E SE... OS ESPANHÓIS TIVESSEM PERDIDO NA AMÉRICA?
Até Che Guevara se intrigou com a hipótese: no filme Diários de Motocicleta, ele se pergunta como as coisas poderiam ter sido sem os espanhóis. Para decepção de Che, liberdade e igualdade não seriam artigos comuns por aqui. A vantagem é que, sem capitalismo, não haveria miséria.
As projeções de uma América sem influências ocidentais não apontam um aglomerado de tribos indígenas rurais, mas também não revelam nenhuma civilização high tech.
O te rritório seria temperado com muitas línguas e culturas. Os astecas construiriam uma grande metrópole, mas manteriam vilarejos agrícolas no interior. Os incas seriam urbanos, mas suas cidades seriam menos monumentais.
As maiores mudanças em relação à América que conhecemos hoje seriam religiosas e sociais. As religiões nativas pregavam a igualdade de condições do ser humano em relação a animais e plantas. "A religião seria politeísta e cada deus teria uma função", diz o historiador e arqueólogo Klaus Hilbert, da PUC do Rio Grande do Sul. As formalidades das crenças cristãs dariam lugar ao esoterismo das pirâmides. O calendário também seria bem diferente. Os "séculos" aconteceriam a cada 52 anos e os anos teriam 18 meses de 20 dias cada um.
Sem o capitalismo, a economia funcionaria à base de um sistema de impostos - o Estado forneceria estradas, escolas e saneamento básico em troca de tributos. Mas isso não significa que as sociedades seriam totalmente igualitárias - elite e povão continuariam separados. "Os bens eram comunitários em algumas tribos, mas isso não acontecia em todas as nações indígenas", afirma a historiadora Janaína Amado, professora aposentada da Universidade de Brasília.
Na América não-espanhola, as mulheres teriam o mesmo status dos homens, com direito a ocupar cargos importantes. "A ótica de dominação masculina, em que a mulher só servia para a maternidade, foi trazida pelos espanhóis", afirma a historiadora Tânia Navarro Swain, da Universidade de Brasília.
A derrota dos espanhóis na América repercutiria até na Europa. "Não haveria mercantilismo, já que não haveria o ouro trazido das Américas. Conseqüentemente, não haveria revolução industrial", afirma Félix Sanches, historiador da PUC-SP. O mundo seria também menos globalizado: como a navegação não era o forte dos povos americanos, não haveria contato com a Europa.
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