terça-feira, 17 de setembro de 2013

LUA NOVA - Astronomia


LUA NOVA - Astronomia



A tradicional figura prateada do velho satélite da Terra dá lugar às imagens  codificadas em cores, produzidas por instrumentos modernos. Elas marcam a volta do interesse pelo corpo celeste mais próximo do homem.


Poucos feitos, neste século, deixaram impressões mais profundas que a conquista da Lua, há 23 anos. Para os cientistas que estudam a evolução dos planetas, porém, ficou um sentimento agudo de frustração, como um trabalho que se larga pela metade. O motivo disso veio à tona, agora, quase por acaso, nas imagens enviadas pela nave americana Galileu: de maneira espetacular, elas reafirmaram que a Lua é um manancial de pistas sobre os fatos que deram origem as planetas, há 4,6 bilhões de anos. Embora a nave tivesse pouco tempo, durante uma rápida manobra de passagem para o distante planeta Júpiter, ela foi capaz de identificar nada menos que o maior dos mares da Lua, de cuja existência apenas se desconfiava, até hoje. Melhor ainda, a Galileu pôde mostrar que essa vasta depressão, ao ser formada, perfurou a crosta e expôs uma camada geológica mais profunda, o manto. Com isso, rochas derretidas, ricas em ferro, vazaram e deram à superfície os típicos traços dos mares, assim chamados por terem cor mais escura que as terras altas. Mais tarde, tais traços teriam sido parcialmente enterrados por estilhaços de um corpo errante, cujo impacto criou o vizinho Mar Oriental. "Tudo isso sugere que os primeiros mares surgiram centenas de milhões de anos mais cedo do que se imaginava", explica o analista de imagens da Galileu, James Head (a data aceita atualmente é de 3,5 bilhões de anos).
Esses resultados tendem a completar um formidável quebra-cabeça que começou a ser montado com ajuda das pedras trazidas da Lua pelos astronautas americanos ou pelas sondas automáticas soviéticas. Chega-se a ver tais pedras como simples lembrança de viagem, tal a falta de informação existente, Mas elas revelam segredos realmente importantes, conta o geólogo americano William Hartmann, autor do livro The History of Earth (A história da Terra)."Na verdade, foi preciso ir à Lua para se compreender como nosso próprio planeta nasceu".Isso porque as pedras traziam em si as marcas de um inimaginável oceano de rocha derretida, ou magma, que um dia cobriu todo o satélite terrestre até uma profundidade de quase 50 quilômetros.
Imaginou-se então o oposto disso de acordo com o geoquímico John Wood da Universidade Harvard, Estados Unidos. A velha teoria afirmava que o satélite teria sido forjado a frio, pelo acúmulo de corpos menores. Muito mais tarde, ele teria sido aquecido de dentro para fora pela energia emitida por substâncias radioativas, enterradas em seu corpo. Hoje considera que o acúmulo dos pequenos corpos se fez de forma violenta e o aquecimento ocorreu de fora para dentro. À medida que colidiram em alta velocidade com a crescente massa lunar, os corpos primordiais transferiam para ela enormes quantidade de calor.
Essa análise foi possível porque na Lua não há erosão e as rochas antigas são preservadas mais tempo (na proporção de 4,20 para 3,96 bilhões de anos na Terra). "Mas a Terra e os outros planetas também ficaram oceanos de magma", argumenta Wood. Certamente, resta muito o que aprender, já que a partir de 1972, perdeu-se o apoio essencial de projeto Apolo - interrompido depois de apenas seis pousos em umas poucas regiões da Lua. contra os quinze pousos previstos em áreas diversificadas. Isso não significa que o interesse pela Lua desvaneceu. Ao contrário: o lobby lunar está cada vez mais agitado e há pelo menos dois grandes projetos prontos para execução.
O mais pretenciosos visa nada menos que montar uma grande base interplanetária, verdadeiro degrau para a conquista do Espaço. E também pelo menos de acordo com seus defensores, uma solução para muitos problemas da Terra, pois se imagina que a Lua poderia por exemplo, produzir e exportar energia barata. Um dos meios de fazer isso seria montar um vasto painel de células capazes de converter luz solar em eletricidade. No quinto aniversário da cidade da Lua. garantem os projetistas, tal usina já estaria dando lucro. Os clientes na Terra receberiam suas cotas diretamente do céu por meio de um receptor de quase 1 quilômetro de diâmetro, sintonizado na faixa microondas, ideal para transmissão de energia.
Embora difícil de viabilizar, essa idéia é mais prática do que estacionar um conversor solar em órbita, como se tem sugerido nos últimos anos, Primeiro, porque não é preciso lidar com uma instalação em complicado movimento orbital: o painel estaria preso ao solo onde - graças à baixa gravidade lunar, seis vezes menor que a terrestre - pesaria muito pouco. Além disso, a matéria-prima necessária estaria bem à mão, seja na forma de silicatos (areia), metais e especialmente vidros. Estes últimos, de tão comuns, podem se tornar a espinha dorsal de qualquer construção, inclusive de residência para colonos, "Só é preciso fundir o solo", diz o químico Larry Haskins, da Universidade Washington.
O vidro resultante pode ser moldado em películas finas como folha de revista, para fazer  células solares. Ou então rijas, mais resistentes talvez que os produtos similares da Terra. Em todo caso, depois de aquecido e misturado à água, o solo também pode dar um excelente concreto. O que mais espanta porém, são os abundantes recursos continuamente depositados sobre a Lua pelo chamado vento solar - matéria que exala da superfície turbulenta do Sol. Até alimentos poderiam ser fabricados a partir do nitrogênio, carbono e outros elementos básicos que  literalmente caem do céu. Há dez anos investigando esse tipo de recursos. Haskins não vê problema em usá-los para sintetizar pratos palatáveis, como assegurou há pouco à revista americana Air&Space. "É um simples problema de síntese química".
A Lua, definitivamente, não merece a reputação de um mundo estéril e desolado, conclui a revista. Como outras publicações, ela abriu espaço aos argumentos do lobby lunar. no caso, o Grupo Síntese, presídio desde 1990 pelo ex-astronauto Tom Stafford. Composto por 27 especialistas, entre físicos, químicos, engenheiros e analistas militares, o grupo reconhece a dificuldade de conseguir 400 bilhões de dólares para concretizar seu sonho, mas acredita que vale a pena insistir. Assim, procura colocar na mesa de negociação o maior número possível de novidades - como os reatores de fusão nuclear, mais limpos, menos perigosos e mais eficientes que os reatores em uso, de fissão nuclear.
O combustível seria outro dourado fruto do vento  solar, o hélio 3. Relativamente raro na Terra, esse elemento é tão abundante na Lua que poderia suprir as necessidades energéticas do homem por séculos a fio. A fusão é uma utopia distante, diz a maior parte dos cientistas. Mas não o físico americano Jerry Kulcinski, da Universidade de Wisconsin, autor da idéia de usar o hélio 3. "As pessoas não se dão conta de que esse campo avança velozmente."Seja como for sua  proposta cumpre o objetivo de ressaltar os possíveis benefícios econômicos de uma base lunar. Espera-se que eles reduzam a dificuldade de conseguir verba para o projetos de ordem científica, que não são baratos.
Alguns deles são entusiasmantes: a Lua seria um excelente espaçoporto, ponto de partida para vôos a Marte, por exemplo, e um verdadeiro paraíso dos telescópios. Imagina-se, efetivamente, um instrumento de sonho, até 1 milhão de vezes mais poderoso que qualquer coisa instalada na Terra. E não apenas no domínio da luz visível: tal aparelho veria desde ondas de rádio - a radiação eletromagnética menos energética - até o outro extremo do espectro, os raios gama. Com ele, se poderia ler uma palavra miniaturizada - escrita dentro do ponto final de uma frase - num jornal na Terra. Pelo menos foi esse o cálculo feito por seu idealizador, o astrônomo Harlan Smith, com o objetivo, entre outros de aprofundar a busca de planetas em outras estrelas. Seu telescópio permitiria achá-los e também ver detalhes em sua superfície.
É provável, no entanto, que o mais prolífico campo de pesquisa acabe sendo a própria Lua. E isso, mesmo que, infelizmente, o homem não possa voltar a pisar seu solo. A Alternativa, então seria submetê-la ao escrútinio dos sofisticados detectores modernos, como fez agora a Galileu, ainda que de passagem. Não admira que as novas imagens lembrem muito pouco a face familiar do velho satélite da Terra. Obtidas pelo câmera NIMS - uma sofisticada mistura de máquina fotográfica com detector de raios infravermelhos -, suas cores vivas, fortemente contrastadas, não são um simples retrato. Compõem, em vez disso, um painel impressionante de informações sobre a geologia e a química lunar.
É o que se vê no recente pacote de fotos do lado oculto da Lua, o hemisfério que nunca se volta para a Terra: as regiões tingidas de azul forte, por exemplo, indicam alto teor do metal titânio.O verdes, amarelos e laranja destacam rochas do tipo basalto, ricas em ferro e magnésio. Os vermelhos cobrem áreas inteiramente diversas, bem mais altos que os mares e destruídas dos metais detectados neles. Como as rochas trazidas da Lua têm composição química conhecida, elas foram usadas para calibrar os instrumentos isto é, suas fotos servem de comparação para se interpretar o código de cores.
Em compensação, diz a agência espacial americana, a NASA, os dados colhidos durante o projeto Apolo da Galileu. Por meio delas, poderão vir à tona inúmeros detalhes ignorados sobre o lado oculto (que o homem entreviu, pela primeira vez, em 1959, através das câmeras da sonda soviética Lunik 3). Isso, aliás, é o que estão tentando fazer os inúmeros grupos atualmente dedicados a aprofundar os conhecimentos sobre a Lua. Embora não tenham acesso ao lado oculto, propriamente, eles se concentram na áreas que não foram estudadas na década de 60. Na falta de foguetes, eles se viram como podem.
A geoquímica Carla Pieters, por exemplo, conseguiu a proeza de usar um telescópio como instrumento da geologia. No fundo, trata-se de algo parecido com o que se faz na Galileu: ela decompõe a luz branca  refletida pela rochas e analisa as cores resultantes. Uma de  suas conclusões mais importantes modifica a idéia de que o manto magma primordial moldou as terras altas, por serem mais antigas que os mares. Isso é verdade, de modo geral, mas a situação se complica por causa de minerais denominadas olivina e piroxeno. Por serem pesados, eles deveriam estar no fundo do magma, e não perto da superfície das montanha, onde Pieters os encontrou. Assim, ela crê que os minerais foram expelidos para o alto, mais ou menos como ocorre nos vulcões: nos mares, de fato, há inúmeras evidências de rochas intrusas, ejetadas por vulcões.
Nesse caso, porém, a mistura d matéria parece ter sido pelo choque de um grande corpo em queda sobre a Lua, antes mesmo da era dos vulcões. A própria crosta lunar ainda estaria se solidificando sobre a camada mais externa do magma, muito à maneira como a nata se condensa à superfície do leite quente. Não se sabe se, nessa época, a Lua já estava ligada à  Terra: há motivo para pensar que ela se formou como um planeta independente, girando em torno do Sol. O primeiro sinal disso é que nenhum outro planeta tem um satélite proporcionalmente tão grande quanto a Lua. Em segundo lugar, a composição dos dois corpos celestes apresenta diferenças importantes, pois a Lua tem bem menos ferro, por exemplo, do que a Terra.
Outra pista curiosa: a Lua está se afastando a uma taxa de 5 centímetros ao ano. Isso faz  pensar que, em algum momento, há cerca de 2 bilhões de anos, ela esteve muito próxima da Terra, talvez a menos de 30 000 quilômetros - menos de  um décimo de sua distância atual, de 384 000 quilômetros. Alguns chegam a dizer que a Lua foi efetivamente arrancada do corpo da Terra e ejetada para o espaço, como resultado de uma colisão fantástica com um extinto planeta do porte de Marte.
Cadogam prefere uma outra hipótese. Ele acha mais plausível que a Lua tenha ficado presa a uma órbita da Terra, depois de um quase choque entre os dois corpos. Mas a despeito de todos os fatos e idéias, ainda não se pode descartar a hipótese mais simples: a de que a Lua e a Terra de formaram lado a lado, a partir de uma mesma massa primordial. Os cientistas admitem que estão longe de esclarecer com precisão a complexa natureza dos planetas e esse é um dos mais fortes argumentos em favor do retorno à Lua. Pelo menos é como raciocina um dos mais antigos e  persistentes defensores dessa tese, o planetologista americano Wendell Mendell. Se o homem pretende colonizar outros mundos, precisa conhecê-los melhor, e para isso não há lugar mais indicado do que o satélite da Terra. A perspectiva de construir uma base lunar, portanto não depende tanto de verba, diz Mendell. "As dificuldades desaparecerão quando houver uma crença generalizada de que a conquista do espaço é parte do destino da humanidade".

A história, segundo a geografia

 Nenhum planeta além da Terra tem um satélite tão grande, em termos relativos. Daí o encanto que se vê no verso da grega Safo, do século VII a.C., sobre a Lua (que ela chama de Silene): "Em torno a Silene esplêndida / os astros / recolhem sua forma lúcida / quando plena ela resplende / alta / argêntea". Mil anos depois, já se mapeavam seus acidentes geográficos que hoje permitem reconstituir a história da Lua. Basta olhar para ela para distinguir as áreas mais antigas: de modo geral, são as mais claras e altas. Muitas delas têm nomes de montanhas terrestres como Cárpatos (Carpathian, no mapa) e Apeninos (Apennines). Elas são a superfície endurecida de um oceano de lava - ou magma - que cobriu a Lua nos primeiros milênios de sua existência. Há 4,2 bilhões de anos, o furioso bombardeio de corpos cadentes abriu crateras de todo tamanho, inclusive as gigantes, que deram origem às planícies escuras, apelidadas de mares. O Mar da Serenidade (Serenitatis) facilmente visível na face lunar, é um dos mais antigos, com cerca de 4 bilhões de anos. Ao lado dele vêm o Mar da Umidade (Humorum), do Mel (Nectaris) e das Chuvas (lmbrium) onde pousou a nave Apolo 15. Mais recentes, com 3,5 bilhões de anos, vêm o Mar da Tranqüilidade (Tranquilitatis) e da Fecundidade (Fecunditatis). Já a cratera Copérnico é bem recente, com menos de 1 bilhão de anos.



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