sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O futuro bem definido - Televisão


O FUTURO BEM DEFINIDO - Televisão


Com o dobro da resolução dos televisores normais e formato de tela de cinema, a TV de alta definição já aparece nos lares da Europa e do Japão. Nos Estados Unidos, um ousado projeto de TV digital promete revolucionar as ondas.



Um televisor de alta definição tem três características: mais de 1 000 linhas de resolução, som estéreo e um formato de tela que mantenha a proporção 16/9 (para cada 16 centímetros de largura, 9 de altura). Os padrões atuais funcionam com 525 linhas horizontais para formar uma imagem (625 na Europa), som em um só canal e uma proporção de 4/3 para as telas. A alta definição não só duplica o número de linhas como o número de pontos luminosos (ou pixels, abreviação em inglês para picture elements) que compõem a imagem. Traduzindo, sua imagem não só é melhor, como tem oito vezes mais informação. Atualmente, um filme em 35 milímetros projetado em cinema comporta dez vezes mais informação que o mesmo filme projetado na televisão e dezessete vezes mais do que uma cópia feita em videocassete.
"O novo formato não só permite a exibição de filmes na sua totalidade, como também se adapta muito melhor à visão humana". explica o engenheiro Gérard Fromont, especialista em fisiologia óptica do Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris. É óbvio, ainda que pouca gente perceba, que o nosso mundo é horizontal. "Primeiro, porque nossos dois olhos são dispostos lado a lado. Segundo, porque estamos acostumados a tratar dados que chegam das laterais (pessoas, carros, etc.) mais do que de cima ou de baixo." 
Esta diferença de proporções alarga a tela atual sem aumentá-la em altura. Como um espectador deve se situar a uma distância máxima de três vezes a altura da tela para se sentir envolvido pela imagem, a uma distância equivalente preenchesse mais o campo visual olhando para uma tela retangular do que para urna quadrada. "De fato, a tela em 16/9 ocupa 30% deste campo, enquanto a de um aparelho normal limita-se a 10% ". completa Fromont.
Em trinta anos de existência, a televisão em cores revolucionou os hábitos das pessoas em todo o mundo, mas tudo indica que sua era está chegando ao fim - pelo menos para a indústria. Embora a vida útil de um receptor seja de dez anos em média, a renovação dos televisores não compensa a atual queda dos preços. Se a atual tecnologia não é capaz de provocar uma corrida às lojas, então que se invente outra - assim, a indústria declarou guerra pela conquista da atenção e do bolso do telespectador. Na reunião do Comitê Internacional de Consulta para os Radiodifusores, a "ONU das ondas eletromagnéticas" em Dubrovnik, ex-lugoslávia, em 1986. a NHK (Nippon Hoso Kuokai), o canal público de televisão japonês, apresentou a Hi-Vision a primeira televisão de alta definição.
As perspectivas que um projeto como esse abrem são tão grandes quanto o dinheiro envolvido nele - estima-se que esse mercado chegará a 400 bilhões de dólares entre 2000 e 2010, época prevista para que grande parte dos consumidores preencham seus cheques nas lojas de eletrodomésticos e esqueçam seus televisores atuais no fundo do porão. Existem hoje 800 milhões de aparelhos de televisão num mundo de pouco mais de 5 bilhões de habitantes. Mais de 90% dos lares europeus e norte-americanos têm um receptor. No Brasil, cerca de 75% das casas possuem televisor. Os japoneses começaram as pesquisas sobre a alta definição assim que os televisores preto e branco se tornaram obsoletos, há trinta anos. Os fabricantes europeus entraram na disputa há cinco anos, e os centros de pesquisa americanos só recentemente começaram a apresentar resultados no seu trabalho. Chegaram, porém, com força total e prometem subverter até mesmo a ordem estabelecida entre as estações e os espectadores.Não mudam apenas os aparelhos de recepção. Muda todo o processo de produção, difusão e recepção  da imagem. Por exemplo: a norma japonesa para alta definição, chamada Muse, elimina as outras normas de decodificação de cores - NTSC, PAL, SECAM e suas variantes (PAL-M no Brasil). Outra coisa: para que o aparelho de televisão possa decodificar os sinais eletromagnéticos captados pela câmera e transmitidos pelo ar ou por cabo, é preciso que este sinal contenha todas as informações necessárias, ou seja, todas as 1 125 linhas que formam a imagem, no caso da Hi-Vision. "Toda a aparelhagem deve ser substituída", comenta François Agueci, gerente de novos produtos da Sony, que já fabrica receptores de nova geração.
Se o sistema japonês fosse adotado pelo mundo inteiro, os já potentes industriais nipônicos arrebatariam todo o mercado, deixando apenas migalhas a seus concorrentes europeus e americanos. "Tivemos de recusar a alta definição japonesa" afirma Pascal Marbois, chefe do departamento de Comunicações da Thomson, fabricante francesa que possui a Telefunken, RCA e General Electric, e que está em sexto lugar em vendas de produtos para o grande público. "Nos aliamos à holandesa Philips, quarto fabricante mundial, e à finlandesa Nokia, para criar a televisão de alta definição européia."Atualmente, o canal NHK do Japão já emite oito horas por dia de programas em Muse - todas as lutas de sumô, por exemplo - via satélite enquanto o consórcio europeu vende, desde fevereiro de 1991, seu primeiro televisor em D2Mac. o nome dado ao primeiro estágio do sistema europeu de alta definição. O Space System da Thomson custa a bagatela de 9 000 dólares e só foi vendido a cerca de 5 000 abastados compradores desde então. Seu homólogo japonês não ultrapassou a faixa dos 10 000. Assim como os aparelhos preto e branco podiam receber programas emitidos em cores. o D2-Mac também pode receber sinais em SECAM e PAL. No caso do sistema Muse, se todos os canais resolvessem produzir e transmitir em novos sinais, o parque de televisores deveria ser jogado no lixo. O D2-Mac é apenas a fase intermediária entre o sistema atual e a alta definição de verdade. Ele produz uma imagem "melhorada", como explicam os técnicos dos laboratórios franceses encarregados de testá-lo.
Num televisor atual, os sinais de luz e cor - luminância e crominância, no jargão audiovisual - chegam embaralhados, o que diminui a qualidade da imagem. E por este motivo que um paletó em xadrez miúdo, por exemplo, se transforma numa mancha em que não se distinguem os traços nem as cores. Os sinais de luz e cor transmitidos e captados em D2-Mac são separados, embora ainda em 625 linhas. Um aparelho Space System recebe som estéreo digital e, acoplado a um decodificador, poderá receber as 1250 linhas do HD-Mac, a versão final da alta definição européia, prevista para daqui a três anos. Quem já possui um Space System vê filmes no formato de cinema, em boa qualidade, e ouve som digital. Contanto que as emissoras enviem programas desta forma."É a história do ovo e da galinha", admite Thierry Farjaudon, chefe de projeto da Télédifusion France, o organismo encarregado de assegurar o transporte dos sinais entre a emissora e os receptores. "Se não existem programas, ninguém compra. Se ninguém compra, não se produzem programas." Enquanto os europeus discutem, os americanos tiraram da cartola uma televisão de alta definição grandiosa como uma parada na Disneyworld: o sistema totalmente digital.Segundo a Federal Communications Commision (FCC), instância suprema que controla as concessões de freqüências para emissões de rádio e televisão nos Estados Unidos, não é apenas a qualidade de imagem que precisa mudar para atrair mais e novos espectadores, e sim a televisão como um todo. No projeto americano, a cor e a luz da teve se transformam numa sucessão de 0 e 1, como na informática, o que promete subverter a relação entre espectador e emissor. As possibilidades de um processo digital são ilimitadas, pois a imagem pode ser alterada mesmo depois de gravada. Se o diretor de uma novela prefere que uma determinada cena se passe de dia e não à noite, como foi gravada, basta trocar o fundo e a iluminação por meio de um programa de computador. Também será autorizado pela tecnologia a escolher seus próprios atores para interpretar Casablanca, com o cenário original. Tudo isto com a mesma qualidade de definição conseguida pelos concorrentes internacionais. O espectador que hoje apenas liga, desliga e troca de canal será convidado a participar do processo.Num jogo de futebol, por exemplo, existem sempre diversas câmeras que captam imagens para um mesmo canal. Uma concentra-se na bola, outra num plano geral do jogo, outra ainda grava a torcida nas arquibancadas. O diretor escolhe a melhor em cada plano e monta em tempo real uma seqüência de imagens. Na televisão americana do futuro, o espectador poderá escolher as câmeras no lugar do diretor, congelar a imagem ou passá-la em câmera lenta. Quer rever o gol, assistir à comemoração dos jogadores ou olhar a vibração das arquibancadas? Você decide.
"Ninguém duvida que a televisão digital é a melhor solução", confessam em coro os representantes da Thomson européia e da Sony. "Mas quando é que ela estará disponível?" 
De acordo com os especialistas que há pouco mais de um ano testam cinco candidatos à norma a ser adotada nos Estados Unidos e Canadá, até 1998 as centenas de milhões de espectadores americanos já poderão comprar aparelhos digitais a 3000 dólares. Se todas as possibilidades que o sistema oferece ainda não estiverem disponíveis, a definição da imagem e a qualidade do som serão no mínimo equivalentes aos projetos japoneses europeu. Isto é o que garante o Advanced Television Test Center (ATTC), laboratório particular que comanda as sessões de tortura às quais foram submetidos os cinco protótipos em questão.
O nipônico Muse resolveu participar da corrida, mas já foi avisado que não tem a menor chance, pois seu funcionamento não é digital e sim analógico. Restaram dois finalistas concebidos pela dupla General Instruments e Massachusetts Institute of Technology (MIT), um pelo fabricante de televisores Zenith e o gigante das telecomunicações AT&T, e um último que aglutina o David Sarnoff Institute of Technology, que inventou a televisão em cores, o canal de televisão NBC e as indústrias Philips e Thomson implantadas nos Estados Unidos.
Durante oito semanas, os finalistas transmitiram programas produzidos pelo próprio ATTC carregados de armadilhas: interferências, diferenças de luminosidade e coloração, ruidos no som. tudo criado por aparelhos de simulação. Depois de todas as etapas objetivas um grupo de especialistas no Canadá buscou defeitos subjetivos, passíveis de desinteressar o espectador. A FCC, que fará respeitar a escolha do laboratório de testes, bateu o martelo numa opção ousada, que vai empurrar as estações americanas a um futuro digital com data marcada: após a escolha da norma, as estações terão quinze anos para se converter totalmente à alta definição. Caso contrário, perderão suas concessões.  



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