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segunda-feira, 24 de maio de 2021

"Triângulo das Bermudas Espacial" - Anomalia magnética sobre o Brasil intriga a ciência

 "Triângulo das Bermudas Espacial" - Anomalia magnética sobre o Brasil intriga a ciência

Satélites e naves espaciais que passam por essa região podem sofrer danos.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

NASA divulga imagens impressionantes dos incêndios na Amazônia

NASA divulga imagens impressionantes dos incêndios na Amazônia


A NASA divulgou imagens do fogo que atinge a região amazônica. O satélite Aqua registrou focos de incêndio nos estados de Rondônia, Amazonas, Pará e Mato Grosso nos dias 11, 13 e 20 de agosto. 

segunda-feira, 18 de março de 2019

Como pesquisadores brasileiros descobriram quase por acaso três novos aglomerados de estrelas

Como pesquisadores brasileiros descobriram quase por acaso três novos aglomerados de estrelas

Pesquisadores do departamento de Física da UFMG identificaram três novos aglomerados de estrelas em movimento na Via Láctea e os batizaram em homenagem à universidade 
— Foto: Mike Read (WFAU), UKIDSS/GPS and VVV

Cientistas da UFMG são os primeiros brasileiros a descobrirem aglomerados de estrelas a partir de imagens capturadas pelo satélite Gaia, lançado em 2013 pela Agência Espacial Europeia e que criou um mapa em 3D da Via Láctea.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O Ano da Lua - 2019

O Ano da Lua - 2019

Chang'e 4 — Foto: Divulgação 

Sim, você leu certo. Não, você não está lendo sobre astrologia ou outra bobagem esotérica qualquer! É que se tudo sair como previsto, 2019 será o ano da reconquista da Lua.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Maior Lua de Saturno pode abrigar forma de vida que não envelhece


Maior Lua de Saturno pode abrigar forma de vida que não envelhece


Passamos tanto tempo procurando vida em outros planetas e, no final das contas, poderemos encontrá-la no satélite natural de um de nossos “vizinhos” de Sistema Solar. Isso porque, para especialistas, a lula Titã, a maior de Saturno, pode abrigar vida.

terça-feira, 31 de março de 2015

Titã, a lua de Saturno, pode abrigar um tipo diferente de vida


Titã, a lua de Saturno, pode abrigar um tipo diferente de vida


Quando pensamos na possibilidade de vida fora da Terra, frequentemente nos atemos à ideia de uma vida idêntica à de nosso planeta, baseada na existência de água... 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vão-se os anéis, ficam as luas - Saturno


VÃO-SE OS ANÉIS, FICAM AS LUAS - Saturno


O senhor dos anéis ficou de banda para a Terra. Foi em maio e agosto de 1995 e em fevereiro de 1996. Depois de analisada, a foto do fato foi divulgada, em comemoração aos seis anos de atividade do Telescópio Espacial Hubble. Os anéis aparecem de perfil porque a imagem foi obtida no momento em que a Terra estava alinhada exatamente com o plano equatorial de Saturno. Desse ângulo, eles ficam praticamente invisíveis. Fininhos demais para refletir a luz do Sol, não ofuscam a visão das regiões próximas do planeta. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

GPS: o guia que veio do espaço - satélite

GPS: O GUIA QUE VEIO DO ESPAÇO - Satélite


Entra em ação o satélite que completa um sistema capaz de dizer, com precisão nunca antes atingida, a latitude, longitude e altitude de qualquer ponto na Terra.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Satélite europeu tem 'câmera mais poderosa da História'


Satélite europeu tem 'câmera mais poderosa da História'

O satélite Gaia em construção: câmera tem sensores que detectam distintos tipos de luz (Foto: BBC)

Gaia vai mostrar Via Láctea em 3D pela primeira vez e identificar cor e temperatura de estrelas.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Mar à vista - Satélites


MAR À VISTA - Satélites


Pelo espaço, os oceanógrafos descobrem os segredos dos mares. As imagens e dados fornecidos por satélites mostram a temperatura da água, os lugares onde a vida marinha é mais rica e até como eram as praias 8 000 anos atrás.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

LUA NOVA - Astronomia


LUA NOVA - Astronomia



A tradicional figura prateada do velho satélite da Terra dá lugar às imagens  codificadas em cores, produzidas por instrumentos modernos. Elas marcam a volta do interesse pelo corpo celeste mais próximo do homem.

sábado, 18 de maio de 2013

Equipamento da Nasa capta forte impacto de rocha com a Lua


Equipamento da Nasa capta forte impacto de rocha com a Lua

Imagem mostra centenas de impactos de rochas com a Lua, registrados por equipamento da Nasa. O ponto em vermelho é a colisão mais recente, considerada a mais forte (Foto: Nasa/Reuters)

A explosão foi maior desde o início do monitoramento de impactos na Lua.
Rocha de 40 quilos tinha 30 cm de diâmetro e viajava a 90 mil km/h

Kepler em repouso; será o fim?

Kepler em repouso; será o fim?


A missão do Telescópio Espacial Kepler (essa mesma aí do post anterior) pode estar com os dias contados.

O funcionamento normal do satélite é mais ou menos assim: quase que semanalmente, ele volta suas antenas de comunicação em direção a Terra para fazer o download dos dados observados. O telescópio fica durante alguns dias apontado para uma região do céu, mais precisamente nas constelações do Cisne, da Lira e do Dragão. Depois de acumular dados dessa região, se move de maneira a apontar a antena para a Terra e descarrega as informações. Depois disso, volta a apontar na mesma direção de antes.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Destino: Terra - Espaço


DESTINO: TERRA - Espaço



A preocupação com o ambiente invade os programas espaciais. Uma batelada de novos satélites vai ajudar os cientistas a entender melhor o que acontece com o planeta.

Durante os últimos 33 anos, desde que os soviéticos lançaram ao espaço o primeiro satélite artificial, o homem se acostumou a pensar nas conquistas espaciais como uma corrida para chegar cada vez mais longe. O Sputnik foi jogado numa órbita entre 228 e 947 quilômetros de distância. Em 1969, astronautas pisaram na Lua, a 384 mil quilômetros da Terra. Depois, naves automáticas rumaram para outros mundos, pousando em Marte e Vênus, tiraram fotos inesquecíveis dos gigantes Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A sonda Pioneer cruzou os limites do sistema solar e enviou sinais a mais de 6 bilhões de quilômetros. Mas aquela que talvez venha a ser a maior conquista de todos os tempos e está sendo planejada agora dirá respeito a um corpo celeste do qual se supõe conhecer muita coisa: a própria Terra. A idéia de explorar do alto a casa do homem começou a tomar corpo num período relativamente breve. Há três anos, a então astronauta Sally Ryde, hoje professora da Universidade de Stanford, na Califórnia, referiu-se a uma certa Missão ao Planeta Terra no seu relatório sobre o futuro do programa espacial americano depois do desastre com a nave Challenger em 1986. O relatório feito a pedido da NASA desestimulava a busca de proezas mais ousadas, como a ida do homem a Marte ou o estabelecimento de uma colônia lunar, mostrando que a ciência espacial bem poderia contribuir para necessárias pesquisas aqui mesmo na Terra. Mas foi preciso que a crise ambiental se transformasse em assunto de todos os dias para que os promotores da conquista do espaço começassem a pensar seriamente em usar mais esse valioso instrumento para enxergar melhor o que acontece no quintal terrestre.
Na realidade, há anos que o homem aproveita os avanços tecnológicos que possibilitaram às naves espaciais ir tão longe para ter uma idéia melhor das ameaças ao meio ambiente. Já no final da década de 70, por exemplo, as imagens enviadas pelo satélite meteorológico Nimbus-7 deram aos cientistas a péssima noticia de que havia um buraco sazonal na camada de ozônio sobre a Antártida, um dos mais sérios problemas criados pela poluição industrial. As naves espaciais documentaram também o desmatamento das florestas tropicais, a desertificação na África, o ar envenenado das grandes cidades e o mau uso do solo. Os satélites de sensoriamento remoto verdadeiros olhos no espaço, captaram as radiações emitidas pela superfície do planeta tanto na faixa do visível como no infravermelho e em microondas.
Com essas imagens hoje se faz desde a avaliação dos recursos naturais a estimativas de colheitas agrícolas, passando pela observação de acidentes ecológicos, além de planejamento urbano e cartográfico. Mas os instrumentos disponíveis precisam evoluir muito para documentar todas as complexas interações entre o solo, os oceanos e a atmosfera. "A física e a química do funcionamento do planeta ainda não foram compreendidas e a nossa habilidade de prever mudanças é falha", diagnostica o microbiólogo sueco Thomas Rosswall, diretor-executivo do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera (IGBP), ouvido por nos. Ele esteve há pouco no Brasil para participar de um seminário sobre mudanças ambientais na América Latina, no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos.
Segundo explicou, o programa IGBP, que funciona em 34 países, pretende justamente reunir dados que permitam aos pesquisadores prever a repercussão da atividade humana no meio ambiente, especialmente nas concentrações e misturas de gases na atmosfera, no clima e nas interações entre esses fenômenos. "Para isso precisamos de novos e mais eficientes instrumentos de trabalho", afirmou o cientista. "Não podemos compreender o funcionamento da Terra apenas vigiando aqui e medindo acolá, sem integrar todas as peças no quebra-cabeça." Para facilitar essa integração, cujos benefícios talvez incluam projeções menos polêmicas sobre as conseqüências do efeito estufa sobre o nível dos mares, os países envolvidos na exploração espacial planejam lançar até o final da década de 90 quinze satélites equipados com instrumentos para medir praticamente tudo que vale a pena neste mundo - da espessura do gelo na Groenlândia à força das tempestades tropicais no Oceano Índico.
Para o sueco Rosswall, esta nova versão daquilo que Sally Ride chamou Missão ao Planeta Terra apenas terá sentido se todas as informações forem usadas em pesquisas interdisciplinares - diferentemente dos experimentos espaciais anteriores que coletavam dados apenas para determinados estudos. Em sua opinião, "só assim os cientistas vão entender o delicado sistema de funcionamento do planeta e influenciar os responsáveis pelas decisões políticas para que tomem as medidas necessárias à redução da atividade destrutiva do homem".
O maior dos projetos que compõem a Missão ao Planeta Terra é o Earth Observing System (EOS), ou Sistema de Observação da Terra, de responsabilidade sobretudo da NASA, composto a princípio de duas séries de três plataformas polares, pesando cada uma 15 toneladas e com carga útil de 3,5 toneladas. Como comparação, um satélite de sensoriamento remoto da série Landsat, atualmente em órbita, pesa cerca de oito vezes menos. O projeto prevê o funcionamento ao mesmo tempo de duas plataformas, uma de cada série. O primeiro lançamento será em 1997. Cada plataforma ficará em órbita durante cinco anos a 824 quilômetros de altitude. Como os lançamentos serão sucessivos, espera-se que durante quinze anos o sistema forneça informações praticamente diárias sobre o planeta. Fazem também parte do projeto outras plataformas semelhantes, que serão lançadas pelo Japão e pela Agência Espacial Européia, e ainda a colocação de uma série de pequenos satélites em órbita equatorial com missões específicas, como por exemplo acompanhar as variações na espessura da camada de ozônio na atmosfera.
Se a NASA conseguir os dólares necessários, serão lançados mais cinco satélites em órbita geoestacionária a 36 mil quilômetros do equador. Nessa altitude, igual à dos satélites meteorológicos, estarão sempre na mesma posição e assim poderão medir qualquer processo no planeta de maneira contínua. Desde já, a Missão ao Planeta Terra é considerada um dos maiores e mais caros projetos concebidos pela agência espacial americana-estima-se que terá um orçamento de 20 bilhões de dólares, uns 3 milhões a menos do que serão gastos na controvertida estação espacial Freedom, onde também se prevê a instalação de medidores de chuva, de ventos e de radiação solar na região equatorial. Os defensores da Missão batalham para que os Estados Unidos o adotem como prioridade nacional, à maneira do projeto Apolo na década de 60, que levou o homem à Lua. Desta vez, poucos teriam a coragem de dizer, como então, que se trata de dinheiro jogado fora para satisfazer uma vaidade patriótica: o projeto pode ajudar a recuperar o meio em que o homem vive.
Embora o lançamento da primeira plataforma polar EOS só vá ocorrer daqui a sete anos - se não houver atrasos -, o seu funcionamento está sendo desenhado desde já. "É um projeto que requer planejamento e um complexo programa de análise e tratamento de dados", informa o engenheiro agrônomo Getúlio Batista, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). "O Sistema de Observação da Terra deve coletar mil vezes mais informações do que os satélites Landsat." Batista, que vai passar os próximos dois anos no Goddard Space Flight Center, em Maryland, Estados Unidos, é o coordenador de um dos 55 projetos aprovados pela NASA para serem desenvolvidos com o auxílio dos dezenove sensores da plataforma polar. Ele vai acompanhar o ciclo da água na Amazônia para entender como o desmatamento afeta o ecossistema da floresta tropical.
"É uma oportunidade única para estudar o papel da floresta no clima do globo", entusiasma-se o pesquisador, um dos integrantes da equipe de sensoriamento remoto do INPE acostumada a denunciar com imagens vindas do espaço a extensão das queimadas brasileiras. Os satélites atuais não são capazes de detectar as taxas de evaporação e transpiração da floresta, o que significa que até hoje não se sabe com precisão quanto chove de verdade na Amazônia. Mas os sensores da plataforma polar do EOS podem medir temperatura, umidade e quantidade de poeira na atmosfera. Eles também vão fornecer a cada três dias, com resolução de até 500 metros, imagens da vegetação - ou de sua perda - na superfície da floresta.
A plataforma polar do EOS conta ainda com um instrumento de alta resolução e sensibilidade para observar mudanças biológicas nos rios da Amazônia, capaz de rivalizar com os satélites-espiões que Estados Unidos e União Soviética tanto apreciam para bisbilhotar as armas secretas um do outro. "Será uma espécie de lente zoom no espaço", compara Batista. "O sensor tem resolução de 30 metros, igual ao do Landsat, mas suas bandas espectrais, divisões das faixas de luz, serão 192, contra sete do satélite americano e quatro do francês Spot", contabiliza o pesquisador. "Com ele vamos acompanhar a vazão dos rios, a quantidade de sedimentos depositados, a qualidade da água nos reservatórios e o impacto das barragens." Esse mesmo sensor poderá identificar minerais e tipos de solos, quantidade de plânctons nas zonas costeiras, impurezas na neve e o efeito da umidade e da poluição nas folhas. Haja pesquisadores para interpretar tamanha constelação de dados.
Outro instrumento, dotado de laser deve medir os movimentos da crosta terrestre -proporcionando, quem sabe, informações de vital importância a populações de áreas sujeitas a terremotos, como a Califórnia -, a cobertura da camada de gelo nos pólos e até a altura das ondas oceânicas. E um radar, enfim, fará o mapeamento das terras, mares e superfícies geladas mesmo nos dias nublados e durante a noite. Além de participarem do EOS, os países que já mandaram seus brinquedos ao espaço têm outros projetos em andamento para esta década. Um deles é o Topex/ Poseidon, um empreendimento conjunto dos Estados Unidos e da Agência Espacial Européia, que será lançado em dois anos. Como o nome sugere, o engenho deverá estudar os padrões de circulação dos oceanos e sua relação com as mudanças no clima terrestre.
O satélite americano Space Radar Observatory, por sua vez, com lançamento marcado também para 1992, será o primeiro a fazer um mapeamento completo do planeta por radar, o que certamente será a alegria dos geógrafos. Mais importante ainda, o aparelho medirá as taxas de dióxido de carbono da atmosfera que são o principal indicador do efeito estufa. Os japoneses devem lançar o Geotail, destinado a estudar a energia na magnetosfera, camada além da ionosfera que se estende até a faixa-limite do espaço interplanetário. Os soviéticos têm dois satélites programados para estudar a influência da energia solar no planeta, um tema que por sinal vem mobilizando especialmente os cientistas desde o ano passado devido à intensificação da atividade do Sol neste período.
Estudar a Terra certamente não provoca tanta excitação quanto o sonho de enviar missões tripuladas a outros planetas, mas os próprios cientistas que têm a cabeça em Marte ou mais longe ainda estão acordando para o imperativo de que consertar o planeta é prioritário à sobrevivência da humanidade. Como diz o astrofísico americano John Eddy, da Universidade do Colorado, um dos integrantes do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera, "quando escreverem o livro da História do século XXI, as próximas gerações se perguntarão porque demoramos tanto até olhar para a nossa casa". Antes tarde do que nunca: justamente para recuperar o tempo perdido, o Ano Internacional do Espaço, marcado para 1992 a fim de coincidir com as comemorações dos quinhentos anos da descoberta da América, será dedicado à Missão ao Planeta Terra. 

A cor do mar e o efeito estufa

Que será que os plânctons, microscópicos organismos da superfície dos oceanos, tem a ver com o equilíbrio climático da Terra? As imagens coloridas dos oceanos transmitidas pelo satélite Nimbus-7 de 1978 a 1986 dão uma pista e mostram de maneira exemplar o que os cientistas do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera (IGBP) querem dizer quando falam em interação dos processos físicos, químicos e biológicos do sistema terrestre. Como os vegetais do solo, os plânctons contêm clorofila e outros pigmentos que absorvem a luz solar nas faixas azul, amarela e vermelha do espectro. Assim, existe uma relação entre as cores das camadas superiores do oceano, captadas pelos sensores do infravermelho do satélite, e a concentração de plânctons ali.
Os cientistas que estudam o clima terrestre, os climatologistas, não sabem ainda qual o volume de dióxido de carbono, emitido pela queima de combustíveis fósseis, que acaba absorvido pelos oceanos, mas calculam que seja significativo. Uma boa porcentagem desse gás, um dos principais causadores do efeito estufa, é usada biologicamente pelos plânctons na fotossíntese e portanto não contribui para o aquecimento da atmosfera. Esses organismos também são responsáveis pela absorção de nitrogênio e partículas de fósforo e ferro da atmosfera na síntese de proteínas. Quanto eles absorvem dessas substâncias é uma questão por responder. E a resposta pode fornecer uma indicação a mais sobre a quantas anda o ar do mundo.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Diario de um Cosmonauta - Espaço


DIÁRIO DE UM COSMONAUTA - Espaço



A vida cotidiana, com suas alegria e desconfortos, a bordo de uma estação espacial, nas palavras do cosmonauta russo Valentin Lebedev. Ele permaneceu 211 dias em órbita.

Ao contrário dos americanos que mandam seus astronautas ao espaço em missões que duram não mais de três a quatro dias, os soviéticos apostam há vários anos nas longas permanências, acreditando que isso lhes será útil em futuras viagens a planetas distantes. Atualmente, a estação orbital Mir abriga dois cosmonautas desde setembro do ano passado. Em 1988 Vladimir Titov e Musa Manarov bateram o recorde de 366 dias de permanência no espaço. Antes deles, Valentin Lebedev e Anatoli Berezovoi viveram em órbita da Terra durante 211 dias, a bordo da estação espacial Saliut 7. A missão durou de 13 de maio a 10 de dezembro de 1982. Todos os dias Lebedev anotava suas impressões num diário que seguramente é o mais rico relato pessoal já elaborado sobre a aventura humana além das fronteiras terrestres. O resumo a seguir, traduzido do russo por Serguei Ignatiev, em Moscou, especialmente para SUPERINTERESSANTE, proporciona uma atmosfera completa e divertida do cotidiano de um cosmonauta em serviço.

SETEMBRO 11

É dia de tomar banho. Uma limpeza da cabeça aos pés. Liussia (diminutivo de Liudmila, mulher de Lebedev) e Vitalik (Vital, seu filho) vieram para a sessão de comunicação e parecem bem. Meu filho mostrou pela televisão seu boletim escolar. Só notas altas. Perguntei-lhe se eram valores do trimestre. Disse que não, que são da semana. Parabéns! Que alegria ver e ouvir meu filho. Quem dera tivéssemos uma filha também! Em seguida, fui me lavar. Durante o banho, a velha e calosa pele das plantas dos pés rebentou e despreendeu-se por completo, como a casca de uma batata. Isso porque aqui não andamos apoiados nos pés. Agora eles estão parecidos com os de um recém-nascido: rosados, revestidos de uma fina pele enrugada. Ainda que seja trabalhoso tomar um rápido banho em pleno Cosmo - porque, antes de começar, você deve montar o box, abastecê-lo de água e, depois de se lavar, desmontar, jogar fora a água suja e limpar o invólucro - acho que vale a pena, tamanho é o prazer que dá! Terminado o banho, ponho roupas limpas: camisa, ceroulas e meias. Vestido assim, preparo uma comida quente, saborosa.

SETEMBRO 14

Dia de revisão do "contrato de trabalho": devemos decidir se prolongamos o prazo de permanência no Cosmo. Hoje também estamos realizando experiências geofísicas. Fotografamos os territórios da União Soviética, de Cuba e dos países africanos com os quais temos acordos na prospecção de recursos naturais. Também registramos com a câmera de vídeo o que Iúri Gagárin viu ao dar uma volta ao redor do planeta (em 1961). Tudo como se fosse com os olhos dele, os do primeiro homem que viu nossa Terra do Cosmo. Às 2 da tarde nos fizeram a proposta de continuar o vôo, ou seja, prolongá-lo quarenta dias além do prazo inicialmente previsto. Respondemos que sim, desde que voar mais de duzentos dias não fosse um objetivo em si, quer dizer, desde que o novo prazo se justificasse com trabalho suplementar. Pedimos que nos fossem dadas melhores condições para o cumprimento das experiências e mais autonomia na organização da jornada de trabalho. E que fosse considerada a possibilidade de mais uma saída ao espaço exterior. Argumentamos que isso ajudaria a motivar o corpo para o novo trabalho e melhorar nossa disposição emocional. Responderam que discutiriam com os especialistas. Agora, temos pela frente mais três meses de vôo, perspectiva que, para ser franco, parece dura.

SETEMBRO 18

Hoje o dia é de descanso. Cada um se ocupa de suas próprias coisas. Peguei a câmera para fotografar a estrutura do horizonte da Terra com o visor ótico Puma, que tem um poder de ampliação de quinze vezes. Quero registrar ainda a aurora boreal com um filme em cores, bem como o nascer-do-sol, que é um belo espetáculo. Ao passar por trás da atmosfera, o Sol não tem aquela forma redonda a que estamos tão habituados na Terra. Daqui, parece achatado e, à medida que se levanta no horizonte, vai adquirindo uma forma arredondada, como uma bola sendo inflada. Um fenômeno interessante e empolgante. O horizonte é um arco-íris vivo, com faixas coloridas sendo substituídas por outras, variando em largura, brilho, número de camadas e densidade das cores, fazendo com que a atmosfera pareça um prisma manipulando os componentes do espectro solar para formar uma faixa branca cada vez mais intensa.
A filmagem do Sol comporta um sério problema: com um aumento de quinze vezes, o ângulo de visão é muito pequeno. Sem contar que se é obrigado a usar um filtro de luz que reduz a luminosidade mil vezes, o que dificulta a operação de apontar a câmera para o lugar em que o astro vai nascer. É preciso olhar durante muito tempo pela vigia da nave para mirar bem. Para isso, tive de colocar a camisa sobre a cabeça e nela abrir dois orifícios, como se fosse uma máscara, protegendo assim o rosto e os olhos. Uma vez cheguei a queimar os olhos, que ficaram com a esclerótica coberta por uma película amarela - um horror! - e tive de me tratar com um ungüento especial da farmácia de bordo.

SETEMBRO 20

Acordamos às 5 e 30. Temos a acoplagem com o transportador Progress-15. O encontro com o veículo de carga é sempre um acontecimento emocionante. Nele vêm novos aparelhos, para novos e interessantes trabalhos. Chegam também outras coisas bastante agradáveis: presentes dos companheiros de solo, correspondência de casa, edições recentes de jornais e revistas. Esse veículo em particular é importante porque é o último da nossa missão e é dele que depende a prorrogação da permanência em vôo, pois traz combustível, alimentação e água. Depois da acoplagem, tivemos uma sensação de alívio. O vôo vai continuar. Para nós é habitual dizer "chegou o transportador espacial". Mas como a nave Progress nos localiza no espaço? Como se acopla com a estação? Vou tentar explicar.

Uma vez lançado, o transportador espacial é orientado para a órbita de encontro por manobras comandadas da Terra. A fim de garantir a precisão no momento do encontro, um sistema de radionavegação chamado Igla é ligado quando o transportador chega a 20 quilômetros da estação espacial. Estabelecido o contato de rádio entre a nave e a estação, os dois veículos ficam se falando continuamente, trocando informações sobre velocidade, distância e posição angular. Nós permanecemos como simples espectadores. Quando os propulsores de orientação são ligados, ouvem-se pancadas surdas no casco, como se fosse um tambor. Durante o movimento de rotação para acertar a posição de acoplagem, sente-se uma pequena aceleração, momento em que os objetos que não estão presos começam a voar pela estação. À tarde, recebemos o sinal positivo para abrir a escotilha do veículo de carga. Entramos nele. Ainda bem que não há guardas alfandegários no espaço.

SETEMBRO 21 

Dia de descarga do Progress. Dormi mal. É muito bom estar habituado a esse tipo de trabalho, sabendo por onde começar. É uma operação semelhante ao ato de trinchar um peixe, que você ou pode simplesmente cortar de qualquer jeito e a muito custo, ou dividi-lo da forma certa, rápida e elegante. É o que fizemos com nosso transportador: concluímos o trabalho em apenas um dia, dois antes do prazo programado. E, quando nos disseram que ainda havia cartas numa caixa no fundo do veículo, justamente no local em que existe uma escotilha por onde o lixo é expelido, pus-me a cavar como uma toupeira, afastando as cargas que encontrava no caminho, até alcançar a presa. Fiz esse trabalho sem os óculos de proteção. Torci para que nenhuma farpa metálica caísse nos olhos. Saí do transportador com as cartas, o rosto brilhando de suor e com algumas farpas coladas nele.

Encontramos no pacote de guloseimas mostarda, mel, amêndoas, damasco; nossas mulheres haviam acrescentado ainda caranguejos, caviar, cebola e alho. Mas o melhor é o pão de Tula, enviado por Liudmila. É pena que não temos leite gelado. Ao fim do dia, abrimos um grande e grosso envelope ricamente decorado. Dentro encontramos algumas cartas, uma série de desenhos e propostas relativas a futuras experiências no Cosmo - todas feitas por crianças que participaram de um concurso. Algumas das idéias são bastante curiosas, como a de cortar uma minhoca e verificar se, em órbita, sua pele se regenera. Ou saber se as formigas são capazes de construir um formigueiro no estado de imponderabilidade. Ou então descobrir qual seria a forma de uma pérola feita por um molusco a bordo da estação. Quando acabamos de ler essas cartas, percebemos que as crianças conseguiram realizar seu propósito: nos deixaram desconcertados.

SETEMBRO 23 

Dia reservado a trabalhos de reparação, estando também previsto continuar a mexer no transportador espacial. Substituímos o conjunto de aparelhagens médicas e trocamos a água do reservatório. Não estou com vontade de fazer observações visuais. Sinto cansaço. Meu corpo parece uma mola sem nenhum milímetro de folga e muito tensa.
Vem uma certa apatia. Tudo parece aborrecido. O apetite, entretanto, continua bom, graças a Deus. Lavamos o rosto com lenços úmidos. Escovamos os dentes com uma espécie de dedal coberto por um antisséptico. Você põe no dedo e esfrega os dentes e as gengivas. Uma coisa agradável e cômoda. Também se pode utilizar a escova comum com pasta de dentes, mas aí existe o problema de como enxaguar depois a boca. Temos de aplicar obrigatoriamente um creme no rosto para evitar a secura e irritação da pele.

Limpamos o corpo todo com toalhas úmidas e depois o secamos com toalhas secas. Uma sensação prazerosa. Depois de terminada a descarga do Progress, nossa estação está uma verdadeira bagunça. Estão flutuando entre nós sacos cheios de equipamentos. Pelo tom das vozes vindas da Terra, percebemos que o pessoal está tomando o cuidado de nos tratar de maneira especial. Eles falam conosco como quem lida com doentes, preocupados com a duração prolongada do vôo. Não compreendem que isso é muito pior porque estraga nossa disposição. À noite, li algumas revistas acomodado em meu lugar preferido, no compartimento onde as naves engatam. Agora, vou dormir.

SETEMBRO 27

Dormi muito bem, um sono de quase onze horas. Ao me levantar, sentia uma pequena dor de cabeça. Mas, pouco depois, passou. À noite, senti o estômago. Acho que foi uma leve gastrite. Tivemos de nos preparar para as experiências durante toda a manhã. Quase não falamos. Quando comecei a experiência com o fotômetro eletrônico, vi Tolia (Anatoli, companheiro de vôo de Lebedev) chegar perto e dizer: "Vamos fazer juntos". Fizemos um bom trabalho. Registramos três estrelas: Beta de Cisne, Vega e Altair. Lembro-me de ter lido em vários artigos que, em órbita, alguns cosmonautas enxergaram casas esparsas, um navio no mar e até um ônibus correndo pela estrada.
Será que isso é possível? Vamos ver. A capacidade de resolução do olho humano com boa visão permite distinguir, de uma altura de 350 quilômetros, objetos com dimensões da ordem de 100 metros, ou seja, navios e os maiores edifícios. Em certas condições atmosféricas, com uma iluminação solar favorável e a presença de sombras, é possível discernir coisas menores. Distinguir um veículo e ainda por cima afirmar que é um ônibus é impossível a olho nu. Isso porque é difícil isolar pequenos objetos entre uma infinidade de coisas semelhantes e sobre um fundo muito retalhado. Não digo que, com uma rara combinação de condições atmosféricas sobre determinadas regiões, a camada aérea não possa funcionar como uma lente, possibilitando uma melhora súbita da visibilidade. Eu, porém, nunca vi.

NOVEMBRO 06

Pela manhã, executamos uma nova experiência científica. Depois começamos os preparativos para o banho. Me distraí e não fechei direito o recipiente onde colhemos a urina, por isso a tampa pulou fora com a pressão, brotando também água suja misturada com a urina. Uma grande gota amarela ficou pendurada no extremo da mangueira. Grande coisa! Fiz a limpeza. A propósito, não sentimos aqui nojo por tais coisas, compreendendo que tudo isso é nosso, só dos dois. Tomei uma ducha. Tenho sentido ultimamente dor na coluna. Sei, por experiência terrestre, que isso acontece quando pratico pouco esporte. Os músculos se enfraquecem. Por isso fica difícil para a coluna sustentar o peso do corpo, originando uma compressão das vértebras. Aqui, em órbita, acontece o contrário: elas se dilatam. Como voamos há muito tempo, perdemos o sentido do tempo. Sabemos que muito já se passou, mas não podemos perceber exatamente quanto, como fazemos quando estamos em terra. Lá se vive a primavera, o verão, o outono, o inverno e as férias. Aqui, tudo está envolto por um tempo anônimo, uma sucessão de luz e escuridão, quinze vezes por dia.

NOVEMBRO 11

Dia da morte de Leonid Brejnev (chefe do governo soviético desde 1964). Lançamento do ônibus espacial americano Columbia. Acordei por volta das 5 da madrugada. Levantei mais cedo para filmar o Extremo Oriente em videoteipe. Vejo a cama de Tolia vazia. Olho para o compartimento de trabalho e o descubro deitado e encolhido no aparelho de esteira rolante. Perguntei o que tinha acontecido. Ele disse que não estava se sentindo bem, parecendo intoxicação, uma dor no lado esquerdo do abdômen. Ao cabo de uma hora, vejo o homem ainda sofrendo. Fui até a farmácia e peguei dois remédios e um comprimido de carvão ativado. Sobrevoamos o território soviético. Digo a Tolia que não temos o direito de esconder sua dor e sugiro entrar em contato com a Terra e informá-los. Ele concorda. Estamos passando sobre o litoral do Extremo Oriente, não estando programada nessa volta uma sessão de comunicação. Faço a chamada: "Aqui Elbrus-2, responda-me". Entra o operador de plantão do posto terrestre em Ussuriisk. Peço ligação para o Centro de Controle de Vôos. Atende Viktor. Solicito um médico, vem correndo Valera, médico de turno. Expliquei-lhe tudo e aí saímos da zona de radiovisibilidade. Somente na comunicação seguinte, às 8 da manhã, tive nova conversa com Valera e ele recomendou aplicar uma injeção de atropina. Peguei na farmácia uma seringa e disse: "Vamos, Tolia, mostre o seu traseiro porque vou te dar uma agulhada". Segurei metade da agulha com os dedos para que não entrasse toda na carne. Ele disse que nem sequer percebeu quando apliquei. Uma hora depois se sentia aliviado. Na sessão de comunicação seguinte, já haviam reunido uma junta médica para decidir se devíamos ou não aterrissar. Coisa absurda: passar nove anos se preparando para o vôo, voar meio ano e ter de aterrissar uma semana antes do recorde de permanência no espaço. Como se isso fosse pouco, entra Riumin (cosmonauta que à época trabalhava no Centro de Controle dos Vôos): "Rapazes, estamos preparados para trazê-los de volta". Bolas! Depois do almoço, o pessoal de terra pediu que, pelo sim, pelo não, nos preparássemos para a descida. Ao meio-dia, Tolia já não parecia tão aborrecido. Digo-lhe: "Vamos então comunicar que aterrissamos".

DEZEMBRO 13

(Depois do regresso) Dia de repouso. Sinto-me muito mais aliviado, já sem aquele cansaço no corpo. Levanto os objetos com mais facilidade, me mexo na cama sem esforço. Participamos de uma entrevista coletiva. Fiquei contente porque parece ter sido uma boa conversa. De dia, fiz um treino na piscina, uma caminhada, exercícios fáceis para as pernas e os braços. Fica-se cansado rapidamente. Estou com bom apetite. Já recuperei o peso de 72 quilos. No primeiro dia em terra estava com 70,5 quilos. Os médicos estão contentes. O restabelecimento é normal. Só alterações no sangue. Isso porque o organismo se adaptou à imponderabilidade. Agora se inicia o processo contrário. De manhã, fiz uma brincadeira: pus a máscara de fantasia trazida a bordo da estação por Jean-Loup Chrétien (cosmonauta francês que esteve na Saliut). É uma máscara feia. Depois de colocá-la na cabeça deitei na cama e fiquei imóvel. Alguém foi correndo aos médicos assustado com o que viu. Quando Ivan Skiba, chefe da seção médica, Slava Bogdachevski e o psicólogo entraram no meu quarto, virei o rosto para eles e lancei um grito feroz. Ficaram apavorados. Aconteceu uma cena muda, com minha máscara refletindo-se nas suas fisionomias desfiguradas pelo susto. Quando voltaram a si, desataram a rir. O psicólogo diagnosticou: "Se o paciente está brincando, é sinal de que tudo vai bem".

A vocação de voar

Recentemente, o cosmonauta Valentin Lebedev falou de sua vida a Serguei Ignatiev, em Moscou, com exclusividade para nós. Excertos:

Nasci a 14 de abril de 1942, em Moscou. Russo. Nossa família é "terrestre", isto é, nenhum dos seus membros foi ligado à aviação. Minha mãe era dona-de-casa. Meu pai, oficial das Forças Blindadas. Eu, entretanto, sempre tive grande vontade de voar. Talvez por ter devorado muita literatura sobre pilotos. Em 1959, ao terminar o curso secundário, com 17 anos, ingressei na Escola de Aviação de Oremburgo, às margens do Ural, rio que representa a fronteira natural entre a Europa e a Ásia - por sinal, daquela escola saiu também Iúri Gagárin, o primeiro homem a ir ao espaço. Estudei um ano e em 1960 enfrentei novamente a opção: onde continuar os estudos? Decidi permanecer ligado à aviação. Ainda no mesmo ano, ingressei no Instituto Superior de Aviação em Moscou. Essa escola forma especialistas em veículos espaciais. Contudo, não perdi a esperança de voar. Era no clube de aviação que realizava meus sonhos. De início, aprendi a pilotar um planador. Depois, o aparelho a hélice Iak-18. Finalmente, o jato L-29. Em 1966, terminado o curso no instituto, fui enviado para trabalhar no Centro de Projetos Serguei Koroliov. Naquela época, o centro desenvolvia um projeto de pouso na Lua.
Como queria continuar os estudos, ingressei no curso de pós-graduação por correspondência do instituto. Ao enfrentar os exames médicos para ser admitido no Grupo de Cosmonautas, só fui aprovado depois de sete tentativas. A razão foram os muitos traumatismos resultantes da prática de esportes. Treinei, trabalhei e voei muito, até que finalmente, em 1972, fui admitido no Grupo. Logo em 1973 fiz companhia a Piotr Klimuk na missão Soiuz-13. Passamos oito dias no espaço, estudando estrelas através do telescópio Orion-2. Em 1974, defendi tese de pré-doutoramento sobre aparelhos de treinamento para vôos espaciais. Depois, voltei ao trabalho no centro de projetos, fazendo preparativos para um novo lançamento. Em 1982, fiquei 211 dias em órbita da Terra a bordo da estação Saliut-7, com Anatoli Berezovoi. Em 1985, três anos depois do vôo com Berezovoi defendi tese de doutoramento sobre "Métodos para aumentar a eficácia das pesquisas científicas a bordo de estações espaciais". Ainda estou na ativa como cosmonauta, trabalhando como vice-diretor científico do Instituto de Geografia da Academia de Ciências da URSS.
Liudmila, minha mulher, fez um curso no Instituto Tecnológico para a Indústria Alimentar, de Moscou. Trabalhou uma temporada comigo, realizando uma pesquisa tecnológica sobre alimentação de cosmonautas. Nosso filho Vitali nasceu em 1972. Agora, é estudante do Instituto de Direito de Moscou. Gosta de esportes e não se interessa por aviação, certamente por causa das minhas intermináveis e enfadonhas conversas. É obstinado, mas muito compassivo. Na ausência de uma filha, resta-me a esperança de uma neta. Os meus passatempos são caça, natação e esqui. Durante as férias, prefiro ir com a família a lugares novos, fazer viagens improvisadas. O que é fácil, já que vivemos num país gigantesco, impossível de conhecer durante uma vida.

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Maior Espetáculo - Espaço



O MAIOR ESPETÁCULO - Espaço



Há quarenta e três anos, um bilhão de pessoas viram aquilo que ainda hoje é o feito mais audacioso da corrida espacial - a descida na Lua.

No dia 20 de julho de 1969 , um domingo, dois homens pisaram pela primeira vez na Lua. Um deles, o comandante Neil Armstrong, de 38 anos, um tímido ex-piloto de testes de aviões americanos, escorregou na  escada da pequena nave com a qual pousou na superfície lunar e por pouco não imprimiu ali a mão antes do pé. O outro, Edwin Aldrin, "Buzz", igualmente com 38 anos, veterano piloto de jatos da Força Aérea dos Estados Unidos, sentiu uma vontade humaníssima de fazer xixi. E fez, dentro do traje de astronauta, reforçado com 21 camadas de tecido, numa bolsa de coleta para tais contingências. A 96 mil metros de altura, o ex-piloto de testes Michael Collins, de 38 anos, como os outros, encarregado de pilotar o módulo de comando da Columbia, só conseguiria sentir-se verdadeiramente aliviado no dia seguinte, quando seus dois companheiros se uniram a ele para a viagem de volta a Terra.
Passados vinte anos do evento literalmente mais espetacular da história humana documentada, que esgotou os estoques da melhor retórica da espécie, a conquista do Cosmo parece menos próxima, em parte porque o programa espacial americano perdeu a direção, enquanto o soviético segue uma rota lenta, gradual, segura - e sem muito charme. Além disso, a ida a Lua ocorreu num período efervescente, marcado por mudanças de toda a sorte, em que a confiança nas possibilidades de resultados imediatos da ação humana era seguramente maior, assim como o encantamento com a tecnologia. A Lua, em suma, chegou antes da crise do petróleo, antes dos microcomputadores e antes que as preocupações com a saúde do planeta virassem moda.
Quando Collins, Aldrin e Armstrong partiram a bordo da nave Apolo 11 na luminosa manhã de 16 de julho, 1 milhão de pessoas munidas de câmeras e binóculos se apinhavam nas vizinhanças de Cabo Canaveral, depois chamado Cabo Kennedy, na Flórida, onde até hoje ocorre a grande maioria dos lançamentos espaciais americanos. Nada menos de 850 jornalistas de 55 países, falando 33 línguas diferentes, registraram o acontecimento. Calcula-se que cerca de 1 bilhão de pessoas, algo como um em cada quatro seres humanos, viram pela TV quando, às 23h56min20s (horário de Brasília) do dia 20, o comandante Armstrong, já recuperado do escorregão, cuidadosamente ergueu o pé esquerdo e marcou o solo do Mar da Tranqüilidade - a planície escolhida para a alunissagem.
"Este é um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade", disse o emocionado Armstrong, numa frase que inevitavelmente ecoou pelo mundo. Quem estava de olho na tela naquele momento não deve ter esquecido a sua figura fantasmagórica movendo-se desajeitadamente devido à ínfima gravidade (um sexto da que existe na Terra) a 384 mil quilômetros de distância. O astronauta contou à base de controle e a todos que o ouviam que o chão da Lua era fino e poeirento. "Adere à sola e aos lados das minhas botas, formando uma  camada fina como poeira de carvão", descreveu. Vinte minutos depois, Aldrin uniu-se a ele. Com as duas mãos agarradas à escada, experimentou o solo da Lua e sua gravidade com dois pulos de pés juntos. "Lindo, lindo", exclamou, surpreendido com a facilidade de movimentação. 
Os dois astronautas passaram 2 horas e 10 minutos no Mar da Tranqüilidade. Numa das pernas do módulo, chamado Eagle (águia, em inglês), havia uma placa comemorativa. Neil Armstrong leu então em voz alta:"Aqui, homens do planeta Terra pisaram na Lua pela primeira vez. Nós viemos em paz, em nome de toda a humanidade". O texto levava a assinatura dos três tripulantes e a do então presidente americano Richard Nixon. A dupla ainda fixou a bandeira dos Estados Unidos e ouviu pelo rádio as congratulações de Nixon, que falava da Casa Branca.
A liturgia prosseguiu com Armstrong afirmando que eles representavam não apenas os Estados Unidos mas os homens de todas as nações, que têm interesse, curiosidade e visão do futuro". Em seguida, ele e Aldrin começaram o trabalho de colher os 27 quilos de pedras e pó da Lua que nos anos seguintes fariam a alegria de muitos cientistas. Depois, instalaram um sismógrafo, um refletor de raios laser, uma antena de comunicação, um painel para o estudo dos ventos solares e uma câmera de TV. Terminadas as tarefas, os astronautas voltaram à Eagle e tentaram em vão dormir, apertados e sem conforto, atulhados nos 4,5 metros quadrados do interior do módulo lunar.
Começaram enfim os preparativos para o regresso. A metade inferior da Eagle ficou na Lua. A parte de cima do pequeno módulo elevou-se da superfície até encontrar o seu parceiro em órbita. Os dois veículos alinharam-se para o acoplamento. Enquanto Aldrin e Armstrong se reuniam a Collins na Columbia, o resto da Eagle foi deixado rodando em volta da Lua, cada vez com menos impulso, até se espatifar de encontro ao solo. A 24 de julho, oito dias, três horas e 18 minutos depois de lançada de Cabo Canaveral, a Apolo mergulhou nas lonjuras do Pacífico sul, na altura da Polinésia. Uma das mais antigas fantasias do homem - ir à Lua e voltar são e salvo - finalmente tinha se tornado realidade.
Aquele "pequeno passo" havia começado a rigor muitos anos antes, em 1945, quando a Segunda Guerra Mundial terminava com a derrocada da Alemanha nazista e dos seus parceiros japoneses. Os vencedores, os Estados Unidos e a União Soviética, lançaram-se à disputa de um dos mais valiosos espólios da guerra - os cientistas alemães envolvidos na fabricação das bombas V-2, as precursoras dos foguetes. Embora os americanos tivessem capturado o maior número e os melhores entre eles, como o notório Wernher von Braun, e os pusessem a trabalhar no desenvolvimento de mísseis teleguiados, foram os soviéticos que saíram na frente na corrida espacial. A 4 de outubro de 1957 surpreenderam o mundo e humilharam os Estados Unidos ao lançar o Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra.
A 12 de abril de 1961, o cosmonauta, como dizem os russos, Iúri Gagárin (1934-1968) completou o primeiro vôo orbital tripulado. Único ser humano até então a ver o planeta do espaço, Gagárin informou: "A Terra é azul". Menos poeticamente, o líder soviético Nikita Kruschev (1894-1971) lançou o desafio: "Que os países capitalistas tentem alcançar-nos". Os americanos aceitaram. No mesmo ano de 1961, o presidente John Kennedy (1917-1963) pediu a seus assessores um plano ambicioso o suficiente para segundo se dizia na época, "ganhar as manchetes dos jornais e por meio delas conquistar o coração de todos os povos do mundo": levar um homem à Lua e trazê-lo de volta.
Os americanos mergulharam no projeto com a mesma gana que tiveram vinte anos antes ao entrar na guerra em seguida ao ataque japonês à base de Pearl Harbor. As melhores cabeças foram recrutadas pela agência espacial NASA para elaborar três missões - Mercury, Gemini e Apolo - com tipos diferentes de naves e foguetes, que sucessivamente levariam astronautas cada vez mais longe até alcançar a Lua. Enquanto isso, os soviéticos desenvolviam as Vostok, Voskhod e Soyuz; estas últimas aperfeiçoadas até se tornarem hoje os veículos transportadores de cosmonautas para a estação espacial Mir, há três anos no espaço.
Foi também em 1961 que os americanos começaram a selecionar os astronautas para o programa espacial. A escolha, descrita no romance The right stuff, de Tom Wolfe (não editado no Brasil), depois transformado no filme Os eleitos, de 1983, era feita entre os pilotos de testes da Marinha, Força Aérea e Fuzileiros Navais. Homens como Armstrong, Aldrin e Collins tinham de ser bons aviadores, ter nível universitário e boa estrutura psicológica para enfrentar situações difíceis e imprevistas. Comentou-se na época que os três escolhidos para a viagem histórica à Lua eram os mais sérios e menos comunicativos astronautas do programa espacial - características da personalidade que não mudaram até hoje. Armstrong e Aldrin foram pilotos na guerra da Coréia e já haviam participado do projeto Gemini.
Collins, outro veterano da Gemini, deveria ter voado na Apolo 8 que realizou as primeiras órbitas tripuladas em volta da Lua, em dezembro de 1968; mas uma cirurgia de última hora fez com que fosse substituído e acabasse entrando para a tripulação da Apolo 11. Em 1967, teoricamente, soviéticos e americanos já possuíam os fantásticos foguetes e naves que poderiam fazer a viagem à Lua de ida e volta.
Mas durante um ensaio de lançamento da Apolo 1, a 27 de janeiro daquele ano, uma explosão matou os tripulantes Virgil Grissom, Edward White e Roger Chaffee. Três meses depois, nova tragédia ocorreu do lado soviético. A destruição do pára-quedas de freagem da Soyuz 1 matou o cosmonauta Vladimir Komarov. As naves foram redesenhadas para atender a maior preocupação com a segurança.
Nos Estados Unidos, os veículos seguintes da série Apolo, até o de número 6, não foram tripulados. Mas, no início de 1969, quase ao mesmo tempo, soviéticos e americanos estavam prontos para reiniciar a corrida espacial. Antes que se pudesse enviar homens à Lua, já havia sido preciso despachar várias naves não-tripuladas para descobrir se a alunissagem seria mesmo praticável. Era necessário, por exemplo, avaliar o comportamento dos mecanismos de freagem e pouso nas condições de baixa gravidade e nenhuma atmosfera do satélite.
Sabia-se que as manchas escuras da superfície lunar, que receberam o nome de mares, eram na realidade planícies cheias de crateras, mas não se tinha certeza de que poderiam suportar o peso de uma nave. Essa possibilidade foi confirmada com as primeiras fotos enviadas pelas sondas Ranger a partir de 1964. Por sua vez, a nave soviética Luna 9 conseguiu realizar o primeiro pouso suave na Lua, antecipando-se em alguns meses às americanas Surveyor. Nos anos seguintes, naves dos dois países mostraram imagens de TV da Lua, provando que além de pó havia matéria firme na superfície.
Estava enfim preparado o caminho para a Apolo 11, uma pequena nave de 45 toneladas, composta de um módulo de comando, serviço e lunar. Ela foi lançada no bico do maior foguete já construído, o Saturno 5, de três estágios e 110 metros de altura, mais alto do que um edifício de 35 andares. No momento da partida, o Saturno pesava mais de 3 mil toneladas, algo como vinte jumbos juntos, a maior parte constituída de combustível destinado a acelerar a carga à velocidade de 40 mil quilômetros por hora. O primeiro estágio do foguete queimava oxigênio líquido misturado com querosene, produzindo uma fogueira colossal que emocionou a multidão aglomerada para acompanhar a partida da nave (pela TV, os Estados Unidos viram tudo em cores; os outros países, ainda em preto-e-branco).
Foi um espetáculo impressionante, para dizer o mínimo. Quando o foguete começou a subir, suas 3.500 toneladas de empuxo provocaram um ruído tão insuportável que chegou a matar os pássaros que voavam nas proximidades. O megaprojeto havia custado 22 bilhões de dólares, quase dez vezes mais do que o lançamento do ônibus espacial Discovery em outubro do ano passado - isso sem contar a inflação acumulada no período. O módulo de comando, ou Columbia, um compartimento pequeno, de uns 6 metros quadrados, era o centro de controle da nave. Os três tripulantes dispunham de poltronas individuais, uma ao lado da outra, razão pela qual precisavam tomar cuidado para não atrapalhar uns aos outros. A sua frente e nas laterais ficavam os painéis de instrumentos.
Por baixo das poltronas estavam as "camas" onde os astronautas dormiam protegidos para não flutuar na nave sem gravidade. Havia também uma série de armários com comida desidratada, roupas e equipamentos auxiliares. À direita dos armários ficava o "banheiro", ou, mais precisamente, o canto onde os astronautas se aliviavam usando pequenas bolsas de plástico. As paredes da nave eram providas de quadrados de velcro, um produto que ficaria muito conhecido como fecho de bolsas e tênis, que servia para que os equipamentos manuais não flutuassem. Atrás do Columbia, vinha o módulo de serviço com o sistema de propulsão e retrofoguetes e finalmente o módulo lunar Eagle.
O alvo da Apolo 11, a rigor, não seria a Lua, mas um ponto no espaço onde ela estaria quatro dias após o lançamento, prevendo-se o seu movimento em torno da Terra. De acordo com a operação, denominada TLI -Injeção Translunar -, quem pilotava efetivamente a nave eram as leis da Física enunciadas no século XVII pelo físico inglês Isaac Newton. Como ele descobriu, Terra, Sol e Lua atraem os corpos como se fossem ímãs. Por isso, os foguetes da Apolo foram acionados durante 3 segundos. Nesta mínima fração de tempo, os astronautas, tendo a nave sob controle, voltaram-na para a direção calculada, de modo a fazê-la escapar do campo gravitacional da Terra e ser atraído pela gravidade lunar.
Durante o trajeto, os astronautas usaram uma técnica para impedir que metade da nave - a que estava voltada para o Sol - literalmente torrasse e a outra se congelasse. Com uma leve ignição dos foguetes auxiliares, eles faziam-na girar lentamente em seu próprio eixo, como um frango assado no espeto. Com o auxílio do computador de bordo, a Apolo executava um movimento de rotação de 3 décimos de grau por segundo, o que significava uma volta completa a cada 20 minutos, para que o calor e o frio se distribuíssem de maneira uniforme por toda a sua superfície. 
Somente após o regresso à Terra  os técnicos da NASA descobriram que Armstrong e Aldrin por pouco não espatifaram a Eagle de encontro à Lua. De fato, depois de soltarem o módulo da nave-mãe, os astronautas foram descendo gradualmente até onde acreditavam estar o local de pouso - o Mar da Tranqüilidade, escolhido por ser plano e próximo ao equador, o que facilitaria a volta. Mas, quando Armstrong esquadrinhou pela escotilha o terreno já bem próximo, não sabia onde estava. Utilizando o controle manual, dirigiu a Eagle para onde imaginava ficar a cratera que seria seu ponto de referência, enquanto Aldrin controlava o combustível. Faltavam não mais de 30 segundos para que este acabasse quando Armstrong pousou - 1 quilômetro além do ponto marcado.
Enquanto Armstrong, Aldrin e Collins, já de volta, eram recolhidos do mar pelo porta-aviões Hornet, uma nave soviética, a Luna 15, se perdia em algum ponto entre o planeta e o satélite. Lançada dois dias antes da Apolo, sem tripulantes, tinha como objetivo recolher amostras do solo lunar e voltar à Terra. Até hoje não se sabe o que aconteceu com a Luna - não faltando quem suponha que ela tenha sido desviada de sua trajetória por sinais de rádio americanos. O mundo, de qualquer maneira, estava mais preocupado com os três participantes da primeira grande odisséia extraterrestre. Malcheirosos, depois de oito dias sem tomar banho, durante os quais foram obrigados a usar uma precária privada, tiveram de vestir um traje à prova de contaminação antes de deixar a cápsula espacial. Para se ter certeza de que não tinham trazido nenhum microorganismo lunar eventualmente daninho aos terráqueos, ficaram de quarentena em companhia de algumas cobaias. Se algo acontecesse a elas, seria a prova de que estavam contaminados.
Como se sabe, nada aconteceu. Depois de desfilarem em carro aberto com as famílias nas principais cidades americanas, sob a infalível chuva de papel picado, os astronautas fizeram-uma série de viagens promocionais pelo mundo - Armstrong e Collins estiveram, por exemplo, em outubro de 1969 no Brasil. No mês seguinte, outros três americanos - Charles Conrad, Alan Bean e Richard Gordon - tornaram à Lua a bordo da Apolo 12. Como da primeira vez, a expedição foi, viu e voltou sem problemas. Os Estados Unidos continuaram com o programa lunar até 1972. Ao todo enviaram dezoito homens em seis Apolos. Desses, doze puseram os pés no satélite. Depois começou a era dos ônibus espaciais, capazes de orbitar a Terra e voltar inúmeras vezes. A União Soviética, de seu lado, optou por não mandar cosmonautas à Lua. Mas suas naves ali estiveram até 1976, enquanto se desenvolvia o projeto das estações espaciais Salyut e, depois, Mir.
Passados vinte anos, nunca mais houve um acontecimento na história da conquista espacial de impacto comparável àquele - à exceção da tragédia da Challenger em janeiro de 1986. A ida à Lua, vista na perspectiva do tempo, representa acima de tudo o triunfo da vontade humana. Bem pensadas as coisas, é até possível que, pelos padrões atuais de segurança nos vôos ao espaço, a aventura da Apolo 11 não teria sido autorizada. E, por maior que tenha sido, por exemplo, o aporte tecnológico para as viagens espaciais trazido pela estratégia de encarapitar uma pequena nave num potentíssimo foguete de múltiplos estágios, ou por mais importantes que tenham sido para a ciência as pedras lunares coletadas pelos astronautas, é certo que nada supera até hoje a força simbólica daquele primeiro passo a 20 de julho de 1969.

Depois da Lua

Neil Armstrong, o homem que pisou na Lua pela primeira vez, hoje prefere manter os pés bem firmes em terra, de preferência na sua fazenda em Ohio, no nordeste dos Estados Unidos, onde vive com a mulher e dois filhos. De temperamento introspectivo, o ex-astronauta, às vésperas de completar 59 anos, detesta falar de sua experiência espacial. Já em 1970 ele deixou a NASA para se tornar professor de Engenharia Aeronáutica e Mecânica Aplicada na Universidade de Ohio. Nos dez anos seguintes, só tornou a ser visto uma vez por milhões de pessoas - num comercial da Chrysler. Depois disso, como presidente de uma empresa especializada em programas de computador para aviões executivos, voltou a fazer uma viagem histórica em janeiro de 1988 - como um dos convidados do vôo do Jumbo que deu a volta ao mundo no tempo recorde de 36 horas, 54 minutos e 15 segundos. "Meu passeio lunar foi uma experiência de pedestre", comparou, brincando.
Em 1986, nomeado vice-presidente da comissão do Congresso que investigou as causas do desastre do ônibus espacial Challenger, afirmou que, "como sociedade, temos parte da responsabilidade pelo acidente, devido à enorme pressão que fazemos sobre a NASA". Mas defendeu a continuidade dos vôos com a construção de uma base permanente no espaço. Edwin Aldrin, o companheiro de Armstrong, não foi exatamente feliz nos últimos vinte anos. Divorciado duas vezes, sofreu de depressão e alcoolismo depois de deixar a carreira de astronauta em 1971. Ele atribui parte de seus problemas à viagem lunar. Lembra, por exemplo, que ao voltar à Terra esperava ser recebido como herói pela família. Mas ao reencontrar o pai ouviu a desconcertante pergunta: "Por que você não foi o primeiro?"
Depois de tanto tempo, com 59 anos e mais tranqüilo, casado pela terceira vez, Aldrin dirige uma empresa de consultoria espacial e se revela defensor de uma missão a Marte. "Todos os astronautas que estiveram na Lua deveriam lutar para que esse seja o próximo objetivo espacial americano; diz. Dos três tripulantes da Apolo 11, Michael Collins foi o único que não andou na Lua, mas a ele cabe cuidar de certo modo da memória da viagem. Avesso a falar da proeza - "o melhor da comemoração é não dar entrevistas", comentou certa vez -, como diretor da Instituição Smithsonian ajudou a instalar em Washington o célebre Museu de Aeronáutica e Espaço, onde existe um réplica do módulo lunar.
Quatro meses após o primeiro pouso do homem na Lua, três astronautas bem mais extrovertidos que os primeiros repetiram a experiência. Charles Conrad; Alan Bean e Richard Gordon, da Apolo 12, hoje ainda se sentem muito orgulhosos da viagem. Conrad, de 58 anos, um dos vice-presidentes da macroempresa de aviação McDonnell Douglas, gosta de dizer que pediria demissão do cargo se lhe fosse oferecida outra oportunidade de voltar ao espaço. Alan Bean, que desceu à Lua junto com Conrad, tem uma frase pronta para o acontecimento: "Tive o privilégio de realizar um sonho". Bean, hoje com 57 anos, tornou-se pintor desde que deixou a NASA em 1981. Seu tema preferido é o espaço, naturalmente.
Richard Gordon, o piloto do módulo da Apolo 12, é dono de uma empresa de equipamentos de computação na Califórnia. Aos 59 anos, não se furta a refletir sobre as repercussões íntimas da aventura. "Depois de uma viagem como aquela, todos os valores pessoais são questionados", ele disse a SI. Gordon associa a missão à Lua a um episódio doloroso de sua vida: "De toda aquela excitação guardei dentro de mim uma imagem, o nosso planeta Terra, tão bonito e frágil. Quando meu filho Jimmy, com 22 anos, morreu num acidente de automóvel em 1982, compreendi o que sentira ao contemplar a solidão do nosso planeta. Fora dele é como se estivéssemos mortos".

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Olhar Eletrônico - Exploração Espacial.

OLHAR ELETRÔNICO - Exploração Espacial.



Em poucos anos, aprendeu-se mais sobre o Universo do que em toda a história da humanidade. Satélites e radio observatórios ampliam sem parar os limites do espaço conhecido.

O mais importante instrumento astronômico, desde que há quatro séculos Galileu começou a espiar o céu com uma luneta, está guardado numa sala esterilizada da empresa norte-americana Lockheed Missile and Space, na Califórnia. Trata-se do telescópio espacial Hubble, cujo lançamento está previsto para 1989. Através dele, é possível ler um jornal a uma distancia de 350 quilômetros ou localizar um vaga-lume a 15 mil quilômetros, ou ainda perceber da Terra o espoucar de um flash de máquina fotográfica na Lua. A 550 quilômetros de altura, sem se embaçar com a atmosfera da Terra, o Hubble poderá enxergar o espaço com uma nitidez sete vezes maior que qualquer outro equipamento já construído pelo homem.
Isso quer dizer que pela primeira vez será possível divisar planetas de outras estrelas além do Sol-se é que eles existem-, na Via Láctea e em outras galáxias vizinhas, dando um colossal impulso às pesquisas sobre a vida no cosmos. O Hubble também vai ajudar a decifrar o mistério da origem das galáxias e dos quasares -esses corpos celestes que piscam como faróis a bilhões de anos-luz de distância da Terra. Além disso, com ele se poderá começar a preencher os incomensuráveis claros no mapeamento do Universo, ao se observar astros 350 vezes mais obscuros do que os conhecidos hoje.
O Hubble, assim chamado em homenagem ao astrônomo norte-americano Edwin Hubble (1889-1953), deveria ter sido colocado em órbita pelo ônibus espacial Atlantis, da NASA, em setembro de 1986. Acontece que, com a explosão do Challenger, companheiro do Atlantis, logo após o seu lançamento de Cabo Canaveral, em janeiro do mesmo ano, o programa espacial dos Estados Unidos sofreu um retrocesso do qual ainda não se recuperou. Por isso, o Hubble, apesar de pronto para ser lançado, tem de ficar em terra, mais precisamente numa sala onde o menor grão de poeira pode prejudicar o seu impecável espelho de 2,5 m de diâmetro.

Enquanto o Hubble não sobe, os astrônomos, precisam contentar-se com o que têm ao alcance dos olhos - uma enormidade em relação ao passado mesmo recente mas muito pouco perto do que há para ver. Ou, como compara o astrofísico da Universidade de São Paulo, Augusto Daminelli: "Estamos na situação de quem garimpa à beira do rio quando sabe onde encontrar um filão de ouro maciço". Para o trabalho de Daminelli - um projeto sobre as chamadas estrelas azuis, de um bilhão de anos-o Hubble seria evidentemente muito útil.
Quando for lançado-dentro dos próximos dois anos, segundo as mais recentes previsões-, o Hubble será a jóia da coroa da Astronomia deste século. Pois nunca na história da humanidade aprendeu-se tanto sobre o Universo como nos últimos vinte anos. Para dar apenas uma idéia do que isso significa, o astrônomo Eugênio Scalise, que pesquisa moléculas interestelares no Rádio Observatório de Itapetinga, em São Paulo, lembra que as informações acumuladas pelo IRAS (sigla em inglês para Satélite Astronômico Infravermelho), que funcionou só de janeiro a novembro de 1983, ainda não foram totalmente interpretadas. "Estamos chegando a um ponto em que o avanço tecnológico está ficando maior que o número de cientistas aptos a usufruir dele", afirma.
Esses avanços ampliaram o campo de observação dos astrônomos para além daquilo que a vista alcança-ou seja, da luz visível até outras faixas de energia eletromagnética difundidas pelos astros no espaço. Essa difusão ocorre em ondas que medem desde quilômetros, como é o caso das ondas longas de rádio-passando pelas microondas, raios infravermelhos, ultravioletas, raios X-até os bilionésimos de milímetros dos raios gama.
Atualmente já existem. na Terra ou no espaço, telescópios capazes de captar todas essas freqüências. Isso permite saber, por exemplo, como uma estrela nasce, quando começa a brilhar de forma mais intensa, quando se separa de suas nuvens de gás e, enfim, quando explode, transformando-se numa supernova. A visão mais abrangente dos céus foi conquistada aos poucos.
As primeiras estrelas da tecnologia aplicada à Astronomia foram os telescópios óticos. Hoje, quase 380 anos depois que Galileu descobriu os quatro maiores satélites de Júpiter, as manchas solares e os montes e vales da Lua, graças ao telescópio que construiu, o desenvolvimento desse tipo de aparelho parece ter chegado ao auge.
Vem aí o telescópio com espelho de 15,2 m de diâmetro, que será construído no extinto vulcão Mauna Kea, no Havaí, até o final do século. Por enquanto, o maior telescópio é o soviético, com um espelho de 5,9 m, construído em Zelenchukskaya, no Cáucaso. O segundo maior é o de 5 m do monte Palomar, na Califórnia.
Com qualquer deles é possível detectar até a luz de uma vela a 25 mil quilômetros de distância. Além do tamanho dos espelhos, os astrônomos apostam na eletrônica e na informática para obter o máximo de seus telescópios.

Graças ao avanço nessas duas áreas é possível obter mais depressa imagens mais precisas dos astros. Foi por exemplo com um detector de luz chamado Reticon que Luiz Alberto Nicolacci, do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, fez um levantamento de grandes estruturas cósmicas no telescópio de 1,60 m do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Brasópolis, Minas Gerais. O trabalho demorou quatro anos. Se tivesse sido feito com as antigas placas fotográficas do telescópio do monte Palomar demoraria cerca de cinqüenta anos.
Enquanto evoluíram os telescópios óticos, nasceu a radioastronomia. A descoberta de que os astros emitem ondas de rádio deu-se por acaso. Em 1937, Karl Guthe Jansky, um jovem engenheiro de Nova Jersey, nos Estados Unidos, ficou intrigado com as interferências que atrapalhavam as ligações da companhia telefônica. Ao medir a direção, intensidade e comprimento de onda das interferências, concluiu que as emissões vinham da constelação de Sagitário, no centro da Via Láctea, a 30 mil anos-luz de distancia da Terra. Mas só depois da Segunda Guerra Mundial os cientistas começaram a perceber as oportunidades proporcionadas pelas ondas para o estudo do espaço.
Os primeiros radiotelescópios eram aparelhos de rádio que captavam as ondas eletromagnéticas e reproduziam os respectivos sinais num alto-falante. Dessa forma, era possível ouvir a galáxia, embora essas ondas não sejam sonoras. Hoje em dia, elas são reproduzidas eletronicamente e armazenadas no computador, o que permite obter uma representação gráfica ou numérica dos sinais (veja no poster desta edição o mapa da Via Láctea traçado a partir das emissões de rádio dos astros).
Na radioastronomia, como na astronomia ótica, o importante é ter o maior fluxo possível de energia, como é o caso do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, cujo prato tem um diâmetro de 304 m. Desde os anos 60, aparelhos em diferentes países vêm sendo ligados entre si, sincronizando suas medições mediante um processo chamado VLBI (Interferometria de Longa Linha de Base). A imagem final obtida pelo computador corresponde ao alcance do prato de um radiotelescópio de milhares de quilômetros de diâmetro.

A radioastronomia revelou a existência dos pulsares ou estrelas de neutrons, ao captar os lampejos de sua radiação. Mas sua maior contribuição ao conhecimento do cosmos ocorreu em 1965, quando os físicos norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson detectaram uma emissão de rádio uniforme no Universo-o que lhes valeu o prêmio Nobel de Física em 1978. Esse sinal, cuja existência já tinha sido prevista teoricamente desde
meados dos anos 40, é interpretado como uma espécie de eco do Big Bang-a explosão que teria dado origem ao Universo há aproximadamente 18 bilhões de anos.
A astronomia do invisível ganhou o maior impulso com a era espacial. Graças a satélites portadores de telescópios no comprimento de ondas de infravermelho, por exemplo, foi possível registrar a partir da década de 70 locais de formação de estrelas. Por mais potentes que fossem, os telescópios convencionais não conseguiriam passar essa informação, pelo fato de que a luz das estrelas em formação fica oculta por densas nuvens de poeira. Já sua energia escapa em forma de radiação infravermelha. O telescópio IRAS, lançado em 1983, identificou 180 mil fontes de radiação na Via Láctea e em outras galáxias.
No ultravioleta, a detecção é mais difícil, porque as emissões acabam totalmente absorvidas pela atmosfera terrestre. No entanto, elas foram captadas pelos satélites Copernicus, lançado pelos Estados Unidos em 1972, e IUE (International Ultraviolet Explorer), uma operação conjunta da NASA, da agência espacial européia ESA e da Inglaterra. Lançado há dez anos, o IUE continua na ativa para fornecer dados sobre as relações entre temperatura e composição química dos astros. Na faixa dos raios X, o satélite Einstein, também norte-americano, lançado em 1978, descobriu emissões procedentes dos quasares, a 18 bilhões de anos-luz.
Os quasares contêm em seu centro os falados buracos negros - corpos celestes cuja força gravitacional é tão poderosa que não só não deixa escapar deles nenhuma luz como ainda atrai toda a matéria que houver nas proximidades. Os gases que fluem em direção ao buraco negro emitem raios X e gama antes de desaparecerem em seu interior. O satélite COS-B foi lançado em 1974 só para a detecção de raios gama e ainda está em operação.
Outro tipo de observação é feita com os detectores de neutrinos- partículas subatômicas sem carga e praticamente sem massa. Com esses detectores, pode-se observar diretamente o coração de energia do Sol, porque, para os neutrinos, a atmosfera solar é transparente - enquanto nenhum tipo de onda eletromagnética vai além da superfície dos astros.
Os cientistas esperam aproveitar o grande salto dos últimos vinte anos para multiplicar novamente a massa de informações disponíveis sobre o Universo. O passo seguinte ao lançamento do Hubble é a colocação em órbita, na próxima década, de doze satélites para observação específica em diversas freqüências. Já para o começo do século XXI, o projeto dos sonhos dos astrônomos é a instalação de uma antena na Lua. Explica o astrônomo João Steiner, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE): "Será uma oportunidade de fazer mapas detalhados das fontes de rádio no espaço sem a interferência da atmosfera da Terra". Pelo visto, a Astronomia se prepara para ir ainda mais longe do que já foi - literalmente.

De Itapetinga para o mundo

Para descobrir os períodos em que os quasares-pontos luminosos situados nos confins do Universo - emitem radiação em determinadas freqüências, oito rádio observatórios de quatro países, entre os quais o Brasil, ajustaram suas antenas coletoras e, durante as noites de 21 a 27 de setembro último, mediram a intensidade da radiação. Os dados foram gravados em fita magnética e enviados ao Instituto Max Planck, na Alemanha, onde serão confrontados e interpretados.
Foi uma experiência de rotina para o único rádio observatório brasileiro, instalado num sítio de três alqueires pertencente ao INPE, em Itapetinga, perto de Atibaia, São Paulo. Afinal, há seis anos que a solitária antena parabólica de 13,7 metros participa de medições conjuntas de radioastronomia, representando a América do Sul. O Rádio Observatório de Itapetinga coleciona entre seus feitos a honra de ter sido o primeiro do mundo a detectar a radiação sincrotrônica (um tipo de onda de rádio) da supernova de Shelton, a 1987-A, descoberta em fevereiro passado.
Para fazer observações em Itapetinga, a comunidade astronômica do país, composta de quase 170 cientistas, apresenta seus projetos a uma comissão de programas e esta distribui as noites entre os interessados. Sendo esse rádio observatório um dos poucos do mundo em condições de operar em alta freqüência no estudo do Sol, foi ali que se descobriu um novo tipo de explosão solar em freqüências superiores a 90 megahertz. No rádio observatório também é feita a detecção de moléculas de gases como o hidrogênio, na faixa de microondas, com o auxilio de espectrômetros, instrumentos que permitem estudar comprimentos de onda com maior precisão. Em junho último, Itapetinga captou uma fonte radioativa de vapor de água, o que indica uma formação de estrelas a cerca de cinco mil anos-luz da Terra, na constelação de Escudo.
Embora os astrônomos brasileiros procurem manter um padrão de atividade de nível internacional, não há muitos outros lugares, além de Itapetinga, onde eles possam fazer suas pesquisas. O maior e mais bem equipado observatório ótico do Brasil, o Laboratório Nacional de Astrofísica, fica em Brasópolis, sul de Minas, a 1960 metros de altitude. Os astrônomos da USP, INPE e outras instituições dividem, de acordo com a importância de seus projetos, as 150 noites do ano em que o céu pode ser observado naquela região.
Para Augusto Daminelli, da USP, a grande vantagem do observatório são os equipamentos de detecção e análise de imagens. Dos três telescópios ali instalados, o mais potente é um refletor com espelho de 1,6 metro. Foi em Brasópolis que a equipe de Luiz Alberto Nicolacci fez o levantamento da distribuição de galáxias no céu do Hemisfério Sul. Foi ali também que outro astrônomo, João Steiner, do INPE, descobriu um pulsar e uma estrela cataclísmica - de variação muito rápida-na constelação de Sagitário. Além do observatório de Brasópolis, o Brasil possui quatro outros, ligados às universidades do Rio Grande do Sul, Minas, São Paulo e à Prefeitura de Campinas.
Os astrônomos querem mais. Querem, por exemplo, instalar um telescópio brasileiro na localidade chilena de Cerro Morado, na cordilheira dos Andes, onde funcionam oito telescópios norte-americanos. A idéia é dispor de uma alternativa às condições climáticas do Brasil, onde o excesso de nebulosidade prejudica a observação do céu.


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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Existem outros sistemas planetários além do nosso ???

EXISTEM OUTROS SISTEMAS PLANETÁRIOS ALÉM DO NOSSO?



Desde o começo dos tempos, nada foi capaz de atiçar tanto a curiosidade dos homens como os enigmas do espaço sideral e sua relação com esta nossa Terra. Por milhares de anos, o estudo do firmamento manteve-se entrelaçado a tradições religiosas. Só a partir do século XVI os aspectos puramente científicos da Astronomia passaram a distinguir-se das variadas formas de misticismo. Com o desenvolvimento dos meios de observação do espaço foram se estabelecendo os conhecimentos básicos a respeito do sistema solar e da galáxia de que faz parte. A era das viagens espaciais, enfim, começa a revelar a imensa diversidade do nosso sistema planetário. E dá vida a uma velha dúvida: ele é único?
Carl Sagan, renomado astrofísico da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, reuniu num disco as informações mais importantes sobre o homem e o enviou para fora do nosso sistema solar, em diversas sondas do programa espacial norte-americano. Ele tem esperança de que algum deles chegará, um dia, às mãos de alguma espécie de seres inteligentes, em qualquer parte do Universo. Outros cientistas se mostram mais cautelosos. Investigações recentes demonstram que as possibilidades de existência de vida em outros planetas são mais remotas do que sempre se supôs. Sob esse aspecto, a Terra é realmente um caso excepcional, um corpo espacial com condições especiais para a vida.
No dia 18 de outubro de 1967 pela primeira vez uma sonda espacial, enviada pela União Soviética, atingiu a atmosfera de Vênus. Mal chegou, e se interromperam todas as comunicações com a Terra. Dois anos mais tarde duas outras sondas russas voltaram a se aproximar daquele planeta. E tudo se repetiu: as comunicações foram interrompidas. As poucas informações que ainda puderam chegar, no entanto, coincidiam plenamente com as anteriores. E assim ficou estabelecido que a pressão atmosférica, em Vênus, é tão grande que simplesmente destroçou as naves que lá chegaram.
Os russos construíram outra nave, a Vênus VII, super-reforçada, que por fim conseguiu aterrissar (ou seria avenusar?) intata. E confirmou: na superfície de Vênus a temperatura é de 490 graus centígrados e a pressão, de 90 atmosferas, semelhante à que se encontra sob o mar, na Terra, a novecentos metros de profundidade. Impossível qualquer espécie de vida nessas condições adversas.
Se é assim nesse vizinho, pior ainda é nos planetas mais distantes. Mercúrio, o mais próximo do Sol, é um interno de calor; os gigantes Júpiter e Saturno se compõem principalmente de hidrogênio e hélio, tal como Urano e Netuno; de Plutão, finalmente, o mais distante de todos, não se conhece praticamente nada.
Podemos dar como certo, portanto, que não há vida no sistema solar, além da que existe na Terra. Mas haverá, em algum outro ponto do Universo infinito, girando em torno de outra estrela semelhante ao nosso Sol, um conjunto de planetas igual ao nosso? E se houver, não poderá existir dentro dele um onde se reproduzam as condições propícias à vida que se encontram na Terra? Este é um dos muitos problemas ainda não resolvidos em Astronomia: das centenas de bilhões de estrelas espalhadas apenas pela Via Láctea, não se pode esperar que pelo menos em algumas delas aglomerados menores de matéria tenham se condensado para formar planetas?
Já não se discute a existência da vida, mas simplesmente a de planetas como os que conhecemos, ao redor do Sol, onde ela poderia eventualmente surgir, como surgiu na Terra. Se existirem muitos outros sistemas planetários, é claro que maiores serão as possibilidades de que aquelas condições especiais tenham se reproduzido. A compreensão da origem não apenas da vida, mas do próprio Universo, exige o estudo desses possíveis sistemas planetários, ainda em fases distintas no seu processo de formação, alguns recém-criados, girando ao redor de estrelas jovens; outros, ao contrario, já maduros, quem sabe muito mais velhos do que o nosso. Mas como será possível detectá-los no espaço?
Os planetas, sabemos todos, não emitem luz própria. A luz da estrela mais próxima, que os mantém atrelados, acabaria por ofuscar a débil claridade por eles apenas refletida. O contato visual direto, portanto, está excluído de nossas cogitações. Mas há outras formas de chegar até eles. Suas radiações infravermelhas, por exemplo. Mas há ainda melhor. Um grande planeta exerce uma atração gravitacional sobre a estrela em redor da qual realiza suas evoluções.
Visualmente ele pode permanecer invisível, ruas essa sua influência sobre a estrela visível será fácil de perceber. Astrônomos que se dedicaram ao estudo da estrela Van Biesbroeck 8, bem jovem, muito vermelha, distante da Terra cerca de 21 anos-luz, relataram a existência de movimentos e oscilações periódicas em sua trajetória. É possível que elas sejam provocadas pela presença de algum corpo grande e próximo, embora invisível.
Essas descobertas são apenas uma amostra do que está por vir. Podemos acreditar que num futuro bem próximo nossa tecnologia tornará possível a investigação direta pelo menos em torno das estrelas mais próximas. Poderemos então sair a procurar planetas nas proximidades cósmicas da Terra.
Procurar planetas significará procurar vida. Pesquisas recentes demonstram que foi necessária uma quase infindável seqüência de casualidades para que os seres vivos pudessem aparecer na face do nosso planeta - e outra série infindável de casualidades foi necessária para que ela evoluísse, de forma mais ou menos acelerada, até chegar aos estágios que hoje conhecemos. É possível, é mesmo provável que no meio desses bilhões e bilhões de estrelas que brilham no firmamento haja muitas que tenham reproduzido as condições necessárias para a formação de sistemas planetários. Mas terão ali se reproduzido aquelas outras condições necessárias para que se criasse a vida, num primeiro momento, e se desenvolvesse em seguida até chegar à inteligência?
Nas condições atuais do conhecimento científico e da capacidade de investigação de que dispomos, o mais seguro será afirmar que a vida, tal como a conhecemos, só existe na Terra. Mas as probabilidades matemáticas de que não seja assim, de que seres inteligentes e de grande capacidade mental vivam em algum ponto infinitamente longe do Universo, são tentadoras. Entrar em contato com eles, porém, será outra questão. As distâncias que será preciso percorrer, no Cosmos, são incalculáveis. Falar em pontos quaisquer do Universo onde possa haver vida é simples; chegar lá é mais difícil. A simples notícia da existência de uma civilização aqui perto - cosmicamente falando, é claro -, digamos cem mil anos-luz, levaria cem mil anos para chegar até nós. Quando chegasse, é bem possível que estivesse destruída aquela civilização, ou quem sabe a nossa, aqui na Terra.
Deixemos, por isso, a questão da procura da vida para o futuro distante. Mesmo uma resposta segura para o problema da existência de outros sistemas planetários ainda está nos primeiros passos. Estamos apenas no limiar de uma nova era na observação e na pesquisa astronômicas e por enquanto só podemos imaginar, para um futuro talvez próximo, a descoberta de inúmeros sistemas planetários semelhantes ao nosso, alguns distantes apenas poucos anos-luz. Será então natural pensar em visitá-los. Mesmo atualmente, quando nossa tecnologia é ainda incipiente, quatro naves espaciais - Pioneer 10 e 11, Voyager 1 e 2, todas americanas - seguem para além do nosso sistema solar. A Pioneer 10, lançada em 1972, cruzou a órbita de Plutão, o mais distante dos planetas conhecidos do sistema solar, em junho de 1983. Tais espaçonaves, as mais velozes já produzidas pelo homem, são irritantemente lentas na escala das distâncias cósmicas.
Levarão dezenas de milhares de anos para alcançar mesmo as estrelas mais próximas. Quando essa limitação for superada - o que podemos considerar apenas uma questão de tempo, embora longo -, uma nova e inesgotável aventura estará ao alcance da espécie humana, ainda maravilhada, como nos tempos primitivos, com os enigmas do Universo.