Como o isolamento e a solidão podem afetar os seres humanos
Faz algum tempo que as agências espaciais vêm estudando a possibilidade de enviar missões tripuladas a Marte. Pois, além de todos os desafios técnicos que uma empreitada como essas envolve, uma das principais preocupações está relacionada com a forma como os astronautas sobreviveriam longos períodos de tempo convivendo com a solidão e confinados em suas naves espaciais.
Julie Beck, do portal The Atlantic, reuniu vários estudos com resultados bem interessantes — e perturbadores — sobre como o isolamento e a falta de luz solar podem afetar o corpo humano. Um desses experimentos, por exemplo, foi conduzido com a dupla de exploradores de cavernas Josie Laures e Antoine Senni, que permaneceu durante 88 dias e 126 dias, respectivamente, no interior de cavidades subterrâneas.
Enterrados
Segundo Julie, os exploradores foram instalados em cavernas separadas e tiveram seus sinais vitais monitorados por equipes de cientistas que ficaram “acampadas” na superfície. Durante o período em que Laures e Senni estiveram confinados, eles mantiveram contato com os pesquisadores, mas não receberam qualquer informação que indicasse a passagem do tempo, nem se era dia ou noite.
Os cientistas notaram que os exploradores perderam a noção do tempo, e, quando voltaram à superfície, ambos pensaram ter permanecido nas cavernas por muito menos tempo do que eles realmente passaram confinados. Além disso, um dos participantes do experimento chegava a dormir durante intervalos de até 30 horas seguidas, acreditando que o período de “hibernação” não havia passado de uma rápida soneca.
Após a estadia subterrânea, os exploradores revelaram que a experiência foi muito mais difícil do que eles haviam previsto e que, ao final do experimento, eles se sentiam terrivelmente cansados — física e mentalmente. De acordo com Julie, os experimentos apontaram que, sem a luz do dia para servir de guia, os humanos parecem perder a noção de quando devem dormir, bem como da passagem dos dias e das semanas.
Outras pesquisas apontaram que longos períodos de isolamento, além de afetar os padrões de sono, também podem provocar o declínio do desempenho mental, alucinações e ansiedade. Ainda, estudos revelaram que a solidão e o cansaço mental provocados pela falta de companhia são os maiores desafios daqueles que precisam passar muito tempo sozinhos.
Hibernação criogênica
É evidente que permanecer alguns meses no interior de cavernas é bem diferente de passar mais de um ano trancafiado dentro de uma nave espacial com destino a Marte. No entanto, conforme apontou Julie, as duas situações têm lá suas semelhanças. Aparentemente, na falta do que fazer, quando o tédio se instala, não é raro que as pessoas caiam no sono — e esses períodos podem chegar a durar 48 horas.
Portanto, uma ideia, pelo menos no caso das missões espaciais, seria tirar proveito dessa nossa inclinação natural em “hibernar” para desenvolver sistemas criogênicos que permitam que os astronautas possam dormir durante boa parte da viagem e, assim, contornar o sofrimento provocado pelo isolamento e pela privação de luz. Para isso, será necessário realizar inúmeros estudos, mas a opção parece promissora, você não acha?
FONTE(S) The Atlantic/Julie Beck
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