COMO É O TRÁFICO NA FAVELA?
Os pontos de tráfico de drogas, conhecidos como "bocas", operam como empresas, escondidos em favelas e bairros pobres das grandes cidades. Os criminosos se organizam em uma hierarquia preocupada em garantir duas coisas: o abastecimento constante de cocaína, maconha e outros entorpecentes e o sistema de proteção contra a polícia ou quadrilhas rivais.
Para garantir a eficiência do negócio, são contratados diversos funcionários. O esquema de segurança e a acirrada disputa entre traficantes põem em risco a vida de compradores e moradores da favela. "Até chegar à boca, o usuário tem que andar na favela. Ele é avaliado e nem percebe. Se os seguranças pensarem que ele é um policial disfarçado, atiram", diz o delegado Carlos Roberto Alves de Andrade, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado do Departamento de Narcóticos de São Paulo.
CRIME ORGANIZADO
Vários funcionários estão envolvidos no esquema de tráfico
Alto Escalão - Traficantes de maior hierarquia ficam posicionados sobre lajes e barracos, onde podem se proteger melhor e atirar em caso de tentativa de invasão. Carregam fuzis, ideais para combates a longa distância.
Aviõezinhos - Os garotos que levam a droga da boca para o cliente são mais comuns no Rio de Janeiro. Em São Paulo, onde as favelas são planas, a distância entre o consumidor e a boca é pequena, e o serviço deles nem sempre é necessário.
A Boca - Geralmente fica perto de riachos, esgotos ou barrancos, para dificultar a chegada da polícia. Em uma mesma favela, podem existir várias bocas e nem toda a droga fica aqui. Barracos conhecidos como "paiol" são usados para armazenamento de grandes quantidades e da munição da quadrilha.
Gerente da Boca - É responsável pela chegada da droga e pela contratação do pessoal. É ele quem comanda toda a operação dentro da favela e, por isso, é sempre alguém de muita confiança do dono da boca.
Seguranças - A função deles é proteger os arredores da boca da polícia e de traficantes rivais. Eles usam armas próprias para combate a curta distância.
Enquanto isso....
O dono da "boca" não lida diretamente com a venda da droga. Ele comanda o tráfico de um barraco ou casa afastada, por meio dos gerentes. Bocas bem-sucedidas podem transformar traficantes em homens ricos e bem de vida.
Como a polícia deveria agir?
Uma investigação prévia e detalhada que inclua levantamento topográfico e informações de um policial à paisana. Policiais treinados em artes marciais e com preparo psicológico para enfrentar situações de risco sem necessidade de recorrer às armas de fogo. Um planejamento passo a passo da ação da favela. Nenhuma morte.
Segundo o delegado Clóvis Ferreira de Araújo, supervisor do GOE (Grupo de Operações Especiais), essa é uma fórmula ideal para derrubar uma boca.
Infelizmente, existem pouquíssimos grupos capacitados para esse tipo de ação no Brasil. Para se ter uma idéia, na grande São Paulo, onde a população é de 16 milhões de habitantes, o GOE conta apenas com 200 policiais com esse treinamento. "Sem preparação, fica difícil fazer uma incursão eficiente dentro de uma favela, onde o ambiente é hostil para quem não o conhece", diz Araújo.
INVASÃO IDEAL
Como agem os grupos mais bem treinados da polícia.
Formação do Grupo - A equipe que faz a invasão da boca de maior movimento reúne os policiais mais bem treinados. Ela é formada por seis homens organizados de forma que todos estejam protegidos em caso de ataque dos traficantes.
Policial Paisano - Disfarçado de morador da favela, o policial à paisana investiga a localização e o esquema de trabalho nas bocas, quem são os donos e seguranças e o tipo de armamento utilizado. Durante a ação, ele só participa se for necessário.
Entrando na boca - A polícia conta com um especialista em explosivos para o caso de os traficantes se esconderem nos barracos. Bombas de efeito moral, como gases pimenta ou lacrimogêneo, são usadas primeiro. Em último caso, são utilizados explosivos para arrombar portas, janelas e paredes.
Olho por olho - A troca de tiros só deve ocorrer se os traficantes começarem a atirar. "Eles decidem as armas que vamos usar: se querem fogo, usamos fogo", diz o delegado Clóvis de Araújo, do GOE. Armas não letais, que não colocam a vida de ninguém em risco, devem ser prioridade.
Negociador - O negociador entra em ação quando há algum refém. Ele tem que tentar convencer o bandido a soltar o prisioneiro sem que, para isso, haja necessidade de confronto.
Imobilização - Os policiais passam por um treinamento de artes marciais com enfoque na imobilização do inimigo. É uma mistura de várias lutas, como judô, jiu-jítsu, tae kwon do. Devem usar essas habilidades sempre que for possível evitar o uso de armas de fogo.
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