quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

OS BONS TEMPOS DAS LOCADORAS DE GAMES

OS BONS TEMPOS DAS LOCADORAS DE GAMES

Apreciar as estantes repletas de opções era o prazer inicial

Este texto foi escrito para publicação em um blog de um amigo das antigas, que acabou não criando BLOG nenhum, ficou indeciso do que fazer para escrever sem escrever... :p. 


Então agora estou trazendo para cá. Agradeço a todos pelas preferência neste espaço reservado aos nostalgicos e "cientistas" de plantão.

Olá meu povo e minha pova! Lá vamos nós com mais uma boa lembrança dos anos 90. Espero que gostem, porque o tempo que estou “perdendo” para escrever esta postagem de número 10 neste mês de fevereiro de 2019, Poderia estar sendo empregado no desbravamento de centenas de roms e iso's de dezenas de consoles diferentes disponíveis na internet.


ProGames ficava no Méier


É. Mas nem sempre foi assim…

Antes do exército de jogos piratas de Playstation chegar ao camelô da esquina e você poder ter centenas de CDs de jogos comprados a “10 merrél” cada, os jogos vinham em invólucros plásticos geralmente cinza ou pretos com uma placa de circuitos dentro. Chamávamos essas coisas de “cartuchos”. Até tinha quem pirateasse, mas era difícil garantir a qualidade com tantos componentes envolvidos, e o preço acabava sendo meio alto. Fora que havia riscos reais de um cartucho de qualidade ruim arruinar o seu videogame. Como nem todo mundo era filho de político, a turma muitas vezes só tinha um jeito de experimentar o batalhão de clássicos dos velhos consoles: indo à locadora.

Para quem caiu de paraquedas no mundo dos videogames só na era Playstation, e já nasceu baixando desenhos japoneses pornográficos no eMule, eu explico: as locadoras eram estabelecimentos com estantes cheias de caixas de jogos e/ou filmes. Você escolhia uma caixa, levava ao balcão e “alugava” o jogo/filme pagando mais ou menos quatro reais por dia. Se você nunca entrou numa locadora, deve ter uma Blockbuster aí perto da sua casa, dê um pulo lá e veja que sistema pré-histórico a gente tinha que usar para ver filmes e jogar jogos antes de inventarem o Rapidshare e o Bittorrent.


Algumas locadoras tinham espaços reservados para 
jogar ali mesmo, ou até alugar consoles


Como naqueles tempos não se podia comprar jogo a dez pratas, mas sim a cento e tantas, as locadoras eram um ótimo negócio para o gamer. Dava para jogar um montão de jogos pagando pouca grana por dia. Na maioria das vezes, o cara alugava o jogo, jogava sem parar o dia inteiro, levava bronca da mãe porque não saía da frente da TV, levava outro esporro do pai, dormia tarde pra caramba mas conseguia zerar o jogo a tempo de devolver no dia seguinte. Na pior das hipóteses, o gamer aceitava pagar mais quatro pratas de “multa” para ficar mais um dia com o jogo e conseguir zerar. Claro que isso não funcionava com jogos pseudomasoquistas como Battletoads, onde o jogador torrava uma baita grana no aluguel e não zerava o jogo nem por decreto.

Terrível mesmo era quando chegava um grande lançamento na locadora, tipo o primeiro Mortal Kombat para Super Nintendo. Mesmo com as revistas avisando que o jogo não tinha sangue (que cá para nós, era 90% da graça do jogo) a turma ALOPROU quando o jogo saiu. A locadora mequetrefe aqui do pedaço, que dividia as instalações com uma academia de musculação, recebeu UM cartucho do jogo. Alugar o danado era quase impossível. O jogo não esquentava a prateleira, quando era devolvido já tinha alguém lá de plantão para levar. Um dia eu e um colega nos revezamos na locadora. Chegamos quando o cara ainda estava levantando a porta de metal: “Mortal Kombat tá aí?”, nós perguntamos. “Não, molecada, tá alugado”. Paciência, vamos esperar.

Eu e meu amigo ficamos lá batendo papo. Deu meio-dia, nada do jogo. Eu fui almoçar, ele ficou na locadora. Eu voltei para rendê-lo, ele foi almoçar. Voltou. Nada do jogo. E tome papo-furado. Ficamos lá rindo dos moleques perebas que pagavam duas pratas para jogar meia horinha de F-Zero no SNES que ficava na locadora e estoporavam o carro já na segunda volta na Mute City I. Deu cinco da tarde e bateu aquele frio na espinha: quem alugou o jogo não vai devolver hoje. Dito e feito. Foram mais dois dias de plantão até alugarmos o maldito do Mortal Kombat. Rachamos uns cinco dias de aluguel, e nos divertimos um bocado com o jogo, ainda mais quando imaginávamos os pobres-coitados que estavam passando fome com as pernas doendo na locadora, na vã esperança de que nós, os poderosos inquilinos de Mortal Kombat, liberássemos o imóvel.


Dificil hora de escolher um jogo entre tantos


As locadoras também proporcionavam outras situações dramáticas. RPGs, por exemplo, eram um problema. Memory cards nesses tempos eram um sonho distante, o jogo era gravado no cartucho mesmo. Se você jogasse uns dois dias, gravasse o jogo e devolvesse à locadora para continuar outro dia estava lascado. Via de regra, em um cartucho com espaço para dez saves diferentes, o primeiro Zé Mané que alugasse o dito cujo depois de você certamente ia apagar justamente o seu save. Você alugava de novo na semana seguinte, na esperança de encontrar seu save lá, poupado pela compaixão dos desconhecidos que alugaram o jogo depois de você. Isso obviamente era um delírio, algo como emprestar sua namorada para os amigos do bar por uma semana e acreditar que ninguém sequer passaria a mão na bunda dela.

Uma vez desencavei um cartucho de Phantasy Star III numa locadora bem longe da minha casa. Era muito complicado chegar na locadora, tinha que ficar uma hora no ônibus… eu nunca tinha jogado PSIII, estava doido para conhecer o jogo, e meu amigo (outro amigo, esse tinha o cartucho de Phantasy Star I que eu jogava quando era moleque) também. Não tinha guia, não tinha mapa, não tinha nada. A gente sabia que para zerar o jogo tinha que ser de tacada, que se devolvêssemos o jogo o nosso save ia sambar. No segundo dia, o meu amigo pegou a escova de dentes e o único pijama de macho sem ursinhos e carrinhos estampados que tinha no armário e foi dormir lá em casa para a gente jogar sem parar.


Phantasy Star III - Generations of Doom - RPG


Ao fim do terceiro dia rolou uma certa angústia. A grana era curta, a gente já tava gastando um dindin legal no aluguel, e ainda tinha jogo para pelo menos dois dias. Claro, isso era uma estimativa, não tínhamos lá muita ideia de quanto jogo ainda tinha pela frente. Já, pensou, pagar mais dois dias de aluguel, não conseguir zerar o jogo e ter que devolver por não ter mais grana? Era aquele dilema do “babaca metido a nadador”: você aposta com um colega que consegue nadar até aquela ilha que você vê da praia, e depois de uns dez minutos está morto de cansaço e começa a pensar se é melhor voltar enquanto é tempo ou se vale tentar mais um pouco, sabendo que desistir depois vai ser pior, porque você vai ter que nadar muito mais coisa para voltar.

Para dar um gás, começamos a nos revezar durante a noite. Meia-noite eu dormia e ele jogava. Uma e meia da madruga trocávamos os turnos. Lá pelas quatro da manhã ele me acordou: “Olha, achei o Siren”. E assim nós conseguimos, finalmente, zerar o PSIII no quinto dia pela manhã, sem guia, sem mapas e, agora, sem grana. Deu tempo de encarar a viagem de ônibus até a locadora e devolver o jogo no mesmo dia.


Phantasy Star III - Role Playing Games


Pode parecer que esses tempos de locadora eram um martírio para nós, gamers. Mas a verdade é que a coisa tinha um certo charme. Você se dedicava tanto para conseguir alugar os jogos, e tinha tantas boas histórias de dias de desespero tentando zerar o danado, que passava a valorizar a experiência toda. A verdade é que parte dessa nostalgia que nós temos hoje com relação aos jogos antigos tem muito a ver com essas histórias engraçadas (às vezes terríveis) associadas às jogatinas, histórias que nos fazem lembrar dos nossos amigos e das nossa traquinagens (eu, por exemplo, matei aula uns três dias para zerar o Final Fantasy III de Super Nintendo que aluguei).

E você, tem boas lembranças das locadoras?


As maiores ocupavam um bom espaço, as 
vezes dividindo ambiente com filmes em VHS.



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2 comentários:

  1. Ainda tenho meu cartucho de Phantasy Star 3, mas em português, Eu terminei, porém o Japonês (a capa da fita era o Rhys segurando uma espada que parecia gunblade do Squall Leonhart - https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/81r6avc0XvL._SL1500_.jpg) e nesse ponto fui sortudo porque Eu tinha ganhado UMK3 de aniversário, mas não tinha com quem jogar... Um amigo tinha Phantasy Star 3 e detestava o jogo porque não entendia nada, então ele quis emprestado o UMK pra jogar com os irmãos e pra minha suspresa acabei adorando o game que ele odiava. Zerei, mostrei os 4 finais pra ele e ele só não trocou comigo porque a mãe não deixou. Mas acabei comprando uns anos depois.

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  2. Ah sim: Minha lembrança mais forte de locadora foi na LOC Games, que tinha em Cascadura no RJ, aonde aluguei Splatterhouse 3 pela primeira vez. Eu só consegui zerar esse jogo, porém, agora em 2020 hahahaha! Isso porque Eu era muito ruim em beat 'em ups nos anos 90. Também tenho essa fita.

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