sendo a mesma: "ganhar espíritos", manter viva a identidade polonesa. Os invasores nazistas tinham proibido as missas e fechado todos os seminários, numa afronta à religiosidade polonesa. Portanto, estudar para ser padre era um ato subversivo.

Com o fim da guerra, os soviéticos expulsaram os nazistas, mas a vida dos padres continuou difícil. Afinal, os comunistas rejeitavam a religião. Karol manteve a mesma postura: de resistência firme e tranqüila. Sua forma de combater o comunismo era ensinar os valores católicos, ajudar as pessoas a levar uma vida guiada por Cristo. Sua fé profunda, seus princípios firmes, seu carisma e seu talento diplomático - que o fez ser tolerado pelo governo comunista - garantiram uma subida rápida na hierarquia da Igreja.

Quando chegaram os anos 1960, na Polônia comunista, a Igreja era respeitada e admirada e atraía muita gente. Enquanto isso, no Ocidente, a Igreja ia mal. Era a década da liberação sexual e os fiéis estavam desaparecendo. Em 1962, o papa João XXIII chamou todos os bispos do mundo a Roma. Seu objetivo: modernizar o catolicismo para atrair os cristãos de volta. Começava o Concílio Vaticano Segundo. Karol Wojtila, recém-promovido a bispo, foi um dos convidados. No concílio, ele esteve quase sempre do lado derrotado, defendendo o estilo austero e tradicionalista da igreja polonesa. Sua participação foi discreta, mas segura. E chamou a atenção de Paulo VI, sucessor de João XXIII (que morreu em 1963).

O novo papa passou a ouvir Karol com atenção. O polonês teve grande influência no documento papal de 1968 que condenava os anticoncepcionais artificiais. Ele já era um cardeal respeitado por toda parte quando Paulo VI morreu, em agosto de 1978. João Paulo I, seu sucessor, durou só 33 dias no cargo e morreu também. Chegava a hora de Karol Wojtila. Com 99 dos 108 votos do cardeais, ele se elegeu e homenageou seus três antecessores (João XXIII, Paulo VI e João Paulo I) escolhendo o nome de João Paulo II.

Antes de contar a história de seu papado, vale a pena entender que cargo é esse que Karol assumiu.

O que é um papa?

A resposta tradicional a essa pergunta é simples: papa é o sucessor direto do apóstolo Pedro, que recebeu de Jesus em pessoa a incumbência de comandar sua Igreja, em Roma. João Paulo II tem a mesma tarefa que já foi de São Pedro.

Mas o estudo de documentos antigos mostra que, no início, a Igreja não era centralizada como hoje. Havia comunidades cristãs em várias cidades, cada uma com seu bispo, e cada bispo cuidava dos assuntos locais. O de Roma não estava acima dos outros. Pedro "estava longe de ser um monarca espiritual, ou mesmo um governante único", escreveu o teólogo alemão Hans Küng, em A Igreja Católica. Não havia um papa - e por muitos séculos foi assim.

Os cristãos estavam espalhados pelo Império Romano, em condições de pobreza, enfrentando perseguições cruéis. Essa situação mudou radicalmente graças a uma visão. Foi em 312: uma cruz apareceu no céu para o imperador Constantino, dias antes de uma batalha decisiva, que ele acabou vencendo. Em 313 os cristãos receberam liberdade de religião, em 315 o castigo da crucificação foi abolido, em 321 o domingo virou oficialmente feriado. Em 337, Constantino morreu. Seu filho Teodósio começou a perseguir as outras religiões. O cristianismo, nascido entre pobres numa periferia rural, virava de repente a religião do Estado.

No século 5, o Império Romano caiu. A Europa caiu nas mãos dos bárbaros, incultos e analfabetos, e aí sobrou um só vestígio do esplendor imperial: o bispo de Roma, já então chamado de papa. Ele era para o povo um resto de ordem e autoridade numa época tomada pelo caos. Naquele mundo, só o clero sabia ler - e os bispos, além de autoridade religiosa, começaram a acumular o poder civil. Começava a Idade Média.

No século 12, o papa tornou-se o homem mais poderoso do Ocidente - ele tinha terra e ouro, resolvia disputas entre nobres, abençoava reis para que sua autoridade fosse reconhecida. Nessa época, a Igreja e a religião estavam no centro da vida. O cristianismo não era para ser lembrado só no apuro ou na missa de domingo - era uma presença constante, guiando cada ação de pessoas ou de governos. O papa era coroado como um rei e sua autoridade agora se aplicava sobre toda a Igreja. É claro que tanto poder atraiu aventureiros e o trono papal foi ocupado por homens que podiam ser tudo, menos santos. No final da Idade Média, ladrões, assassinos e depravados viraram papas.

A insatisfação com a corrupção em Roma era grande e, no século 16, Lutero iniciou a Reforma Protestante, que tirou do papa o poder sobre o norte da Europa. Mas o maior golpe foi um modo de pensar que surgiu na mesma época - a história chama-o de iluminismo. Para resumir, iluminismo é a idéia de que a a vida deve ser guiada pela razão, e não pela vontade divina. Esse movimento se espalhou pela Europa como um incêndio. E, com o domínio da razão, veio a decadência da Igreja.

Desde então, Roma tem passado muito tempo na defensiva, lutando contra tudo de novo. Primeiro, o inimigo era a ciência - pensadores foram queimados pela Inquisição ou forçados a abandonar suas idéias. Com isso, o conhecimento científico nos países católicos passou a andar bem mais devagar que nos protestantes. Depois, no século 18, o papa Pio VI esbravejava contra "a abominável filosofia dos direitos humanos", defendida pela Revolução Francesa (que matou padres na guilhotina e confiscou terrenos da Igreja). No século 19, Roma voltou-se contra a industrialização: os papas atacavam as ferrovias, o gás, a iluminação.

A Igreja, deposta do papel de dona do mundo, virou inimiga declarada da modernidade. E, como a modernidade é uma inimiga poderosa, o papa foi ficando mais e mais irrelevante. A Igreja chegou à metade do século 20 sem poder político, com fiéis abandonando as missas e cada vez menos padres.

Nos anos 60, surgiu a idéia de que era preciso fazer as pazes com a modernidade. Foi aí que João XXIII convocou o Concílio Vaticano Segundo e que a história de Karol se cruzou com esta história aqui. O concílio acabou com missas em latim e acrescentou pitadas de democracia na sua própria organização. Mas manteve várias tradições. A posição dura sobre anticoncepcionais não se alterou, casamentos de padres e ordenações de mulheres nem puderam ser discutidos. E o papa continuou sendo tratado como na Idade Média: um monarca absolutista.

Em 1978, quando João Paulo I morreu, o maior problema do mundo era a guerra fria - um conflito entre protestantes americanos e ateus soviéticos. A Igreja vivia criticando o consumismo de uns e a falta de liberdade religiosa de outros, mas era quase sempre ignorada. Aí Karol virou papa. E Roma viu a chance de voltar a um lugar de onde saíra fazia séculos: o centro do mundo.

Anos de glória

João Paulo II não perdeu tempo. Eleito papa, ele rezou a missa inaugural em 22 de outubro de 1978. No dia 23, mandou uma mensagem pública aos poloneses: "quero muito estar com vocês no 900º aniversário do martírio de São Estanislau". São Estanislau é o padroeiro da Polônia e o aniversário de 900 anos de sua morte foi em 1979.

Isso não era coisa corriqueira. Nunca um papa entrara no bloco comunista. O dirigente soviético Leonid Brejnev ligou para a Polônia e ordenou que a visita fosse recusada. Mas os poloneses queriam ver o papa. Se as autoridades negassem havia chances até de revolta. Mesmo os dirigentes do país, como bons poloneses, eram católicos antes de comunistas. Não podiam impedir um papa polonês de voltar para casa.

A visita durou oito dias em junho de 1979. Cada discurso de João Paulo II foi presenciado por centenas de milhares de pessoas, às vezes mais de 1 milhão - homens e mulheres em lágrimas e aos berros, exibindo a cruz e a bandeira polonesa. O papa foi recebido pelo refrão "queremos Deus". No palanque, gritava: "vocês precisam ser fortes com a força que vem da fé" e "não é preciso ter medo, as fronteiras têm de ser abertas". O efeito psicológico foi imenso. De repente, a opressão comunista pareceu pequena diante dele. Calcula-se que, naquela semana, um de cada três poloneses viu o papa pessoalmente.

Um deles foi Lech Walesa, que, no ano seguinte, fundou o Solidariedade, na época um sindicato, a primeira organização de oposição no mundo comunista. Walesa usava um broche com uma imagem da Virgem e uma caneta com a foto do papa. É inegável que João Paulo II foi uma inspiração fortíssima.

Segundo os biógrafos do papa, uma pessoa que assistiu pela TV, com lágrimas nos olhos, os discursos na Polônia foi o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos. Ronald Reagan tinha coisas em comum com João Paulo II. Também era um ex-ator - só que, em vez de peças clássicas polonesas, estrelou filmes de faroeste. Os dois eram carismáticos e excelentes comunicadores. Outro ponto de contato é que ambos acreditavam profundamente que o comunismo é mau na essência - e, portanto, destinado à derrota. Por outro lado, o papa é um intelectual, com sólida formação em filosofia, e Reagan era um bronco. O papa é um homem espiritual, que condena o consumismo. Reagan era um materialista, que achava que o comunismo é ruim porque, naquele sistema, "se alguém resolvesse comprar um carro, teria de esperar dez anos pela entrega".

Apesar das diferenças, eles se entenderam. O papa perdoava as extravagâncias do presidente diante da convicção de que ele era um "instrumento de Deus" para uma obra maior. O secretário de Segurança Nacional de Reagan, Richard Allen, diria depois que os dois formaram "uma das maiores alianças secretas de todos os tempos". A partir de 1981, o papa recebeu gente da CIA no Vaticano pelo menos 15 vezes. Nesses encontros, os americanos contavam a João Paulo II sobre suas estratégias no mundo inteiro e passavam informações do serviço secreto, inclusive fotos de satélite da Polônia. Já o papa dava notícias de Walesa e do Solidariedade e transmitia dados coletados pela extensa rede de bispos e padres da Igreja Católica - Allen diria que o serviço de inteligência do Vaticano "é de primeira classe". O Vaticano adotou também a política de nunca criticar os americanos, mesmo se isso significasse apoiar ditaduras na América Latina.

Em 1981, a aliança esteve perto de acabar tragicamente. Em fevereiro, Reagan levou um tiro. Em maio, João Paulo II levou dois. Nos dois casos, a artéria aorta escapou por milímetros e tanto um quanto outro atribuíram a salvação a um milagre. Os mandantes por trás do atentado ao papa ainda são desconhecidos, mas a possibilidade de que algum governo comunista estivesse envolvido é uma das mais fortes.

No final de 1981, o governo polonês fechou o Solidariedade e prendeu seus líderes. Mas eles não podiam colocar o papa na cadeia. João Paulo II continuou criticando os comunistas, lá de Roma. Em 1985, na União Soviética, Mykhail Gorbachev chegou ao poder. Gorbachev surgiu dentro do Partido Comunista, dentro do sistema, mas a crise convenceu-o de que as reformas eram necessárias. Uma das primeiras coisas que ele fez como líder soviético foi conversar com o papa. Começava a perestroika, a abertura soviética. O papa diria que "a perestroika é uma continuação do Solidariedade".

Contra o comunismo, João Paulo II usava as armas que tinha: diplomacia agressiva, espionagem, encontros secretos. E, claro, fé. No dia 27 de outubro de 1986, reuniu em Assis, Itália, dezenas de líderes religiosos. Lá estavam o rabino-chefe de Roma, o Dalai Lama, bispos ortodoxos, monges budistas, líderes muçulmanos, índios americanos, todos rezando pela paz no mundo. Naquele dia, a pedido do papa, houve uma trégua mundial, respeitada em várias nações em guerra.

As pessoas próximas do papa dizem que ele acredita sinceramente que aquelas preces foram tão decisivas para colocar fim à guerra fria quanto sua aliança secreta com Reagan. Talvez mais. Assim é João Paulo II: um político frio, com mente estratégica. Mas, ao mesmo tempo, um religioso fervoroso que acredita na força da fé.

Quando o governo polonês, pressionado, reconheceu o Solidariedade, libertou Walesa e convocou eleições, o papa era uma das pessoas mais populares do mundo. Um pacifista admirado, um líder capaz de parar guerras e de juntar membros de várias religiões - mais do que qualquer antecessor seu, ele atuou para que a Igreja fizesse as pazes com outras crenças. Como na Idade Média, o cargo de papa tinha influência sobre o mundo todo.

E aí o comunismo caiu.

Anos amargos

Quando o papa voltou à Polônia, em 1991, ele estava furioso. "Vocês não devem confundir liberdade com imoralidade", discursava. Ele tinha previsto o fim do comunismo, mas não imaginava que, no seu lugar, surgiriam novidades: aborto, prostituição, pornografia, consumismo. Desde a infância, Karol tinha sonhado que a Polônia ainda seria um país guiado por Cristo. Mas os poloneses rejeitaram esse sonho. Livres do Partido Comunista, eles não queriam viver sob o domínio da Igreja. A Polônia virou mais um "país ocidental".

Não foi só na sua terra natal que ele sentiu-se desprezado. Antes da Guerra do Golfo, em 1991, ele pediu ao presidente americano George Bush, o pai, que negociasse com Saddam Hussein. Foi ignorado. Meses depois se ofereceu para as negociações entre Israel e os palestinos. O governo israelense recusou. Sem o comunismo, sua importância política já não era a mesma.

João Paulo II tentou então encontrar uma outra guerra para lutar: dessa vez contra a decadência dos costumes. Isso levou-o a assumir posições impopulares. Médicos e ativistas o acusaram de ser responsável pela morte de milhões ao condenar os preservativos mesmo em países infestados pela aids. Outro golpe na popularidade papal foi o escândalo de pedofilia na igreja norte-americana, em 2002, que deu combustível às críticas ao celibato dos padres.

Em 1994, a ONU organizou uma conferência contra a explosão demográfica. O papa criou uma verdadeira operação de guerra para evitar as recomendações de métodos anticoncepcionais e por práticas seguras de aborto. Bispos do mundo inteiro começaram a pressionar seus governos e o Vaticano fez acordos com algumas das ditaduras mais retrógradas do mundo, incluindo o Irã e a Líbia. A paquistanesa Nafis Sadik, então subsecretária da ONU para População e Desenvolvimento, diria depois: "Por que ele tem o coração tão duro? Por que é tão dogmático, tão destituído de bondade?" Num livro lançado em fevereiro de 2005 no Brasil, o papa relativiza até um dos valores mais entranhados do nosso tempo: a democracia. Ele diz que o importante é viver com Cristo - e questiona as democracias laicas, que ele considera uma nova forma de totalitarismo.

João Paulo II também lutou dentro da Igreja. Reverteu mudanças liberalizantes do Concílio Vaticano Segundo e começou a perseguir dissidentes. Sob o comando do cardeal alemão Joseph Ratzinger, a Congregação pela Doutrina da Fé, órgão do Vaticano que sucedeu à Inquisição, acusou muitos clérigos e teólogos. Qualquer um que ousou defender casamento de padres, ordenação de mulheres ou outras teses polêmicas foi obrigado a se calar. Os julgamentos não davam direito à defesa e alguns réus nem sabiam que estavam sendo investigados. Opositores do papa começaram logo a fazer comparações com os tribunais stalinistas.

Uma das regiões do mundo onde mais gente foi punida por Roma foi a América Latina. Por aqui, assim como na Polônia, o povo viveu sob ditaduras sanguinárias durante a guerra fria - só que as nossas não eram comunistas. Desde os anos 1970, bispos latino-americanos desenvolveram uma nova maneira de ver a religião: a teologia da libertação. Eles pregavam um retorno aos primeiros tempos do cristianismo, quando as comunidades viviam sob o jugo do Império Romano. Seria função da Igreja resistir à opressão e defender os pobres contra os ricos.

Os teólogos da libertação ajudaram a eleger Karol papa em 1978 porque gostavam de seu histórico de inimigo da ditadura e da opressão. Mas João Paulo II olhava para eles e via uma coisa só: comunismo. O frei brasileiro Leonardo Boff foi um dos homens expulsos da Igreja por professar esse tipo de idéia. Ele não quis dar entrevista à Super. "Este papa me perseguiu por anos. Não vou falar mais nada sobre ele enquanto ele estiver vivo", disse.

Agora, aos 84 anos, sofrendo de mal de Parkinson e com dificuldades de falar, respirar e andar, o papa parou com suas viagens antes freqüentes e quase não aparece mais em público. Roma chega a 2005 sem ter o comunismo para enfrentar, mas seus outros problemas são os mesmos de 1978: poucos fiéis, poucos padres, a religião ausente da sociedade e das decisões.

E agora?

Por mais que seja falta de educação falar da morte do papa, é óbvio que muita gente dentro da Igreja tem discutido o futuro. Afinal, depois de quase 27 anos sob o pulso firme de João Paulo II, para onde se deve seguir?

Há os que defendem que se mantenha o rumo. Ratzinger, eminência parda do pontificado de Wojtila, tem dito que não há o que reformar no cristianismo. A Igreja, para ele, não tem de se preocupar com popularidade ou com pesquisas de opinião. Os cristãos devem se preparar para "existir em grupos pequenos, aparentemente insignificantes, que, mesmo assim, vivem uma luta intensa contra o mal", escreveu. Uma Igreja menor, mas mais forte.

Ao mesmo tempo, estão pipocando idéias de mudanças. Os mais radicais falam em abolir o celibato dos padres e ordenar mulheres - para atrair mais sacerdotes - e em fazer concessões aos métodos anticoncepcionais, ao aborto e à pesquisa com células-tronco.

Um clamor mais comum é pela redução do poder papal, deixando a Igreja mais próxima do que era no século 1 e mais distante da Idade Média. A idéia é tirar do papa o papel de monarca e torná-lo uma fonte de inspiração e um árbitro para o debate democrático de idéias entre fiéis. "Talvez haja um Gorbachev católico escondido entre os cardeais", escreveu Hans Küng, um dos teólogos expulsos da Igreja por João Paulo II. Küng está entre os que acham que as condições para uma enorme reforma estão no ar. Claro que quase ninguém fala abertamente nisso. Mas, em 1989, ninguém tampouco falava que o comunismo estava prestes a acabar.



"Queremos Deus!"

Refrão gritado pela multidão quando João Paulo II visitou a Polônia comunista



"João Paulo II e Reagan formaram uma das maiores alianças secretas de todos os tempos"

Richard Allen, secretário de Segurança Nacional de Ronald Reagan



"Peço perdão, em nome de todos os católicos, por todas as injustiças contra os não-católicos no decorrer da história"

João Paulo II



"A Igreja não tem necessidade de recorrer a sistemas e ideologias"

João Paulo II, criticando a teologia da libertação



"É a sua consciência que deve decidir sobre a renúncia"
Cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano, em 2005, dando a entender que João Paulo II estava doente demais para governar


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sábado, 9 de maio de 2009

Demônio começou carreira como 'agente secreto' de Deus

01/10/08 - 07h00 - Atualizado em 01/10/08 - 09h19

Demônio começou carreira como 'agente secreto' de Deus, diz pesquisador
Personagem é 'chefe do FBI' de Javé em livros do Antigo Testamento.
Para estudioso americano, papel continua valendo na Bíblia cristã.


Foto: Reprodução Visão tradicional da queda de Lúcifer desenhada pelo ilustrador Gustave Doré no século 19 (Foto: Reprodução)Qualquer cristão com um mínimo de formação religiosa é capaz de fazer um breve resumo da carreira do Diabo: originalmente um anjo poderoso, ele teria se rebelado contra Deus no princípio dos tempos, induzido Adão e Eva a cometer o chamado pecado original e, ainda hoje, estaria pronto a induzir a humanidade a fazer o mal, manipulando tudo e todos nos bastidores. O problema, afirma um livro que acaba de chegar ao Brasil, é que essa trama básica não estaria em lugar nenhum da Bíblia, mas teria sido montada por teólogos cristãos dos séculos 3 e 4, responsáveis por uma leitura um bocado criativa das Escrituras. Segundo essa visão, o Satanás bíblico não seria um rebelde contra Deus, mas uma espécie de "agente secreto" ou "chefe do FBI" divino, responsável por testar a lealdade dos seres humanos.

A tese polêmica está em "Satã - uma biografia" (Editora Globo), escrito por Henry Ansgar Kelly, professor emérito da Universidade da Califórnia em Los Angeles e autor de outros livros sobre a figura literária do Demônio. Kelly vai além da maioria dos outros estudiosos modernos da Bíblia, os quais, como ele, afirmam que as poucas aparições de Satanás no Antigo Testamento se referem a uma figura que é subordinada a Deus, e não inimiga do Criador. Para Kelly, no entanto, a situação não muda substancialmente nas menções ao Maligno no Novo Testamento.

"O Satã no Novo Testamento deve ser percebido como tendo uma posição equivalente a um Primeiro-Ministro, ou um Procurador-Geral da República, ou diretor do FBI, e não mais diabólico do que muitos dos mais zelosos representantes dessas posições aqui na Terra", escreve o pesquisador. A visão geral expressa nos Evangelhos e nos outros livros bíblicos do começo do cristianismo, segundo o autor, é que Satanás simplesmente toma gosto excessivo por suas funções de testador da humanidade, e por isso perde as boas graças de Deus, sendo expulso do Céu.

Problemas de nomenclatura

Antes de chegar a esse ponto, porém, Kelly tenta entender as primeiras aparições do personagem no Antigo Testamento, as quais são um bocado complicadas por problemas de nomenclatura. É que a palavra hebraica satan e seu equivalente aramaico satanah (o aramaico, é bom lembrar, era a língua provavelmente usada por Jesus no dia-a-dia) podem simplesmente funcionar como um substantivo comum, que significa algo como "adversário".



"Adversário" de quem, a propósito? Um dos poucos exemplos em que "o satã" (e não Satã/Satanás, como nome próprio) aparece na Bíblia hebraica é o livro de Jó. Nesse livro bíblico, um humano de altas qualidades morais e comportamento correto, o Jó do título, perde sua família, seus bens e sua saúde por instigação "do satã", que sugere a Deus um teste para a fé de Jó.



"No livro de Jó, 'o satã' é simplesmente um membro do Conselho Divino, um dos servos de Deus cuja função é investigar os acontecimentos na Terra e agir como uma espécie de promotor, trazendo os malfeitores à justiça", explica Christine Hayes, professora de estudos clássicos judaicos da Universidade Yale (EUA). "Quando Javé se gaba de seu piedoso servo Jó, o anjo-promotor simplesmente pergunta, seguindo sua função, se a fé de Jó é sincera", diz ela. Em algumas traduções da Bíblia, em vez de ser designado como "Satã", esse personagem é simplesmente chamado de "o Adversário". Aparentemente, ele é visto pelo autor anônimo do livro de Jó como um dos "filhos de Deus" -- expressão que se refere aos anjos que formam a corte divina.



Foto: Reprodução Manuscrito medieval retrata o Diabo com tintas grotescas (Foto: Reprodução)No livro do profeta Zacarias, também no Antigo Testamento, a figura de Satã (que também pode ser traduzido como "o Acusador") reaparece, desta vez questionando diante de Deus a boa-fé o sumo sacerdote judeu Josué. Enquanto Satã funciona como promotor público, um outro anjo é o advogado de defesa, que consegue a absolvição do sumo sacerdote. As aparições satânicas na Bíblia hebraica se restringem a essas passagens -- a serpente que induz Eva e Adão a comerem o fruto proibido no livro do Gênesis nunca é explicitamente identificada com Satã.

Licença para tentar

A situação e a personalidade do Diabo (palavra de origem grega cuja etimologia é a mesma do hebraico satan) mudam no Novo Testamento? A interpretação tradicional é que sim, mas Kelly tenta demonstrar que esse dado não é tão seguro quanto parece.



Primeiro, os Evangelhos e outros livros da parte cristã da Bíblia mostrariam que Deus delegou a Satanás a missão de testar a lealdade e a fé dos seres humanos, permitindo que ele tentasse Jesus no deserto ou levasse os apóstolos a fraquejar em seu apoio ao Messias. Isso também explicaria o costume de chamar o Maligno de "Príncipe deste mundo" -- um poder delegado por Deus ao Tentador enquanto o plano divino não chegasse ao fim. Também não é traçada relação direta entre a serpente do Paraíso e Satanás pelos autores bíblicos cristãos, nem mesmo por São Paulo, que traça um elo entre o pecado de Adão e a salvação trazida por Jesus.



Em sua análise do livro do Apocalipse, Kelly afirma que a última parte dessa drama cósmico é a "demissão" de Satanás de seu papel de acusador na corte de justiça divina. No capítulo 12 do livro, lê-se: "Foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava, dia e noite, diante de nosso Deus". Essa visão é apresentada como uma profecia para o futuro, de forma que a chamada queda de Satanás e dos anjos que o seguem não poderia ter acontecido antes da criação do mundo.



"Os fatos são incontornáveis: Satã permaneceu em sua posição como o Acusador Celestial dos humanos desde os tempos da visão de Jó e Zacarias. Ele tem continuado a exercer essa função desde o presente e continuará no futuro, adicionando cristãos à sua lista de acusados. Mas ele se excede em suas acusações, com o resultado previsto de que não haverá mais lugar para ele nos Céus", escreve Kelly.

Nasce Lúcifer

Se essa é a interpretação correta dos dados sobre Satanás na Bíblia, de onde veio a história sobre a rebelião do anjo Lúcifer? Muito provavelmente da leitura que mestres dos primeiros séculos do cristianismo, como Orígenes de Alexandria (que viveu entre os anos 185 e 254 d.C.), fizeram da Bíblia, afirma Kelly.



O nome Lúcifer, ou "Portador da Luz", é só uma adaptação para o latim de Helel ben Shahar, ou "o Brilhante, filho da Aurora", termo poético usado pelo profeta Isaías no Antigo Testamento para se referir ao rei da Babilônia. Orígenes e outros pensadores cristãos, no entanto, interpretaram a passagem como uma referência à rebelião e à queda de um anjo poderoso, que teria se revoltado contra Deus por orgulho e, como vingança, levado Adão e Eva a pecar.